O que José Saramago tem a nos ensinar?

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Esse texto está um pouco atrasado. Uma semana quase. Eu não ia escrever. Não gosto de homenagens póstumas. Mas como dizem que artistas não morrem, antes, vivem eternamente por meio de suas obras, decidi fazer algumas considerações sobre a o único ganhador do Nobel de Literatura que escrevia na mesma língua que eu. José Saramago.

Claro, seria altivez falar sobre seu estilo impecável. Ou mesmo de seu talento como literário. Meu desejo aqui é apenas tratar de uma das suas muitas afirmações polêmicas.

Foi numa entrevista para O Globo (migre.me/Rj86). O assunto era o livro “O caderno”, uma coletânea dos posts do blog do autor. O texto foi escrito pelo próprio, e enviado por e-mail. Provas suficientes de que Saramago não era contra a (r)evolução que a internet está propiciando, como podem afirmar alguns.

Saramago tinha blog. Visitava outros. Consultava o Google. Isso, com seus quase 90 anos. Um homem ligado às novas tecnologias. Mesmo não tendo uma visão positiva sobre algumas delas. Como é o caso do Twitter.

“Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido.”

Forte. Sem meios termos. Como tudo que escrevia. Uma afirmação que, inevitavelmente, gerou grande polêmica em terras lusitanas e tupiniquins – com o perdão dos clichês. Apenas a sentença “vamos descendo até o grunhido” tem mais de 15 mil citações no Google.

Talvez você já tenha se armado de argumentação plausível a fim de contrapor-se à opinião de Saramago. Eu sei que as redes sociais são tão ruins (ou boas) quanto às pessoas com quem você se relaciona. Também sei que pessoas inteligentes publicam coisas inteligentes, enquanto idiotas publicam bobagens. Esses dias até postei no meu twitter a famosa frase “a internet não deixa ninguém mais idiota, apenas potencializa a idiotice.”

Mas hoje eu gostaria que você olhasse esse tão famigerado assunto por outro ângulo.

Será mesmo que Saramago estava de todo errado? Será que não estamos voltando ao grunhido sem perceber? Frases cada vez mais curtas. Textos cada vez menores. Livros com 120 páginas. Músicas de três minutos. Filmes de pouco mais de uma hora.

Faça um teste. Desde que aderiu às redes sociais, você tem lido mais, ou o contrário? E a qualidade da informação que você tem consumido, melhorou ou piorou?

Talvez, graças às redes sociais, você esteja mais culto. Talvez você tenha descoberto novos artistas, aumentando suas referências. Se esse for o seu caso, ótimo! Mas, caso contrário, talvez esteja na hora de dar ouvidos a uma frase que é mais antiga na internet que o próprio twitter. “Desligue o computador e vá ler um livro.”

Eu recomendo algum do brilhante José Saramago. [Webinsider]

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Fernando Luz é redator publicitário, escreve no blog Fernandoluz.com e no Twitter @fernandoluz.

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7 respostas

  1. A inspiração de Saramago nos faz acreditar e nos remeter a um tempo que certamente ainda indagamos: o da inspiração pela própria vontade.
    Existe um degrau..sutil, mas linear ela busca do silêncio e da criatividade de raciocionar.
    Um mestre como tão poucos, arrisco a dizer uníssono.

    Parabéns pelo texto, crítica construtiva e acima de tudo ímpeto pela clareza totalmente acertiva.

    Abraços,
    Daniela

  2. Parabéns pelo texto!

    percebi que eu estou lendo mais…confesso que não tenho muita paciência para usar twitter, acho chato ter que atualizar algo com frequencia,parece q toma muito tempo..rs..entretanto quem o usa,costuma falar bem!!

  3. Quando lí o título do artigo só consegi imaginar duas coisas… Radicalismo a favor da internet ou uma homenagem repleta de clichês e sem conteúdo.

    Mas o que encontrei aqui foi totalmente diferente um texto lúcido em bem resolvido, que aprofunda tanto a visão que temos das redes sociais quanto do próprio autor.

    Muito bom!

  4. Na minha opinião, tudo isso tem muito e ver com a sobrecarga de informação que chega a cada um de nós, hoje em dia. Principalmente quando se trata de internet.

    É difícil arranjar tempo para assistir a um vídeo de 30 minutos na web, porque você tem 200 outros de 5 minutos para ver.

    Ao contrário, quando você se depara com um conteúdo rápido e curto, como uma mensagem de 140 caracteres, é mais fácil tomar a velha decisão: “Será que vale a pena ler isso? Será que não vou perder meu tempo?”

    O que não chega a ser um problema, desde que você não deixe a dinâmica de uma simples ferramenta como o Twitter tomar conta da sua vida.

    Sempre vai ser interessante ver um bom filme, mesmo que ele tenha 3 horas de duração. Nunca será perda de tempo ler seus autores preferidos, mesmo que eles escrevam livros de 800 páginas.

  5. Parabéns Fernando. Mais um texto excelente.

    Pra encurtar, sou a favor do twitter. Mas principalmente da leitura de um bom livro.

    A frase acima tem menos de 140 caracteres? (…)
    Certas coisas em excesso são maléficas. Outras, alienantes.

  6. Ótimo texto!
    Concordo em partes com a afirmação do Saramago, mas não vou me alongar sobre isso. Apenas refleti aqui quando você escreveu: “Faça um teste. Desde que aderiu às redes sociais, você tem lido mais, ou o contrário?”

    Relutei pra entrar no twitter pois acho ridículo o conceito do “o quê você está fazendo”. Mas quando percebi seu poder para espalhar conteúdos interessantes e trazer ótimas referências acabei cedendo.

    Enfim, sou à favor do twitter assim como sou à favor de um telegrama.

  7. Muito lúcido o artigo, gostei demais. Eu gosto de pensar que, diante de tantas possibilidades abertas, estamos vivendo uma época de extremos, de “grunhidos” para depois acharmos um equilíbrio. Mas essa é uma questão na qual eu penso frequentemente.

    Inclusive escrevi um post pra o blog GPS/Mappa que está relacionado ao assunto(http://www.mappa.etc.br/gps/?p=791) e criei um blog que é um projeto pessoal para ler mais livros (o Menos um na estante) e ao mesmo tempo um espaço para compartilhar essa disciplina para manter esse hábito tão valioso que estamos deixando de lado. E preciso incluir Saramago na lista.

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