O caso do consultor obsessivo compulsivo

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Trabalho como consultor para grandes empresas, associações setoriais e órgãos públicos há alguns anos. Contratado muitas vezes para reunir informações estratégicas e traçar pareceres (por vezes salpicados de críticas e ressalvas) com o objetivo de melhorar processos e produtos.

Como em muitas profissões, nas quais as atividades têm que ser exercidas durante as 24 horas do dia (policiais, médicos, etc.), a prática de consultoria pode virar uma obsessão.

Às vezes, por solidariedade ao trabalhador da economia informal, para tornar o mundo melhor ou por pura compulsão, começa-se a dar palpite em tudo.

Na frente do teatro movimentado, vendo um único vendedor de pipocas comercializando seu produto a R$ 1,00 , explico a ele que pela exclusividade temporária de mercado, pelo valor percebido pelo público-alvo que muitas vezes está acostumado a pagar valor oito vezes maior pelo produto e que pelo valor médio cobrado por outros profissionais autônomos com equivalente grau de escolaridade por hora de trabalho, ele poderia cobrar pelo menos o dobro.

Na lanchonete do aeroporto pego o cardápio escrito “Inglês” na capa e acrescento um “English”. Afinal, se o cardápio é para falantes de Inglês…

Na pequena academia de meu prédio, triste com a bagunça dos pesos deixados por meus vizinhos, implementei vertentes do sistema japonês 5S (pautado pela busca por organização), espalhando etiquetas com números para se ter uma referência de onde guardar os materiais.

Vou ao Shopping e alerto a gerente da loja de luxo que “prescisa-se (sic) de vendedores” está grafado incorretamente, podendo ocasionar substanciais perdas de imagem junto às suas consumidoras.

Fora as caminhadas pelas ruas de Brasília, quando cato o lixo espalhado pelo chão, ou as dezenas de e-mails que recebo com erros grosseiros de português que a simples verificação em um editor de texto (como faço com freqüência) já teria poupado o remetente de passar vergonha.

Neste último caso, muitas vezes contenho minhas críticas.

Em recente viagem à Costa Oeste dos EUA, percebi que as coisas lá funcionam melhor e são mais profissionalizadas. Quando se analisa em termos comparados, percebe-se que o Brasil já avançou muito, estando à frente de centenas de nações, mas ainda muito aquém de outros países, no aspecto turístico, por exemplo.

Ao refletir sobre Brasília, me lembro que os pontos de assistência ao turista simplesmente não funcionam. E que o elevador da Torre de TV está sempre quebrado. Por que não se cobra R$ 3,00 de cada visitante, gera-se empregos formais e se mantém este importante ponto turístico ativo?

Como bom ensaio de embelezamento da cidade para a Copa do Mundo 2014, finalizo dando uma sugestão para o Banco do Brasil: reformem a Galeria dos Estados (situada no “coração” da Capital Federal, para os não-residentes na cidade).

Como assim? Peguem parte das verbas aplicadas em outdoors e anúncios em revistas e TVs e reformem as calçadas, consertem o relógio há décadas quebrado, coloquem novas lixeiras e no final uma placa de bronze com os dizeres: “Presente do Banco do Brasil para Brasília”.

Será um projeto com impacto socioambiental com grande visibilidade e com retorno de imagem superior ao que estamos habituados ou cansados de ver. Prestar-se-á grande serviço de utilidade pública para a capital do Brasil, brasilienses, candangos, turistas e para os milhares de funcionários do Banco do Brasil que lá transitam diariamente. [Webinsider]

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Marcelo Sicoli (contact@enterbrazil.com) é professor de marketing internacional e gerente-executivo da Enterbrazil Consultoria.

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18 respostas

  1. Fala Marcelo,
    sempre leio e ouço dentro do BB sobre responsabilidade socio ambiental. A reforma da galeria dos estados no moldes sugeridos seria uma excelente aplicação dessa responsabilidade. Seria um presentão para todos que ali transitam e a empresa teria visibilidade positiva diante da sociedade. O BB pretende se tornar o maior banco do país e ações de responsabilidade socio ambiental devem ter prioridade nessa meta.
    Att.
    Rafael.

  2. Beleza de artigo, Marcelo. Eu também tenho esse TOC e, por isso, me identifiquei perfeitamente com você. Sugiro a criação de um site de consultoria pro bono, visando ao aumento do bem-estar da sociedade. Parabéns!

  3. Parabéns …. O mundo muda quando agente muda…
    não sei de quem é essa frase , mas a nossa parte tem que ser feita …. Bjs

  4. Parabéns pela crônica. Deve ser duro ver tantas falhas no dia-a-dia e se segurar para não propor melhorias. Aqui no Rio, vemos também muita falta de profissionalismo nos serviços prestados. Principalmente atrasos, sendo que sempre o trânsito é o culpado…

  5. Parabéns pelo artigo!
    Conseguiu externar bem essa sua compulsão obsessiva por consultoria. E quando fala sobre a torre de TV em Brasília, faz-me recordar como é triste trazer um familiar para conhecer a capital Federal e em alguns pontos turísticos ter grandes decepções!!!

  6. Um dos piores textos que já li. Ainda vive imerso nas trevas da arrogância linguística e, pior, passa a mensagem daquele típico empresário se limita à exploração das infinitas possibilidades de lucro, como se todos tivessem a obrigação de agir como ele.

    Se seu ego permitir que este comentário seja publicado, o que acredito ser bem improvável, já adianto meus parabéns a você, Marcelo.

  7. Interessante seu ponto de vista. Entretanto, causou-me surpresa um Gerente Executivo da Enterbrazil Consultoria, seja lá o que isso quer dizer, ser ao mesmo tempo funcionário do BB. Acho que alguma coisa tá errada, não?

  8. Marcelo, parabéns pelo texto.
    Um visão muito detalhada de coisas realmente simples. Quando mencionou a torre de TV vc me fez recordar de um comentário que fiz na última e na penúltima vez que estive na torre. Aquele elevador raramente funciona.
    Se a copa será aqui, precisamos de grande mudanças.

  9. O pior é quando você não é consultor (ainda) e faz grande parte dessas coisas.
    Mas o mais contraditório do Brasil é ver um país tão bonito com pouquíssima (ou nenhuma) estrutura para o turismo. Fico imaginando os gringos na copa no ponto de ônibus, durante a copa, perguntando onde estaria a tabela de horário de ônibus…ou lutando nos supermercados/rodoviárias com atendentes que mal sabem português. Por quê, né?
    ótimo texto!

  10. Marcelo, o artigo está sensacional.
    Essa coisa de querer “mudar o mundo” realmente é difícil, sei pelo que você passa.
    Abraço e parabéns!

  11. Boa Marcelo! Eu sofro desse mesmo problema. Uma vez fui ao Corrientes 348 e vi um vinho que custava R$ 30,00 a meia garrafa e R$ 65,00 a garrafa inteira. Chamei a gerente e comecei a argumentar que aquilo estava incorreto, que ela precisava corrigir etc. E ela: “moço, o senhor vai ou não vai querer o vinho?”. É difícil….

  12. Excelente texto.
    Vou tentar avisar ao Banco do Brasil… mas acho que ao mesmo tempo forte, imponente, inovador e rico, o BB é impotente e preso a lei 8666 quando conveniente

  13. Marcelo, seu texto está ótimo, divertidíssimo, ainda mais para quem tem o mesmo vício-consultor que você. Para não sofrer crise de abstinência dá para ir muito além da fila do teatro ou de um cardápio: é só olhar em volta! Enquanto algumas (muitas) empresas quiserem economizar uns trocados e usar amadores/curiosos na hora de pensar em comunicação, marketing, organização, TI etc, viciados como nós certamente terão muito com o que se divertir. Espero que o recado leve e bem humorado, mas muito bem embasado, chegue aos olhos e ouvidos do Banco do Brasil. Abração!

  14. Olá Marcelo,

    Oportuno seu texto, já que estava discutindo este assunto alguns dias atrás. Também trabalho como Consultor, e me vi obcecado com objetividade. Percebi que minha paciência com divagações e “rodeios” estava mínima; queria sempre ir direto ao ponto, resolver e não perder tempo. Teve até um caso engraçado em uma instituição que atuava: implantamos uma ferramenta nova e o funcionário da organização, que era meu par, ainda não tinha aprendido a trabalhar nela. Ele disse “Poxa, preciso aprender a mexer na ferramenta”, enquanto eu respondi “Ela está no seu computador, é só abrir”.

    A tolerância deve fazer parte do trabalho do Consultor, é importante na postura que este deve ter, mas que não vire conivência.

    Grande abraço,
    Giovanni Giazzon

  15. Rapaz, sei BEM o que você sente ao ver oportunidades para prestar “consultoria” em todos os lugares. Principalmente em Brasília onde sobram servidores públicos e faltam empresários, administradores e empreendedores.

    Muito bom o seu artigo, parabéns!

  16. Parabens pelo artigo. No Brasil há muito a ser melhorado realmente, seja em termos de infraestrutura, turismo e os cliches Saude,educação e segurança. Os brasileiros tem que adotar uma postura mais proativa e critica em relação a seus governantes e país.

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