Card sorting não é tudo

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O método Card Sorting é usado para tentar identificar (ou aproximar) a navegação em um sistema interativo ao modelo mental do usuário.

Foi proposto em 1985 por Anter e outros pesquisadores (Multiple Sorting Tasks, no original) e já foi usado e abusado. Já teve até software para análise de dados (coisa que aliás fazia muito bem) e a aplicação da própria metodologia, numa versão dos pesquisadores da IBM Developer Works.

Hoje, quando a arquitetura da informação é uma especialização profissional concreta, o método Card Sorting tem sido bastante utilizado em empresas de maior porte (veículos de comunicação, agências de publicidade) e também em pequenos desenvolvedores.

É muito usado porque é simples e barato (é fácil convencer o cliente a pagar), envolve os usuários (tudo o que um desenvolvedor precisa) e eficaz (os resultados costumam ser bastante positivos).

Cartões de papel escritos, uma pequena sala tranqüila, um pesquisador e um usuário (ou um grupo de usuários, depende da ?versão? do Card Sorting que se queira aplicar) — é só o que se faz necessário para aplicação. A análise dos resultados é feita em uma planilha Excel, requer algumas horas de trabalho, algum conhecimento estatístico e só.

Aqui mesmo no Webinsider você vai encontrar alguns artigos sobre o método e não é preciso explicar muito. O objetivo deste artigo não é desmerecer o Card Sorting, mas talvez colocá-lo no seu devido lugar.

Sempre fui defensora das duas abordagens para a arquitetura da informação (Para traçar a Arquitetura de Informação, de 30/09/2003) e considero o Card Sorting um excelente método para elucidar questões de organização, formação e rotulagem de grupos de informação (abordagem bottom-up). Mas preocupa um pouco a popularidade que vem tomando.

Usuários não definem tudo

Primeiro, e mais grave, é importante frisar que a aplicação do Card Sorting junto a usuários reais ou potenciais, ainda que extremamente bem representados, não substitui a colaboração de cientistas da informação ou bibliotecários ou mesmo jornalistas nesta etapa.

O entendimento da “massaroca” de informação contida em um sistema interativo deve ser atribuído a quem é de direito. Designers ou mesmo arquitetos da informação (de maneira geral, mas isso depende da formação primária de um arquiteto da informação) não detêm o conhecimento sobre sistemas de organização e indexação de conteúdo. Usuários muito menos!

É preciso, principalmente nessa abordagem bottom-up, que a unidade da informação seja levada em consideração, para que o conteúdo seja organizado de maneira eternamente coerente. De forma que, no futuro, depois de dez anos de lançado o sistema, qualquer novo conteúdo possa ser armazenado nessa estrutura e nesse banco de dados de maneira lógica e inquestionável.

Não define a organização do site

O método Card Sorting é excelente para validar a organização da informação e nomenclatura utilizada para itens, mas não define a navegação do site.

Contribui para criar pacotes de informação, elucidando o modelo mental dos usuários na questão do relacionamento entre informações. Tem o mérito também de ajudar na definição de nomenclaturas. Mas não podemos esperar dos usuários comuns definições categóricas relacionadas ao agrupamento e nome de informações.

Não lida com a complexidade

Terceiro, pode ser bem difícil um Card Sorting de um sistema interativo… Com mais de 80 cartões, será que pessoas comuns conseguem se entender?

E por último, o método é bidimensional por natureza: não leva em conta as diversas dimensões que uma navegação sobre um conteúdo pode ter. Nem tão pouco as diversas pesquisas (websemântica) e funcionalidades (buscas) que temos atualmente.

O ser humano é ?preguiçoso? e procura sempre saídas “standard” para a solução de problemas, acredita a psicologia cognitiva. É assim que pensamos e graças a isso fazemos milhões de coisas ao mesmo tempo.

Os arquitetos da informação procuram soluções padrão que auxiliem na realização de tarefas, mas não devem abrir mão do envolvimento de outros profissionais, principalmente no que se refere ao conteúdo, a principal riqueza de um sistema.

Tentar resolver sozinho, ou mesmo com a ajuda apenas de pessoas comuns (usuários), a organização total do conteúdo de um sistema interativo, principalmente os maiores, pode fazer com que num futuro breve, quando novos documentos forem sendo anexados, a estrutura esteja caótica novamente. [Webinsider]

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Renata Zilse (renata@maisinterface.com.br) é designer com mestrado em design e arquitetura da informação.

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4 respostas

  1. Oi Dani
    O CardSorting realmente não é muito indicado para avaliar funcionalidades. Agrupamento delas e nomes dados a esses grupo, talvez.
    Sem conhecer bem o sistema que você lida, diria que vale a aplicação do método então para juntar itens afins e saber como as pessoas chamariam cada grupo desses.
    Mas é realmente necessário entender melhor pois existem outros métodos talvez mais apropriados.
    Abraço!

  2. Oi Renata, parabéns pelo artigo.

    Eu trabalho no setor de tecnologia da informação e até hoje nunca consegui aplicar o card sorting no desenvolvimento dos nossos sistemas.

    1º Trabalhamos em sprints, não temos a visão do todo e sim das partes.

    2º As vezes nem o próprio usuário (cliente) consegue hierarquizar as informações ou as funcionalidades que vamos disponibilizar dentro do sistema.

    Solução acabamos agrupando as funcionalidades de acordo com a maneira que elas se relacionam mas tenho percebido que no fim, mas isso não garante o sucesso da arquitetura informacional.

    O que fazer?

  3. Muito bom, o Fred (usabilidoido) comentou em uma palestra so o Card Sorting, achei a idéia interessante porém um pouco vaga.

    Artigo Interessante.

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