Um país se faz com homens, Kindles e iPads

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No mundo da Internet, nada se cria, tudo se amplia.

Se o jornal impresso vai acabar, se o livro como o conhecemos vai sumir das prateleiras das lojas, amanhã ou em 10, 20 ou 100 anos, não importa.

A questão é conceitual.

Afinal o que é um livro? Para o leitor o livro é conteúdo, é uma história, é uma viagem. Quando lemos um texto de Machado de Assis, um dos escritores preferidos do grande bibliófilo brasileiro José Mindlin, damos asas à nossa imaginação: assumimos a personalidade ímpar de Brás Cubas ao narrar a sua vida amorosa, enquanto acompanha seu próprio enterro; ou passeamos pelo Rio Colonial na pele de Helena.

O que importa é usar as palavras de grandes mestres da literatura para construir um filme em nossa mente. O que importa é usar a leitura para relaxar, estudar, aprender, sonhar.

Então que diferença faz se as letras estão dispostas em um pergaminho, um pedaço de papel ou uma tela eletrônica?

Infelizmente, em um país onde a maior parte da população é assalariada, como no Brasil, e o governo taxa com impostos os eletrônicos, para proteger o mercado nacional – que não fabrica leitores digitais – ainda está longe a hora em que vamos ouvir nossas autoridades bradando “um país se faz com homens e kindles!”.

Gostaria de ressaltar que respeito a opinião dos mais velhos. Admiro a persistência do empresário José Mindlin, que em 80 anos reuniu mais de 30 mil livros doados recentemente ao acervo da biblioteca da USP. Acho curioso ver um dos meus ídolos, o semiólogo e escritor italiano Umberto Eco, aos 78 anos dizer que eletrônicos duram 10 anos, livros 5 séculos.

“A conclusão é óbvia”, diz o artigo do brilhante Ubiratan Brasil, publicado em O Estado de S. Paulo, em março de 2010, após uma longa entrevista com Eco: “tal qual a roda, o livro é uma invenção consolidada, a ponto de as revoluções tecnológicas, anunciadas ou temidas, não terem como detê-lo”.

Mas o fato é que neste mesmo mês de março, meu blogueiro predileto lançou um livro nos Estados Unidos sobre Engajamento e sem o Kindle eu teria levado de 18 a 36 dias para receber o volume, pela Amazon. Sim, porque eu não acharia justo pagar US$ 29,99 de courier para apressar a entrega, uma vez que a obra custa US$ 16,47 na versão impressa e US$ 11,99 para o Kindle.

A sensação é indescritível, mas no momento que comecei a folhear a versão promocional do livro, na Internet, pude sentir na pele a exclusão digital. Engage or Die! – bradava a frase de abertura!

Encurralada, invés de engajada, corri atrás de um Kindle. E que delícia descobrir que a minha vista cansada não é mais problema pra leitura. Eu posso mudar o tamanho da letra a hora que eu quiser, colocar maior, mais gordinha, mais escura!

No dia seguinte, depois de me deliciar com o livro do mestre, abro meu LinkedIn e encontro no mural de um amigo: 50 mil iPads (concorrente direto do Kindle) vendidos em 2 horas – e a Apple nem tinha o produto pronto ainda. Os 50 mil consumidores compraram um sonho, de 500 dólares! [Webinsider]

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Fernanda Domingues (fernanda.domingues@fdcomunicacao.com.br), jornalista, é CEO da FD Comunicação.

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7 respostas

  1. Meus caros,seria muito bom que o governo incentivasse mais a cultura.Ler livros aliás é multicultura.Vou lhes dar um exemplo : na época da faculdade,tinha que comprar livros mas no final do período não se usava nem a metade do mesmo.Portanto se torna um desperdício ao estudante pois se poderia pagar apenas pelo conteúdo a ser lido.
    Esta peculiaridade soa mais com a questão ambiental pois se pouca árvores para outras destinações se poupando energia.
    Pra concluir,temos que pensar que o progresso tecnológico é inevitável e portanto, não vamos querer usar máquinas fotográficas a película novamente.
    As editoras do futuro não mais usarão o modo impresso pois isto atende perfeitamente o conceito empresarial de “JUSTING IN TIME” pois o conteúdo estará disponível em tempo real,logística “para quê”,racionalização de recursos naturais,enfim e atentendo a apelos ecológicos.

  2. Parabéns Fernanda novamente pelo ótimo tema. Para os que defendem os livros “impressos” e qualuqer tipo de impressão, devem esquecer das árvores necessárias para sua produção. A leitura digital além de td é ecológica. Huberto Eco q nos desculpe, + q as árvores durem séculos ou n sobriveremos no planeta. Viva a revolução das bibliotécas digitais portateis e ecológicas!

  3. Fernanda,

    Parabéns pelo texto, realmente um livro nos leva aos mais diversos cantos do mundo ou quem sabe espaço, e sendo assim, não importa onde foi disponibilizado para leitura, concordo plenamente contigo quando faz alusão ao crescimento do país com a frase: ” Um país se faz com homens, Kindles e iPads” , realmente, precisamos deixar de ser um bando de apertadores de parafusos, para criarmos produtos com valor agregado.

    Mas voltando aos livros, estou namorando um Kindle à tempos, e na próxima viagem aos EUA vou comprar, já testei no BlackBerry e no Mac, inclusive comprei livros para estas 2 versões, mas ainda sinto que falta o que comentas em seu texto, ou seja, poder aumentar a letra, escurecer clarear etc… sem perder a qualidade.

    Mais uma vez, parabéns pelo texto.

  4. Cara Fernanda, parabéns pelo texto. Tive uma sensação parecida, mas usando apenas o software Kindle no meu notebook. Estou lendo o ultimo livro do Nagel, e depois de alguns dias de uso do software, ainda um tanto tosco, pois não tem as mesmas funcionalidades do dispositivo, a sensação mais importante é a de poder estar lendo o livro que apenas foi lançado, sem espera e demora. O Kindle deveria estar isento de impostos, como dizes, pois serve apenas para a leitura de livros. Grande abraço!

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