Wave unifica as conversas

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O e-mail é a plataforma de comunicação online mais usada hoje, mas é uma ferramenta que existe há mais de 40 anos. O que aconteceria se pegássemos tudo o que foi desenvolvido nessas últimas décadas em termos de tecnologia de comunicação em rede para criar uma versão atual do e-mail? Vamos pegar blogs, fóruns, chat, wiki e o que mais existir por aí para montar alguma coisa que ocupe o lugar do e-mail.

O problema do e-mail é que ele copia informação. Quando você manda um e-mail para alguém, essa pessoa receberá no computador dela uma cópia do arquivo de texto que você escreveu. Nenhum problema nisso até você adicionar outros participantes na conversa e cada pessoa começar a ter versões diferentes de um monte de mensagens (des)organizadas umas sobre as outras, com comentários feitos em cores diferentes entre frases e parágrafos, muitas variedades de formatação e tudo mais que quem usa e-mail conhece bem.

O e-mail é inspirado na carta, que serve para a comunicação entre duas pessoas. Como torná-lo mais eficiente para conversas em rede? Esse é o desafio da equipe que desenvolve o Wave.

Informação unificada

A primeira coisa a fazer é parar de mandar cópias dos documentos e unificar esse arquivo de maneira que o que cada pessoa que participar da conversa (ou da onda) esteja vendo a mesma coisa. Alguém provavelmente está lendo agora e pensando que esse é o mesmo princípio dos wikis e de outras ferramentas de redação colaborativa como o GDocs do Google. Isso mesmo e essa descoberta nos conduz ao segundo insight importante sobre o Wave: que o princípio da comunicação em rede é o mesmo para tudo o que a gente usa.

O que é uma conversa via MSN? Você escreve e o outro recebe e responde. O que é um blog? Você publica para outras pessoas verem. O que é ter um perfil no Orkut? Um diálogo entre você e pessoas. E o que é um comentário deixado em um blog? Uma mensagem entre você e as pessoas que leram aquele texto. A mesma coisa vale para qualquer produto. Na raiz o que acontece são sempre conversas entre você e o mundo, sendo que esse mundo pode ser só você, uma pessoa, algumas poucas pessoas, muitas pessoas ou qualquer pessoa.

Canal unificado

Você nunca pensou que o conteúdo de uma mensagem enviada por e-mail poderia tranquilamente tornar-se um post? Ou que aquela conversa que você teve por Skype poderia render um podcast ou um videocast?

Basicamente você tem: 1) o conteúdo gerado pela interação – texto, audio, imagem, video; e 2) o grau de visibilidade que você quer dar a ele depois que estiver produzido – para um, vários, muitos ou conteúdo público.

O Google Wave serve para isso: unificar a comunicação, você passa a ter apenas um canal para transmitir e receber, e todo conteúdo gerado a partir dessa interação é unificado.

Resumindo

Uma conversa tem dois elementos – os participantes e a mensagem transmitida. O Wave atua nesses dois planos: unificar a conversa para que ela seja sempre clara e compreensível para todos e unificar o canal para que os participantes não desperdicem tanto tempo usando ferramentas diferentes para situações diferentes.

Não sei se é necessário mas, em todo o caso, vou dar exemplos. Você manda uma mensagem para alguém. Se ela não está conectada no momento, isso pode ser chamado “e-mail”, mas se ela está, passa a ser uma mensagem por comunicador instantâneo (MSN, GTalk, etc).

Acontece que, para cada tipo de conversa, temos um canal específico hoje. Para conversar individualmente temos e-mail e comunicador instantâneo; para escrever textos colaborativamente temos wikis; para compartilhar fotos temos Flickr e Picasa; para falar por voz temos Skype; para falar publicamente temos blogs e fóruns.

Então, por que não juntar isso tudo, reduzindo a quantidade de programas e serviços que, no fundo, apenas levam e trazem dados? Essa é a ambição do Google Wave, se tornar esse portal entre o indivíduo e o mundo.

Imagine o esforço que temos hoje para, por exemplo, participar de conversas dentro das áreas de comentários de blogs. A plataforma, nesse caso, é a Web. Você deixa o conteúdo lá e tem que ficar voltando para ver se alguém interagiu com você. Algumas soluções recentes, como o Intense Debate, que eu uso no NãoZero, reenviam a mensagem por e-mail de modo que eu não preciso ficar tentando acompanhar todas as frentes de discussão, mas, ainda assim, eu estou recebendo cópias dessas mensagens.

Pelo Google Wave, essas mensagens estão unificadas, então, participar de uma discussão em uma lista, participar de um fórum ou debater em uma área de comentários passam a ser a mesma coisa: a conversa está unificada no nível do documento (é o mesmo documento) e no nível do canal para receber e transmitir: tudo acontece a partir da mesma plataforma, no caso, o Google Wave. Eu não preciso ir a lugares diferentes para participar de conversas diferentes, as conversas estão unificadas e eu vou ao mesmo lugar para ter acesso a elas(!)

A diferença entre controlar e conduzir

É bem capaz que você esteja pensando no poder que isso conferiria a uma empresa e aí entra uma questão que não tem nada a ver com tecnologia. O e-mail se tornou a ferramenta mais usada do mundo por ele ter aparecido primeiro e também (muito importante) porque o protocolo dele é aberto, o que quer dizer que qualquer pessoas pode criar aplicativos para mandar e receber e-mails.

Se o Google estivesse produzindo alguma coisa que implicasse em que as pessoas e empresas ficassem subortinadas ao Google, isso criaria dois problemas: 1) alguns poderiam não quer migrar por questões de segurança ou; 2) outros poderiam não querer migrar para não ter que abrir mão daquilo que já estão acostumados.

Seria muito mais fácil criar o Wave como um ambiente fechado, de modo que você precisasse estar dentro do Google para usá-lo. Só pelas possibilidades e facilidades e pelo fato de já muitas pessoas estarem usando uma série de ferramentas e terem contas, o Google teria um número respeitável de usuários, mas o Google está dispostos a abrir mão da propriedade desse projeto para ir ainda mais longe e ter a oportunidade de – ao invés de ser dono do projeto – conduzir a conversa.

Nesse sentido esse projeto é histórico, porque pretende impactar a vida de milhares de pessoas e deverá fazer isso incorporando / exemplificando a mudança de paradigma trazida pela internet: compartilhar é melhor do que guardar – não por isso representar uma postura altruísta mas por isso ser o que atrairá mais pessoas para a conversa. Enquanto você fizer isso primeiro e com relevância, o foco estará em você.

Código aberto, interoperabilidade, internacionalidade

É por isso que o produto foi anunciado antes dele estar disponível publicamente, para “contaminar” a comunidade de desenvolvedores com a ideia do que se pode fazer com o Google Wave. É possível usar a plataforma fora dos servidores Google. É possível também desenvolver aplicativos para funcionar dentro da plataforma. É possível ainda misturar (mashupear) plataformas, por exemplo, levar o Twitter para dentro do Wave e usar os dois juntos. E é possível ainda interferir, no nível jurídico e no acordo que definirão as regras para a criação disso que o pessoal do Google Wave chama de “federação”, que é o acordo para que os diversos participantes aceitem interagir com o Google.

Um último detalhe que o produto ataca e aparentemente resolve e que não está no nível da tecnologia e sim do mundo como ele é ou está hoje, um mundo moldado pela existência de países e bolsões linguísticos. Não é o fato da internet existir que permitirá que pessoas que falam línguas diferentes possam se comunicar. Já existem soluções para isso, tradutores online e, por conta do Adote um Parágrafo, estou muito impressionado com o grau de efetividade dessas ferramentas

Mas, de novo, se eu tiver que copiar um e-mail e colar no tradutor e voltar, eu terei que precisar muito entender a conversa para me dar a esse trabalho. Agora, se isso fizer parte do mesmo ambiente, se eu puder conversar com alguém, ela na língua dela e eu na minha, sem precisar fazer malabarismos com o teclado e o mouse, o que de oportunidade isso abre na minha vida para comunicação e colaboração.

Resumo novamente

Na verdade e resumindo essa reflexão ao mínimo, enxugando os detalhes para chegar à essência, o que o Google está demonstrando com o Wave é que essas duas coisas são a mesma coisa.

Não existe conversa sem troca da mesma maneira como não existe colaboração sem troca. Pode ser uma conversa baseada em informações falsas ou imprecisas, e o resultado será marcado por essa característica da troca, mas continua sendo uma troca.

Falar com alguém na rua implica em troca, fazer uma reunião, idem, todo tipo de interação social implica em envio e recebimento de informação e finalmente deveremos gastar menos tempo pensando nos canais e dedicar mais tempo na qualidade do conteúdo em si.

Será um grande alívio e certamente é a direção a ser seguida. [Webinsider]

.

Juliano Spyer (www.julianospyer.com.br) é mestre pelo programa de antropologia digital da University College London e atua como consultor, pesquisador e palestrante. É autor de Conectado (Zahar, 2007), primeiro livro brasileiro sobre mídia social.

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11 respostas

  1. ou eu não entendi nada do texto. ou o que ele diz é muito óbvio, mas faz de um modo que parece complicado.
    mas, no que é novo, ele diz: olha, vão criar aí uma plataforma que unifica as diferentes formas de comunicação que foram sendo criadas na história da internet e que, na verdade, lidam com uma mesma coisa, que acabou se complicando (mesma coisa do ponto de vista do funcionamento da plataforma, mas não de seu usuário; avisem lá a turma de desenvolvedores).

    se complicando, porque o bicho homem tem a mania de inventar moda.
    como ocorreu com a língua. circunstâncias criaram várias, mas é só língua e a finalidade delas é a mesma. mas, suas peculiaridades dão nuances às coisas.

    ok. a comunicação universal, com a Internet, tende a uma coisa não nuançada mesmo (um tuiteiro brazuca típico, tuita a mesmas tuitices de um finlandês ou um jamaicano, em condições parecidas). então, segue-se a linha de produção…

    como a Internet, como foi com a língua e a imprensa. plataformas potencializam certas coisas.

    depois, a ver-se, as nuances poderão voltar a interessar. então, haverá espaço para um novo google. é a vida.

    um alerta. mecanismos vistos desde dentro e só de dentro dos próprios mecanismos só têm validade se são renovados. e o manipulador de mecanismos importa enquanto eles são renovados.
    quando temos nossas vidas pautadas pela novidade dos mecanismos.

    a não ser que os mecanismos saiam de seu âmbito exclusivo se traduzindo em realidades.
    com a língua e a imprensa, surgiu a literatura.
    seus mecanismos são bem outros…
    literatura é realidade?

  2. Como bem comentaram acima, com certeza trata-se de um momento histórico!

    As ferramentas iniciais evoluíram de uma ação comum, física, como o caso do e-mail como versão digital da carta.

    No entanto as formas de interação foram mudando, novas ferramentas surgindo! Hoje, para interagir corretamente com as pessoas (pelas diversas ferramentas existentes: blog, e-mail, twitter, MSN, etc) é necessário uma parafernália de logins, formatos, meios, etc. Tudo isto sem istantaneidade necessária e principalmente sem integração!

    Acredito que o WAVE é realmente um marco, uma iniciativa interessante no sentido de REPENSAR, REINVENTAR o que existe, os formatos que muitas vezes nem nos questionamos o porque são da forma que são.

    Como profissional de comunicação e marketing, vejo o WAVE como um novo step na evolução da comunicação interpessoal!!!

    E que venha o WAVE! E parabéns a GOOGLE pela iniciativa de já dar o pontapé inicial com o serviço em plataforma OPEN SOURCE!!! Afinal de contas, algo tão inovador, não poderia deixar de ser de todos!!!!

    Abs

  3. muito bom o artigo, apresenta muito bem as potencialidades do ambiente digital e explora as possibilidades da onda. Google wave, tô dentro.

  4. Ainda na espera dos convites públicos tenho ficado de olho no Google Wave, e uma aplicação que reunia de forma eficiente todos os meios de comunicação on-line que usamos hoje será muito bem vindo, juntamente com o conceito do Unite da Opera o compartilhamento e a interação a uma infinidade de meios e pessoas estárá a poucos cliques.

  5. Não vou mentir: eu ainda não entendi direito o que é o Google Wave. Mas me parece que é algo que se presta mais a comunicação aberta do que fechada – teremos que apelar para o email, ainda, para algo particular, ou o Wave vai permitir esse controle?

  6. Há uma mudança histórica em curso. E arrisco dizer que, devido ao ritmo cada vez acelerado da modernização (processos seculares de aceleração), é plenamente possível enxergarmos mudanças e tendências de mudança nos modos de ser e pensar humanos.

    A evolução das plataformas de comunicação, incluído seu caráter descentralizador, contribui muito para essas mudanças. Como Karl Marx assinalou já no século XIX, período de intenso desenvolvimento tecnológico e urbanização na Europa, os avanços técnicos e as transformações econômicas relacionadas, inevitavelmente entram em contradição com as formas sociais dominantes.

    Pergunto-me em que aspectos isso poderia contribuir para que emerja um pensamento que promova uma maior união pacífica entre as pessoas e em que medida contribui para o aumento do isolamento e do conflito.

    Gostaria de saber o que outras pessoas pensam a respeito disso.

  7. Estou namorando o Wave já há alguns dias e na fila de espera dos convites públicos, já que foram cedidas apenas 400 contas para os que comparecerem ao Google I/O.

    O jeito é esperar… Roendo as unhas, mas esperar… @:)

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