Meu próximo celular

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Ontem meu telefone fez aquilo que todos os que usam smartphones mais temem.

Ele morreu.

Não é como se todos os dados dele fossem perdidos para sempre. Isso não aconteceu. Eu tenho back-ups feitos religiosamente. Meus Palms me ensinaram isso ao longo dos anos em que eu dependi deles.

Mas, mesmo com os arquivos de back-up, eu tenho um problema.

Decisões, decisões…

Existem algumas formas de se fazer back-ups do meu telefone, umas mais completas do que as outras.

Uma forma muito popular é sincronizar os contatos com o Outlook.

Mas esse jeito tem duas pegadinhas:

A primeira é que eu não uso Outlook. Se existe uma máquina Windows por aqui, é porque eu preciso usá-la para testar produtos com Windows e Internet Explorer e para usar o internet banking empresarial do Unibanco – que precisa de um plug-in que só funciona com Windows por, não riam, questões de segurança.

Imaginem… Um banco exigir Windows por questões de segurança… Mas esse artigo não é sobre isso.

A segunda pegadinha é que nem todos os dados do celular têm correspondentes no Outlook. Por exemplo – os rascunhos feitos como imagens no Jotter (o programa de anotações do celular) não têm equivalente no Outlook. Mensagens recebidas por SMS, idem. Fotos – mesma coisa. Ringtones, fundos-de-tela, jogos – todos ficam só no celular.

Qualquer coisa que o Outlook não entenda (e, diga-se a verdade, ele não entende muita coisa) fica de fora dos back-ups feitos assim.

E todos nós sabemos que back-ups parciais são apenas parcialmente bons.

A outra possibilidade de back-up é com o programa PC Suite (que vem junto com o telefone e pode ser baixado gratuitamente do site da Sony Ericsson).

Esse programa gera um arquivo com uma extensão própria dele, que guarda todos os dados do celular. Todos os contatos, todos os compromissos, SMSs, ringtones, joguinhos, fundos de tela, bookmarks no browser etc. Absolutamente tudo o que o seu celular era no momento do back-up, sua “alma”, fica arquivado. Com ele você pode voltar àquele dia antes de instalar aquele programa que você baixou de onde não devia e que, em vez de destravar o celular apagava seus contatos.

Mas, de novo, existe uma pegadinha:

Embora o formato desse arquivo seja bem simples (é um .zip com um arquivo de “índice” que diz que arquivo do back-up corresponde a que arquivo do telefone), os dados em si estão armazenados em um formato próprio do telefone.

E, até onde eu consegui descobrir, não existe nenhuma documentação pública sobre esse formato.

Resumindo: meu telefone está morto e os dados dele só podem ser acessados com ele (ou um irmão gêmeo) funcionando.

Resumo, parte 2: que m$@%& de back-up!

Herança

Antigamente, não havia muitas opções – se você trocasse, perdesse ou destruísse seu telefone, os números da agenda iriam com ele. Como os telefones nem tinham nomes associados aos números, isso não era um grande problema.

À medida em que os telefones foram ficando mais espertos (nomes, múltiplos telefones por contato, e-mails, agendas de compromissos), essas panes foram ficando cada vez mais desastrosas. Mudar de telefone e ter que digitar 100 contatos era, claramente, uma dor a ser evitada. À medida em que eles ficavam cada vez mais parecidos com Palms, ficava cada vez mais chato e complicado manter as agendas sincronizadas.

Aparelhos como o meu P-800 foram um passo gigantesco na direção certa – além de unificar as funções do celular e do Palm, eles permitiam que você passasse dados de um aparelho a outro por uma multitude de métodos diferentes. Meu próprio P-800 recebeu seus dados iniciais, via infravermelho, do meu Palm M-100, que os tinha recebido do meu Palm Professional pelo Palm Desktop, que serviu de caminho para uma série de Palms até um Pilot 5000, que recebeu sua carga inicial de uma agenda Casio, que transmitiu os arquivos em formato CSV por um cabo serial emprestado de um então colega do UOL.

Em um certo sentido, esse P-800 que morreu era a re-encarnação de uma agenda Casio.

O problema

Até outro dia, eu não havia percebido a seriedade da armadilha em que havia caído.

Em todas essas re-encarnações, os dados estavam disponíveis em um formato acessível. Em todos os momentos, os dados estavam visíveis e poderiam ser usados. O software Palm Desktop era extremamente amigável quando se falava da exportação dos dados para outros meios e ele facilitou muito a migração de um handheld para o seguinte. É por conta do Palm Desktop que um Treo 650 (me poupem de comentários sobre a versão com Windows Mobile) é um dos candidatos a sucessor do meu P-800.

O mesmo não é verdade com o PC Suite.

Eu posso restaurar meu telefone à sua condição anterior. Mas desde que eu tenha um P-800, 900, 910 ou, talvez, 990 à mão. Como o meu único P-800 morreu ontem e os seus descendentes, os 9×0 são muito difíceis de encontrar (e eu nem sei se quero mesmo um), meus dados estão lá, inacessíveis.

Não tão inacessíveis assim, na verdade. Eu já entendi bastante do formato de dados de vários dos arquivos lá dentro (pense em “angústia premonitória”). Eu posso escrever um programa que leia esses dados e os exporte em algum outro formato mentalmente são que possa ser então importado em outro aparelho. Também postei uma dúvida nos forums de desenvolvedores da Sony Ericsson para descobrir se alguém já passou por isso ou se existe, de fato, documentação desses formatos que eu possa ler.

Há duas conclusões possíveis:

  1. Eu posso recuperar, com muito trabalho, as informações que estavam nesse telefone.
  2. Eu posso, ao final do processo, transformar esse conhecimento em um produto.

Alguém aí precisa resgatar dados do PC Suite?

Dicas

Só uma: nunca, em hipótese alguma, se permita ficar na mesma situação que eu.

Eu tenho os conhecimentos, mas não tenho o tempo livre suficiente para extrair esses dados no prazo em que eu gostaria. É provável, portanto, que eu fique algum tempo sem eles. A recuperação desses dados terá que ser feita às custas de passeios e jantares. Embora possível, recuperá-los é, pra mim, bastante caro.

E para alguém sem os conhecimentos ou a inclinação técnica, os dados estariam irremediavelmente perdidos.

Foi por isso que eu decidi que faria uma rápida pesquisa no mercado por telefones que possam ser facilmente becapeados, repostos (por outro modelo, eventualmente) e restaurados em caso de catástrofe. Eu preciso de um telefone “aberto”, que me permita manipular e extrair diretamente seus dados e que me permita entendê-los e importá-los segundo algum formato documentado ou compreensível. Preciso que os dados sejam meus e que eles fiquem em meu poder todo o tempo.

Por hora, o que está “ganhando” é o Motorola A1200i. Não é por acaso. A Motorola se decidiu, algum tempo atrás, a investir em uma base aberta para seus telefones. O A1200i é, talvez, o representante mais notável de um celular que roda Linux. Como o P-800 foi em sua época, ele é um “super-celular” – um aparelho que serve para falar, trocar e-mails, SMSs e tirar fotografias e faz alguns truques espetaculares. Por exemplo, com ele você pode fotografar um cartão de visitas e ele vai reconhecer os campos (usando OCR) e criar uma entrada de agenda com os dados. Beeem legal.

Enquanto eu escrevo esse artigo, estou baixando perto de 30 megas de fontes do software dele. Não sei exatamente o que vou encontrar dentro, mas, se neles eu tiver as informações necessárias para resgatar meus dados em caso de emergência (ou para evitar uma), ele vai enfrentar os outros candidatos com uma imensa vantagem. [Webinsider]
.

Ricardo Bánffy (ricardo@dieblinkenlights.com) é engenheiro, desenvolvedor, palestrante e consultor.

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10 respostas

  1. Ricardo, andei lendo vários fóruns e uma crítica grande que todos fazem é quanto as baterias da Motorola. Parece que no A1200i você precisa fazer uma carga a cada 2 dias se você usa muito os recursos do aparelho.

  2. Caro Ricardo,

    Estamos em momentos bem parecidos… Se gostou do a1200 da Motorola, procure o E6. Tem todas as funções do E6 e ainda usa o cartão SD convencional com até 2GB. Foi lançado no mercado japonês, mas já pode ser comprado nos EUA e Europa. E pra deixar o Bill Gates e o Steve Jobs bravos, respectivamente não usa o windows e ainda lembra o i-phone. Visite o link http://direct.motorola.com/hellomoto/motorokre6/ e have fun.
    Forte abraço do Alessandro Saade

  3. Ola Ricardo, eu usei agendas Casio por muitos anos, migrei a 2 anos para um Palm e estou com Pocket PC a 2 meses. Trata-se de um HTC TyTN com WM5. Minhas migrações foram tranquilas. E estou lendo esse artigo e escrevendo a voce por intermedio do teclado deslizante deste fenomenal aparelho. Mas estou escrevendo principalmente para lhe dar um parecer sobre o Motorola Ming ou A1200 do qual sou um feliz usuario. Trata-se de um equipamento sensacional alem de muito bonito, extremamente facil de sincronizar e todos os seus arquivos adicionais podem ser arquivados sem compressao no card micro SD opcional. Extremamente estavel (mal de Linux… hehehe). Va em frente o Ming é uma escolha de futuro…!

  4. Ricardo, Rael,

    Eu migrei(*) de palm para windows mobile recentemente e a mudança não foi indolor… Os problemas começaram desde a troca do PalmDesktop pelo MS Outlook.

    Eu costumo dizer que tudo é feito para sincronizar com o MS Outlook, então, mais cedo ou mais tarde, você vai precisar dele.

    Ainda estou me adaptando ao novo paradigma, mas, no geral, digo que estou satisfeito.

    (*)http://enoches.blogspot.com/2007/02/sumariomudancapalmppc.html

  5. Rael,

    Mais ou menos.

    Eu cheguei a usar um IBM Workpad Z-50 (que hoje roda NetBSD – imagine: um subnotebook RISC com UNIX e 10 horas de bateria) por um tempo. Naquela época eu usava um produto – lógico, não lembro o nome – que sincronizava o Palm com o Outlook sem deixar de sincronizar o Palm Desktop (na verdade, ele sincronizava o Outlook e o Palm Desktop).

    Até onde eu sei, essa funcionalidade está embutida no pacote de software da Palm nos modelos profiças hoje em dia.

    Exceto pelas deficiências gritantes do PocketPC (excesso de toques para fazer qualquer coisa, nada no lugar certo e karma ruim), a mudança é indolor.

    Naturalmente, a MS não dá qualquer ajuda para você migrar na direção inversa.

  6. Depender do Outlook para sincronizar os dados do smartphone é roubada! hehe

    Eu tenho um Zire 71, e ainda bem que consigo sincronizar tudo o que tem nele sem depender de programas de terceiros…. muito embora, se eu mudar de Palm para um Pocket PC, com certeza terei q começar do zero 🙁

  7. Desde que eu estava na faculdade, e isso quer dizer há 15 anos atrás, quando ninguém tinha ouvido falar em software livre, eu defendia um modelo de especificações abertas.

    Na época, o que tinha eram XTs com Wordstar, e tínhamos problemas de compatibilidade entre versões do mesmo software, em especial de acentuação.

    Os problemas eram parecidos com o que vc descreve.

    Agora pense: a justiça brasileira é lenta às pampas. Quantos processos foram feitos em Wordstar ou coisa que o valha, e que hoje não pode ser exportado porque está num arquivo proprietário, de especificações fechadas?

    Se ao menos as especificações fossem abertas, mesmo após 15 anos alguém teria condições de escrever um filtro e trazer o documento de volta à vida, quer fosse em html ou para o openoffice.

    Mas, do jeito como estão, esses documentos morreram e hoje são apenas um esqueleto binário à espera de um arqueólogo polidor de bits que ainda precisa da pedra de Rosetta…

  8. Fantástico Ricardo!

    Enquanto muita gente se prende a perfumarias, você toca num ponto que passa despercebido pelos deslubrados da tecnologia: Aprisionamento tecnológico de soluções proprietárias!

    Excelente exposição!

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