Sobre meninos e lobos

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No finalzinho do século passado a DPZ montou sua ?estrutura digital?. Chamou essa nova empresa de ?DPZ.com? (fazer o quê, né?) e contratou para coordenar a operação o meu amigo Luli Radfahrer, um dos caras mais interessantes e inquietos do início da internet tropical.

Entre outras coisas, naquele momento, o Luli já tinha a experiência de ter escrito um bom livro sobre webdesign, fundado a Hipermídia, a Kropki e ter trabalhado na StarMedia em Nova Iorque. Ufa! Tudo isso construído em pouquíssimos anos como empreendedor do mundo web.

O Luli, que já conhecia bem a AG2, empresa que ajudei a criar e dirijo até hoje, decidiu nos chamar para trabalhar em alguns projetos específicos de clientes da DPZ.

Na primeira reunião, enquanto estávamos debatendo a forma e o modelo de trabalho, entrou na sala de reuniões o Dualib (o ?D? da DPZ) e, depois de nos cumprimentar com alguma deferência, perguntou:

? Vocês são os caras que entendem de internet, não?
? É, dizem que sim ? brinquei meio sem jeito.
? Puxa, mas onde estão as roupas e os cabelos coloridos?

Putz, não existiam roupas nem cabelos coloridos, éramos três meninos (eu nem tanto) engravatados com algumas idéias de internet corporativa na cabeça, muito conhecimento de tecnologia da informação, das ferramentas da Macromedia (óbvio) e dos principais conceitos de usabilidade!

Não lembro exatamente o que eu respondi ao Dualib, certamente uma bobagem qualquer adornada por um sorriso amarelo, mas percebi que ele esperava encontrar ali na sala de reunião ?meninos diferentes?. Talvez, quem sabe, sei lá… uma mistura do cantor Falcão com o Jimmy Nêutron.

– Idéias a mil!!!!

Apesar do meu amigo Luli e do seu inegável talento, comecei a duvidar do sucesso da DPZ na sua estratégia de criar um ?braço interativo?.

Logo depois, comprovamos que, a exemplo da DPZ, todas as outras grandes agências de propaganda brasileiras faziam movimentos similares com muito pouca intimidade com o ambiente digital. Resultado: todas gastaram uma enorme energia e uma boa grana montando e desmontando seus núcleos interativos, célula web, braços digitais, grupos de interatividade ou ?digitalizando toda a estrutura? (sic) o ambiente digital.

Mas nem tudo são espinhos, tudo estava muito agitado e no início desse processo (e dessa lambança toda) surge também uma grande novidade que renova as nossas amadoras esperanças de, inspirados nas agências interativas americanas, desenvolvermos um modelo brasileiro de agência digital ?full service? independente das grandes agências de publicidade.

Com investimentos do grupo Opportunity, de Daniel Dantas, e idealizada pela capacidade empreendedora, entre outros, do Pedro Cabral e do Nizan Guanaes (que depois deixou a sociedade), surge a Agência Click. Enfim, uma empresa de base tecnológica e que se propunha a ser a empresa de tecnologia mais criativa da internet brasileira.

Enquanto a Agência Click crescia, cresciam também os meninos da internet com ou sem cabelos e roupas coloridas. Ao entorno dos movimentos da Click várias outras agências digitais começaram a construir uma base referencial de clientes e ocupar espaço e, hoje, já exercem um papel importante na nova modelagem de negócios que a economia digital e globalizada vem assumindo no país.

No início do ano a Agência Click foi vendida à rede Isobar, do Aegis Group, por valores que podem chegar até 80 milhões de reais. O resultado disso, mais do que um excelente negócio para os sócios da empresa, que vêem nessa negociação o retorno para o investimento pessoal e financeiro, é a comprovação do acerto de apostar num modelo de negócios que se fundamenta em oferecer às grandes marcas toda a cadeia de desenvolvimento e gestão dos projetos de comunicação no ambiente digital, absolutamente alinhado com as tendências internacionais.

O modelo de agências digitais full-service é vencedor no mercado americano e na Europa e deve ter sucesso também no Brasil. Só para citar o mercado americano, além da Isobar, que comprou a Click, várias outras empresas, como a Digitas, Grey Digital, Razorfish, Agency.com e RMG Connect, dentro do mesmo modelo, em poucos anos, alcançaram um faturamento superior a 100.000 milhões de dólares e possuem todas uma operação que emprega mais de 500 profissionais, algumas mais de mil!

Nessa altura do campeonato não existem mais meninos, todos já perdemos a inocência e os próximos movimentos de mercado serão importantes para eleger os principais ?players? e definir as principais agências digitais do país.

Lembrando ?Sobre Meninos e Lobos? (2004) ? filmaço do Clint Eastwood que premiou o Sean Penn com o Oscar de melhor ator ?, diria que tenho excelentes lembranças dos tempos de menino, mas também a certeza de que, há bastante tempo e carregando nossas marcas, passamos dessa fase. Hoje, já somos todos lobos ou candidatos a lobos.

Lobos da internet brasileira. [Webinsider]

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Cesar Paz (cesar@ag2.com.br) é Board President na AG2 Nurun.

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5 respostas

  1. E ponham os cintos, porque a viagem pelo crescimento das agências digitais no Brasil vai ser muito interessante 🙂

  2. Achei interessante ver um pouco das histórias das agências digitais, mas faltou saber o que exatamente é o modelo de agências digitais full-service.

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