Overload de informação

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Cris Dias publicou um texto que repercutiu bastante na Rede sobre o velho assunto do overload informativo. Digo “velho assunto” não por desdém, mas por resignação, por considerar o overload informativo uma espécie de carma ou, sei lá, uma condição neurológica.

Se a ansiedade decorrente do overload não comprometeu a minha capacidade de assimilação de conteúdo, o Cris diz que deixou de se preocupar com estar sempre por dentro de tudo, de ficar naquela pilha para ver o que se tuitou, e-mails novos, etc. Essa nova postura, ele explica, vem da observação de que as coisas realmente importantes são retuitadas, circulam… e acabam chegando para a gente.

Torço para que daqui para frente o Cris não se veja mais tendo crises de abstinência informativa, mas as minhas experiências com esse tipo de reprogramação de hábito sempre trouxeram, depois do alívio inicial, mais pressa.

Também evito me envolver nesse corre-corre de estar sempre por dentro, sempre lendo tudo e blogando ou tuitando primeiro. Acredito, como o Cris, que, ao invés de ser curador de informação, é mais bacana ser emissor original. (E quando penso em original, não quero dizer ficar tendo ideias novas, apenas interagir com a informação antes de repassá-la, acrescentar a ela um pouco de vivência própria.)

Mesmo tendo essa postura de evitar o hype, o buzz, me sinto sempre correndo. É tão frequente eu começar um e-mail falando que demorei a responder por causa da “correria” que nem sei porque continuo dando essa desculpa.

O que acontece – comigo, pelo menos – é que na medida em que consigo uma maneira de filtrar melhor a informação para ter mais tempo livre, logo esse tempo livre é re-empregado em alguma coisa mais interessante e meu tempo volta a ficar apertado e a correria recomeça, a mesma neura, a mesma sensação de não estar respirando direito.

A pegadinha está em que, ao filtrar o ruído, não ficamos (fico) com a mesma quantidade de sinal de antes, ela é ocupada por mais sinal, a um ponto em que a intensidade do sinal se torna o ruído.

É uma experiência complexa, que envolve escolhas profissionais, a própria área de atuação – entre os meus colegas, déficit de atenção é a norma, não a exceção -, o prazer pela descoberta e pelo aprendizado, enfim, como toda dependência, envolve prazer e vantagens e tem seu preço.

Me lembro de ter visto uma entrevista na TV do ator e diretor John Turturro na época do lançamento de um filme sobre um casal de meia idade. E registrei na memória uma coisa que ele disse: de como se costuma retratar o início do amor e do desafio que é contar uma história de amor anos depois dela ter começado.

Lembrei disso agora porque acho que vale para este caso. Sem desmerecer a reflexão do Cris, eu queria ouvir sobre a superação do overload informativo tempos depois, quando a experiência estiver decantada, assimilada, e isso nem é um desafio, é um interesse genuíno de ver como foi feito.

Enfim, era mais ou menos isso que eu queria dizer. Agora deixa eu voltar pra minha correria… [Webinsider]

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Juliano Spyer (www.julianospyer.com.br) é mestre pelo programa de antropologia digital da University College London e atua como consultor, pesquisador e palestrante. É autor de Conectado (Zahar, 2007), primeiro livro brasileiro sobre mídia social.

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