Sobre o formato e a execução do MobileCamp

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O MobileCamp aconteceu no sábado 13 de dezembro no Espaço Gafanhoto do Cazé, aqui em São Paulo. Foi um evento gratuito, mas fechado para convidados, e que teve a participação de 12 palestrantes das mais diversas áreas: arte, educação, marketing, TI e até direito (porque o celular também está revolucionando a vida dos advogados).

O plano original era ter as palestras na primeira parte do evento, de 10 às 12h, e fazer uma desconferência em seguida até as 15h, mas na prática a segunda parte não aconteceu. As palestras se estenderam e ficamos sem tempo. Mas quem foi, não reclamou, ao contrário.

A seguir vou registrar algumas considerações sobre o evento, para que outras pessoas possam construir outras ações a partir dos nossos erros e acertos.

1) Exclusivo para convidados: Uma das vantagens das desconferências é que quase não dá trabalho para organizar. Depois que você consegue o espaço, anuncia isso pela Rede e deixa a internet fazer o resto.

Acontece que as desconferências que eu participei acabaram atraindo muito mais ouvintes que participantes. E as sessões viravam na prática uma conferência com três ou quatro pessoas monopolizando o debate.

Procurei resolver isso limitando a participação e convidando apenas pessoas que tenham um interesse particular pelo assunto. Foi um trabalho de formiga de garimpar quem são as pessoas que adoram mexer e descobrir coisas no celular.

Dá muito trabalho formar essa rede e eu só consegui porque a Talk apoiou o evento e concordou que eu dedicasse uma parte do meu tempo para isso.

De todo modo, em função do que deu certo no final, estou tendendo a achar que esse super-cuidado com a formação da rede não é crucial para o sucesso do evento. Vou explicar o motivo no final do post.

2) Sem intervalo: Nas desconferências que eu participei, as pessoas vão chegando ao longo da manhã, daí saem para o almoço e vão chegando ao longo da tarde.

Isso é dispersivo. Na prática, poucas pessoas respeitam o horário e isso se torna um círculo vicioso: as discussões começam atrasadas, os mais interessados se desmotivam e no final do dia a maior parte já foi embora.

Para atacar esse problema, a Fabíola Amorim, gerente de projetos da Talk aqui em SP, propôs que servíssemos no começo do evento um café reforçado e que deixássemos à disposição coisinhas para comer e beber, de maneira que pudéssemos saltar o almoço.

Isso deu certo. Aliás, a idéia do coffee break não é novidade para quem organiza eventos profissionalmente. Uma versão barata no estilo “camp” teria os participantes levando, cada um, um pratinho ou uma bebida, para evitar a dispersão.

3) Mini-palestras: Por sugestão do Cazé, que introduziu a novidade no StartUp Camp, começamos o evento com 12 mini-palestras de 8 minutos cada.

Assim como provavelmente você está pensando, os palestrantes também acharam que oito minutos é pouco, mas, na verdade, como o próprio Cazé explicou, oito minutos é uma referência preventiva.

É comum o palestrante estourar o tempo. Em uma apresentação de 15 minutos, um caso ou curiosidade a mais já expande o tempo para 20 minutos e quando vamos ver, contando a transição de um palestrante para outro, cada apresentação leva 30, até 40 minutos.

Tendo oito minutos como meta, os palestrantes deste MobileCamp falaram em média em torno de 20 minutos, incluindo o tempo de armar e desarmar os laptops. A uma velocidade de três palestras por hora, deu certinho 12 palestrantes no prazo de quatro horas. (Não era esse o plano, mas funcionou.)

4) Diversidade: A idéia deste MobileCamp surgiu da minha vontade de aprender trocando idéias e experiências com pessoas e meu interesse particular é a utilização do celular para registrar, processar e disseminar conteúdo.

Acontece que ao propor a idéia para o Cazé e para o Pedro Markun, apareceram nomes de possíveis palestrantes que estavam realizando ações interessantes em outras frentes.

Rapidamente o mapa temático do evento se configurou incluindo artes (Paulo Hartmann, Lucas Bambozzi e Cláudio Bueno), educação (Nacho Duran e Wagner Merije), Negócios (Fábio Garrido e Breno Masi), Comunicação (Fernando Firmino e Eduardo Brandini) e Tecnologia (Bia Kunze e Luiz Paulo Rosa).

Existem muitas outras áreas descobrindo utilizações específicas para o celular e graças ao Fórum de Mídias Digitais e Sociais de Curitiba, onde estive na semana passada, encontrei a Josluza Fiorani, uma advogada capixaba que vem registrando suas experiências usando tecnologia aplicada ao trabalho dela como advogada.

E essas foram os palestrantes do evento.

5) Diálogos: Na prática, a mistura funcionou. Apesar da extensão do programa, a alternância de temas manteve cativa a atenção dos presentes. E quando alguém se cansava, saía, jogava conversa fora, comia ou bebia, e voltava quando quisesse.

Todas as palestras, à exceção da sobre utilização de celulares por advogados, tiveram confrontos de experiências.

Paulo Hartmann e Lucas Bambozzi trocaram farpas amigáveis sobre a importância de seus festivais, respectivamente o MobileFest e o Arte.Mov.

A visão militante e de ativista do Nacho Duran em relação a capacitar grupos carentes foi complementada pela do Wagner Merije, apresentando um projeto com objetivo semelhante, mas fundado em parcerias com o setor privado.

A thriller de aventura empreendedora do Breno Masi sobre a história do desbloqueio dos iPhones no Brasil contrastou com a visão racional e organizada do Fábio Garrido sobre o ecossistema que faz funcionar os leilões reversos pelo celular.

E a perspectiva do celular como ferramenta também foi explorada da perspectiva da Bia Kunze e Luiz Paulo Rosa, pendendo para o poder de fogo N95, e da perspectiva do Breno, enfatizando a simplicidade de uso do iPhone.

6) Envio de temas por SMS: Graças ao Fábio Garrido, pudemos experimentar a possibilidade de propor temas para discussão pelo celular.

A idéia original era substituir o processo de preenchimento da lousa para a proposição de temas de discussão, como acontece nas desconferências.

Nos camps que eu participei, a lousa vai sendo gradativamente abandonada, até virar um espelho da falta de unidade de interesses entre os participantes do evento.

Como já não teríamos almoço e contando que as palestras terminariam por volta de meio dia, imaginei que a proposição de temas por SMS ajudaria o coletivo a detectar previamente alguns grupos temáticos.

E assim, eu esperava, a vontade de ir embora depois das palestras se reduziria na medida em que os participantes descobririam desconhecidos com os quais compartilhavam dúvidas e curiosidades.

Não sobrou tempo para as desconferências, mas se tivéssemos tido a oportunidade, acho que provavelmente as pessoas se dispersariam.

Mas fiquei pensando se não seria interessante para o evento em si, se tivéssemos uma maneira de projetar em um telão uma nuvem de tags com esses SMSs. Acho que daria um efeito curioso dos participantes se reconhecendo e percebendo o interior da cabeça uns dos outros.

E mesmo para uma desconferência “clássica”, sem palestras, essa possibilidade serviria para os propositores de temas terem noção mais clara dos interesses coletivos e usariam essa referência para propor sessões de conversa.

Trocando em miudos: Se eu for organizar outros eventos como este, prentendo fazer da seguinte maneira:

a) Entrada livre – não condicionar a participação a convite. Dá muito trabalho e não garante volume de participação. Tendo mais infra-estrutura, talvez o melhor caminho seja cobrar para fazer a inscrição, o que valoriza o evento, e distribuir convites para pessoas-chave.

b) Sem intervalo – Manteria a prática de realizar o evento de uma vez, com duração de quatro a cinco horas, oferecendo um lanche rápido para não haver dispersão.

c) Mini-palestras – Isso também funcionou. A desconferência, se é que dá para chamar assim, aconteceu do lado de fora, com os palestrantes atraindo para si grupos de pessoas interessadas nos temas das palestras.

d) Diversidade – Manteria a proposta de trazer pessoas de áreas diferentes para o evento não ficar monótono e também manteria a sequência intercalando temas.

Alguma outras sugestão? [Webinsider]

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Juliano Spyer (www.julianospyer.com.br) é mestre pelo programa de antropologia digital da University College London e atua como consultor, pesquisador e palestrante. É autor de Conectado (Zahar, 2007), primeiro livro brasileiro sobre mídia social.

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3 respostas

  1. Juliano,

    Parabéns pelo evento e pela matéria. Pena eu não ter participado.. rs
    Acho que vc deve organizar outros eventos como esses. Algumas sugestões:

    Cobre o evento: isso nao só valoriza o seu trabalho como a palestra para a pessoa que está pagando. Mas não deixe de convidar pessoas. Assim vc garante que o evento tenha participação de pessoas conceituadas além dos palestrantes que poderão garantir ótimas discussões.

    A idéia da sugestão de temas por sms é excelente… sugiro vc incluir mais participações que os participantes possam interferir pelo celular e /ou receberem o conteúdo por ele, afinal a discussão era como o celeluar ou as tecnologias de comunicações estão interferindo na vida das pessoas.

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