A mudança mais radical que estamos enfrentando

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Se cada um soubesse da intimidade sexual dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém.

Nelson Rodrigues, da minha coleção de frases.

Falta uma peça no quebra-cabeças para a compreensão do mundo moderno para se entender aonde estamos e para onde vamos pós-internet.

Há uma crença de que o ser humano é bom por natureza. A ideia cristã que todos podem escolher entre o bem e o mal e tendem para o bem, pode não ser viável diante da realidade, que demonstra o contrário.

Freud

Freud no livro “O futuro de uma ilusão” sentenciava que:

Todo indivíduo é virtualmente inimigo da civilização.

Assim, a história humana pode ser feita através de uma nova ótica. Do controle social sobre os homens. E nisso entra o controle e o descontrole da informação.

Há relação direta entre o que somos e pensamos, em função do que os outros podem saber sobre nós e a capacidade da sociedade em punir nossos atos que vão contra o coletivo.

Ou seja, somos regulados pelos outros no que fazemos, falamos e, em última instância, agimos.

Se formos filmados o dia todo, não faríamos determinadas coisas que fazemos. Assim, quanto mais filmados formos, mais vamos mudar a nossa maneira de estar no mundo. Concordas?

Ou vamos tentar arranjar formas de fugir das câmaras. (De qualquer forma, seremos afetados por elas.)

Controle social

Todo o setor produtivo (chamado negócios), assim como toda a sociedade, está fortemente baseado no controle da informação, ou no controle das câmaras e de quem pode filmar o quê.

Se há centralização na filmagem, controlo quem filma. Se há uma ruptura na filmagem, tenho que mudar minha maneira de ser, pois outros vão filmar e divulgar o que faço. O que antes não era possível!

Assim, uma mudança no controle da informação altera como a sociedade age, fala e pensa. A tendência humana para o “pecado” para passar por cima das regras é um fato corrente. O que garante que tais “pecados” não ocorram é justamente o controle social.

O controle social é feito a partir da menor ou maior transparência da sociedade. Portanto, pode-se dizer que os negócios e a sociedade são regulados pelo controle social e quanto mais houver transparência, mais terão que prestar conta para a sociedade e mais éticos terão que ser, ou parecer ser.

A revolução informacional da Internet basicamente retirou da sociedade um tampão de determinada sombra, só possível pelo poder centralizado da Idade Mídia.

Os negócios das empresas (e os atos sociais dos governantes) eram feitos contando com a sombra que a Grande Mídia projetava sobre seus atos.

Os pecados – que sempre vão existir – eram escondidos e a “regra do jogo” permitia coisas, maneiras de pensar e agir, um status quo compatível com determinado nível de sombra.

Sem a sombra passada, cria-se outro ambiente social. Não é comum pensarmos nessa reengenharia, mas ela é bastante interessante para efeito da compreensão da passagem da sociedade pré e pós Internet.

Não existe ser humano bom ou ruim, mas seres humanos regulados pela capacidade de serem descobertos e punidos pela sociedade, por cometerem ações que sejam consideradas danosas para o coletivo.

Assim, radicalmente muda uma sociedade – e todos os seus componentes – quando temos uma mudança radical na sombra que protegia determinados atos.

Há, na verdade, hoje uma reestruturação social para se adaptar a esse novo período de menos sombra, como ocorreu com a chegada do livro impresso, há 550 anos, que solapou o poder obscuro dos reis (escolhidos diretos por Deus) e da Igreja (que confirmava esse norma).

Uma revolução da informação traz, no fundo, uma mudança na sombra e altera toda a maneira da sociedade se comportar.

É a explicação que encontro para as revoluções que ocorreram depois da chegada do livro impresso (francesa, americana, industrial, russa), pois estava se compatibilizando a “velha sombra” com a “nova sombra”.

Coisas que eram feitas no período da sombra da Idade Mídia (rádio e tevê) também não poderão ser feitas mais na era dos youtubes da Idade Digital.

Esta é a semente do Capitalismo 2.0 e da Civilização 2.0, que obriga a mudar pelo perfil da nova sombra.

Revoluções virão!

Quando falamos em projetos 2.0, na verdade, estamos nos referindo basicamente a um ajuste entre uma maneira de pensar e agir dentro da sombra 1.0, para esse novo momento, da sombra 2.0, que também existe, porém com espaço mais reduzido.

Um ajuste

As sombras produzem, mais do que tudo, maneiras de pensar, pois o que se podia fazer antes não se pode mais e, portanto, eu adoto essa nova conduta como sendo minha.

Deixando de ser algo que faço por opção, mas por falta dela.

Obviamente que pessoas, grupos e organizações que já agiam no dia-a-dia como se não houvesse aquela sombra saem na frente. São aqueles que são honestos e éticos, independente das câmeras, que são a exceção para justificar a regra, pois sim existem, porém raros.

(Ser ético, podendo se esconder na sombra é exemplar.) Porém, as outras que não seguiam essa norma, por que não era obrigatório, agora passam a ter que segui-la.

Essa é a mudança mais radical que estamos enfrentando na passagem da Idade Mídia para a Idade Digital.

Mudanças de conceitos e atitudes, a partir da nova sombra 2.0.

O que nos leva a pensar que as melhorias nas sociedades humanas não eram ou são regidas por “evolução humana voluntária”, mas reguladas pelas sombras que – ao longo dos séculos foram diminuindo, em função de novas mídias, que nos foram obrigando a ser menos “pecadores”.

Concordas?

PS – a sombra 2.0 não vem no mundo à toa, aparece, em função do crescimento populacional que precisa de mais espaço para inovar e alimentar de forma criativa 7 bilhões de almas. Ou seja, quanto mais formos, menos pecadores teremos que ser, pois mais gente significa menos espaço para ir contra o coletivo.

Este texto marca a passagem da minha percepção que já vinha desenvolvendo da relação de sombra e luz. O que há de novo é o conceito freudiano de que o homem é inimigo da sociedade.

O que o faz seguir a norma é a capacidade da sociedade de contê-lo, o que faz o link com o controle da informação. Se muda o controle, o que o humano fazia de um jeito, passa a fazer de outro, por falta de opção. Nova etapa nas reflexões 2.0: Freud era uma peça do quebra-cabeças que faltava. [Webinsider]

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4 respostas

  1. Esse “controle” sempre existiu, e era muito mais forte no passado porque vivíamos na mesma vila pequena que todo mundo, “vigiados” pelo padre (que ainda tinha o privilégio de saber sobre a nossa sombra), pelo delegado, pelo prefeito, pelos vizinhos, pelos professores e pelos coronéis que tínhamos que pedir a benção.
    Ai de alguém se não seguisse a cultura, a religião, a moralidade da grande maioria, uma grande fábrica de mentiras. Tínhamos de ser um reloginho agindo no mesmo passo acertado dos outros, seguindo-os.
    Não vejo relação disso com a internet nos tempos de hoje, muito pelo contrário, qualquer um pode usar as ferramentas na internet para exercer o seu livre direito de se expressar e de ser o que se é, sem que ninguém saiba quem realmente é aquele fulano. Mais, as grandes cidades nos tornam invísiveis uns aos outros, ou seja, podemos, sim, sermos “eus mesmos” sem estarmos atrelados ao pensamento “o que os vizinhos vão pensar”. Nas grandes cidades, muitos oomportamentos “sombras”, escorjados pela sociedade moral que se vigorava no passado, puderam sair das tocas e viver as suas vidas naturalmente, os tempos necessariamente são outros nos países dito democráticos.
    Quem agora nos rastreia? O cartão de crédito, que sabe nosso perfil de consumo, mas ele sabe para ganhar dinheiro, não para fofocar aos outros nem nos julgar nem nos oprimir. Quem sabe da gente também é a Google, que pelas nossas navegadas vai usar um algoritmo para ajuda-los a saber tendências de comportamento e de interesse das pessoas, com o fim de sair na frente ofertando produtos e serviços e ganhando sua recompensa por isso, não é para nos oprimir. Não vejo nenhum mal nisso, pois o fim não é controlar, mas ajudar a prestar a nós um serviço melhor, sem empurrar nada.
    As câmeras? Como se imagina, a grande maioria não é mal intencionada, não quer furtar, para essas pessoas as câmeras apenas marcam presença. A câmera não me inibe no meu jeito natural de me locomover ou de agir.
    O mal que vejo, ainda não realizado mas uma possibilidade, é alguém mal intencionado, com acesso a alta tecnologia, câmeras e rastreamento de informações, usar e monitorar a vida de algumas pessoas ou de um grupo a fim de exercer poder sobre esses, é o BB, como bem citado. Mas em sociedades democráticas temos toda a força de inibir e impedir os que levantam as asinhas querendo tomar conta do galinheiro, ainda mais com uma imprensa livre e investigativa e com um judiciário que seja sério. Se não são, devemos cobrar isso, e essa é outra diferença, nos tempos passados não tínhamos esse direito, tínhamos que nos ater a nossa insignificância de bater continência ao bispo, ao padre, ao prefeito, ao presidente.
    Controle dos negócios? Ninguém compra se não quiser. As empresas vivem quebrando a cabeça para saber os produtos e os serviços que as pessoas precisam, buscam. Empresas (e pessoas que trabalham nelas) só querem, antes de tudo, sobreviverem, ganharem o seus trocos para pagarem suas contas, terem qualidade de vida, crescerem. Muitos, sobreviverem. Colocar ideologia no meio natural de como as coisas funcionam na vida desde Adão e Eva é fora da realidade.
    Os tempos mudaram para melhor, sim. Até quando? Só dependerá da gente. É um mundo sem volta.

  2. Finalmente um texto sobre internet que vale a pena ler. Eu ainda acrescentaria referencias ao livro “Vigiar e Punir” do Foucault e o conceito de Panóptico, que facilmente pode ser aplicado à internet. E ao livro 1984 do Orson Welles que seria um modelo de sociedade sob o martírio da vigília.

  3. Os maiores erros e acertos começam na mente humana, e essa é bem difícil de monitorar. Então os atos são consequencias de pensamentos e por fim os pensamentos frutos do seu conhecimento. Ou seja, quanto mais conhecimento, mais possibilidades de soluções. Claro, existem os vilões inteligentes, mas a grande maioria é por ignorância mesmo que acaba errando.

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