A Reforma de Lutero e a reforma do consumo

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Hoje, o que muda para valer no mundo 2.0 é a forma que consumimos. Estivemos ontem terminando de assistir juntos no curso da Facha o filme Lutero.

Dividimos a sessão em duas para termos bons debates.

Vimos algumas características da evolução das redes de conhecimento. E ainda constatei que a Reforma Protestante foi o resultado da passagem no ambiente de conhecimento da escrita do livro manuscrito (Livro 1.0) para o livro impresso (Livro 2.0).

O interessante a se observar nessa passagem, igual a que vivemos hoje, é que há uma luta básica pela liberdade. O novo ambiente de conhecimento na época de Lutero, basicamente, permitiu a ele e seus seguidores irem à Igreja com mais informações.

Note que no filme ele não quer uma nova Igreja, mas o direito de ler e interpretar as escrituras com liberdade.

Como não deixaram, quiseram, inclusive, colocá-lo na fogueira, surgiu a concorrência ? uma nova Igreja, com uma leitura diferenciada da mensagem de Jesus.

O que vemos naquela época, durante o filme, é basicamente a luta pelo direito da liberdade religiosa, que não havia. A Igreja queria ter o monopólio da conversa com Deus, que só falava Latim. 😉

Lutero, pelo menos no filme, não luta por uma nova Igreja, a princípio, mas ele quer ter o direito de:

  • ler as escrituras no original;
  • ter a sua própria interpretação;
  • escrever sobre o que ele acha sem que seja chamado de herege;
  • e publicar em alemão as suas conclusões.

Ou seja, basicamente a mudança na cabeça dele começa a partir do acesso aos livros manuscritos, que poucos podiam ler.

Ele passa, assim, a ?consumir? religião de uma outra maneira, em função do que leu e se informou. Assim, se libertou de todo o obscurantismo que a falta de informação impunha a ele e a todos os seus contemporâneos.

Nada mais didático para entendermos o mundo atual, a chegada da internet (Web 1.0) e a explosão da colaboração (Web 2.0).

Veja que já conquistamos vários novos direitos com a rede, que começam uma grande reforma na relação do fiel (consumidor) com a sua Igreja (fornecedor de produtos e serviços), vários deles grandes monopólios, a saber:

  • temos hoje informações sobre a empresa pela web, seus diferentes produtos, o atendimento disponível, dados do manual, etc;
  • podemos comparar preços entre eles (vide sites como Bomdefaro, Buscapé, etc?);
  • conseguimos ler o que outros consumidores acham daquele mesmo produto;
  • ler mais opiniões da mídia especializada sobre o mesmo produto, tanto em português, como em outros idiomas;
  • podemos nós mesmos, ao consumir, expressar nossa opinião;
  • baixamos, copiamos, distribuímos o que é digital;
  • conseguimos ainda vender e revender ao mercado (Mercado Livre e agora com a Estante Virtual);
  • e, por fim, podemos comprar fora da nossa cidade ou do país.

Esse conjunto de informações pré-consumo e ações no mercado como também fornecedores faz do consumidor 2.0 um outro tipo de cliente completamente diferente para sacar o cartão de crédito do bolso.

Em resumo:

Não consumimos mais com a informação da Idade Mídia (termo usado pelo Luli). Temos mais informação para consumir. Estamos aprendendo a consumir com a informação da Idade da Rede Colaborativa! Sabemos mais do que o próprio fornecedor (corretor, médico, professor), que não está muitas vezes pronto para esse mundo.

E quando temos mais informação, estamos abertos à revolta, pois há uma raiva latente acumulada da exploração que sofremos no ambiente de conhecimento anterior.

  • Temos raiva de termos sido obrigados a comprar um CD com 20 músicas, a um preço abusivo, quando queríamos uma só;
  • temos ódio de termos pago a cada nova versão do Windows ou do Office um preço absurdo por algo cheio de bugs;
  • não gostamos de pagar por algo quando existe similar mais barato e melhor;
  • e vemos, por exemplo, parlamentares e governantes menos 2.0 fazendo gato e sapato com o nosso suado dinheiro.

As revoltas latentes se transformam e se transformarão em atos de rebeldia presentes e futuros.

  • Inventamos o software livre;
  • trocamos músicas e filmes pela Web;
  • pesquisamos, pesquisamos, comentamos, comentamos, ajudamos aos outros a terem cada vez mais informação para não serem enganados;
  • fazemos blogs e comunidades independentes criticando marcas, empresas, produtos, serviços, etc.

Os políticos terão também o seu troco. É uma questão de tempo e de Luteros 2.0 que aparecerão. Pelo simples prazer de nos vingar, de ajudar, de melhorar, de mudar. O recente escândalo das passagens no Congresso é algo nessa direção. As informações foram disponibilizadas na rede e o pessoal começou a estudar o assunto. Abriu-se a caixa de Pandora.

O consumidor 2.0 quer Empresas, Congressos, Governos 2.0 num mundo 2.0. Ou seja, ele antes de comprar, vai se informar muito mais do que na Idade da Mídia. Estamos abrindo as caixas lacradas do ambiente anterior, como é típico na passagem de um ambiente de conhecimento para outro.

Nesses momentos, com a rede, ganhamos a troca (consumidor-consumidor) e o acesso à informação antes secreta, fechada a sete chaves. E muito, muito mais opções no mercado.

Assim, projetos 2.0 não são formas de enrolar o novo consumidor, mas devem ser voltados para uma mudança de atitude da empresa, que terá que se reformar, para lidar com esse novo homos_informadus_consumus_est.

Essa nova espécie é informada e informante como nunca fomos no passado. Se não cair essa ficha, é melhor nem passar perto do orelhão 2.0. Índio já não quer mais só apito, quer apitar também e bem alto!

Veja o filme, chegue às suas conclusões e comente.

[Webinsider]

.

Carlos Nepomuceno: Entender para agir, capacitar para inovar! Pesquisa, conteúdo, capacitação, futuro, inovação, estratégia.

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Mais lidas

7 respostas

  1. José, Lutero não tinha.

    Hoje, o que era algo espontâneo, invisível já nos parece mais claro.

    Estamos tomando consciência das mudanças nos ambientes de conhecimento. É uma nova teoria, como temos a dos planetas, em função do telescópio espacial.

    Ou da neurociência, em função, dos aparelhos de tomografia, entre outros.

    Hoje, temos mais noção, o que não quer dizer que vamos dominar, apenas complementar o lego.

    Amanhã, com novas evidências ou equipamentos podemos descobrir características cerebrais que mudem tudo que pensamos hoje.

    O que podemos fazer, agora, é olhar para trás para o hoje e especular…

    sim, com mais chance de errar menos do que no passado, mas certamente de errar.

    Ciência e isso.

    Concordas?

    abraços,

    Nepô.

  2. Não acho que lutero, ou qualquer outra pessoa naquela época, tinha uma idéia completa de todos os processos que estavam acontecendo. Como podemos ter certeza se as mudanças que estão em pleno curso terão este ou aquele desdobramento?

  3. Eu já tinha visto o filme. sendo religioso, sempre me interessei pelo tema. Porém, nunca tinha atentado para a similaridade com as tecnologias em nossa época. Achei de fato interessante que quanto mais colaborações individuais espontâneas mais beneficios coletivos se obtem.
    Há uma semana, na universidade, ouve um seminário falando sobre o futuro da web e falava sobre a internet 3.0. Dizia-se que esta tomaria muito mais o sentido (semântica) para a geração de informação que apenas a gramática (sintaxe).

  4. ESTOU ESCREVENDO MEU TCC ,SOBRE O TEMA A IMFORMATICA COM FERRAMENTA QUE VEIO PRA AUXILIAR O PROFESSOR DO ENSINO BASICO, ESTOU RECEBENDO UMA CERTA REJEIÇÃO JA PASSEI POR VARIOS ORIENTADORES E TODOS MUDAM MEU TEMA ,SUGERINDO QUE SEJA DIFICIL ESCREVER , MAS JA TRABALHEI EM UM PROJETO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES ONDE PUDE CONSTANSTATAR QUE A MAIORIA NÃO DOMINA A FERRAMENTA E NÃO VOU MUDAR MEU TEMA , GOSTARIA DE RECEBER OPINÃO DE UM MESTRE QUE PUDESSE ME AUXILIAR NESTE TEMA , ESTUDO NA FACULDADE SANTA IZILDINHA , SÃO PAULO ,AGRADEÇO E AGUARDO RESPOSTA.

  5. Caro,

    Excelente artigo! Parabéns!

    Há alguns dias os problemas com o Speedy me deixaram com a pulga atrás da orelha. Pois vejamos: não apenas usuários Speedy estão com contantes problemas de conexão banda larga; usuários de outros serviços também (Embratel, NET, etc.). Creio que está acontecendo alguma coisa (bem) grave nas telecomunicações no Brasil. E estão escondendo o jogo.

    Temos à disposição sites, blogs, microblogs, etc… Mas esbarraremos no ponto principal: como ter acesso a esta interatividade 2.0?

    Quero dizer o seguinte: ao comprar um computador para ter acesso às redes sociais 2.0 (ou iPhones, Blackberrys, Smartphones) o cidadão se sentirá lesado quando perceber que a finalidade não lhe é possível (integralmente). Ou, o que vale um belo laptop sem conexão à internet? Como comprar um carro sem motor ou sem rodas. Concorda?

  6. Herman,

    esse negócio de espalhar versões lembra muito a distribuição do Linux não?

    É interessante essa passagem do livro 1.0 para o 2.0 que se assemelha muito ao nosso momento atual, concordas,

    bons comentários, enriquecedores,

    grato,
    Nepomuceno

  7. Na verdade o consumismo deve mais ainda a Lutero: a Reforma Protestante aceitava que
    a realização de empréstimos fosse feita, desde que a juros baixos. A igreja católica
    não aprovava por causa de sua filosofia que privilegiava a pobreza (não dela, claro).

    Com a liberdade de empréstimos, comerciantes, futuros industriais aderiram em massa a
    nova religião permitindo assim a Revolução Industrial.

    Lutero foi mais um que tentou traduzir a bíblia, mas foi bem sucedido pelo apoio da burguesia alemã, que por sua vez, não via com bons olhos o escoamento de seus bens para Roma e nem a presença influente de agentes (o clero) deste mesmo país em suas terras, afetando política interna, etc.

    Houve outras tentativas de tradução, principalmente na inglaterra, mas, convenhamos, é uma tarefa hercúlea que necessita de suporte. Os alemães forma bem sucedidos na tarefa criando uma variação deles do cristianismo.

    E vale resaltar que Lutero não pregou a interpretação livre da Bíblia por todo mundo, mas que deveria ser feita pelo clero alemão e quem por eles fossem indicados. Porém nem ele conseguiu restringir este aspecto fazendo com que hoje existam centenas de variações protestantes.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *