Discutir redes sociais sem olhar para a história?

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A maioria dos erros consiste apenas em que não aplicamos corretamente o nome às coisas.

Espinosa, da coleção de frases.

Imaginamos as coisas como coisas. E achamos que os conceitos sobre as coisas não importam. Já que as coisas existem por elas mesmo, flutuando no espaço como um balão de festa junina.

As coisas, entretanto, só são, a partir dos conceitos que fazemos delas.

Há lentes.

Conceitos bem fundamentados nos ajudam a definir melhor as coisas e vice-versa.

Quando não discutimos termos e conceitos, estamos aceitando algo que alguém definiu por nós e deixamos nossa lógica desligada.

Aceito, mestre, os desígnios de sua (in) definição. 😉

O termo “redes sociais”, que procura definir tudo que acontece hoje na internet que não conseguimos explicar nessas ferramentas colaborativas (Facebooks, Twitters e agregados) está dando mais dor de cabeça do que sendo aspirina.

O que é um sintoma claro de um termo pouco trabalhado, pouco discutido, pouco pensado, sem lógica interna ou mesmo algo situado na história.

Ou seja, um samba do Steve Jobs doido!

“Rede social” é um termo a-histórico, pois fotografa algo em movimento.

Finge-se que é uma foto, mas é um filme que tem processo e roteiro, ou início, meio e algum fim.

Só é possível entender tudo isso, a partir de um passado para se projetar o futuro, mas como temos pressa de pular do abismo, desde que seja com todo mundo, beleza! 🙂

Pergunta-se, então, qual a diferença de uma rede social do Facebook e outra dos pescadores de siri em Arraial do Cabo?

Uma é eletrônica, a distância, e outra é presencial, localizada?

E a diferença entre as redes sociais de quem assiste a novela Passione da Globo e a rede social Orkut?

A do Orkut é interativa on-line e a outra não é?

Em função da confusão, começa-se a ser comum em altas rodas do senso comum dos especialistas – geralmente repetidores de verdades (ou verdades pouco trabalhadas) importadas – ver e ouvir a discussão:

“Minha organização deve ou não deve entrar em redes sociais?”
“Não, ela já está nas redes sociais, você que não sabe!”.

Caraca, se existe rede social que temos que entrar ou sair não estaríamos confundindo fenômenos sociais com ferramentas?

“Vou sair agora dessa rede social dos celulares. Pronto, desliguei!”.

“Eu não, vou sair da rede social da revista Caras, cancelei a assinatura. Tô irada”.

Imagine em 1480, quando os papéis impressos (livros, jornais e panfletos) começaram a circular, o pessoal dizia:

“Lá vai aquele pessoal da rede social”.

“Como assim?”

“Ah tá, aquele pessoal que anda lendo papéis.” 🙂

E imagina-se ainda lá em Roma, junto ao Papa, naqueles idos:

Papa: “Vou entrar ou não na rede social do papel impresso?”

Assessor de marketing (para mídias impressas) papal: “Você já está, pois tem um panfleto que fala mal de você”.

Papa: “Chamem mais especialistas! Mandem estudar o assunto! Faz um livro impresso aí só falando bem de mim”.

O que era uma “rede social” minoritária, uma forma nova de receber e produzir informação (ideias no papel impresso) se espalhou na sociedade.

Ninguém é louco de falar que existe uma “rede social de quem lê livro”. Ou assiste televisão. Ou tem?

As “redes sociais de hoje” são a ponta do iceberg da nova sociedade.

Aquela (impressa) e a nova (digital interativa) forma de trocar informação será o dia-a-dia da sociedade, dentro em breve (pelo menos a banda privilegiada que conseguir ter acesso à internet).

Todas as instituições da sociedade vão migrar para esse modelo mais dinâmico e mais rápido de gerar inteligência coletiva e, mais adiante, valor.

E como vamos chamar isso se o que é minoria virar maioria?

Sociedade digital interativa?

Lembra aquela música do Caetano:

“Não é o Rolling Stones que não cabe na Times Magazine, mas é a Time que não cabe no mundo dos Rolling Stones”.

Quem não estiver conectado, será, então, o pessoal da rede social off-line, os ETs?

É o tipo do fenômeno que, quando absorvido, sumirá.

Teremos vergonha da nossa ignorância enrustida em arrogância e do tempo perdido nesse papo furado sem história.

E teremos que jogar fora os quilos de livros, papéis de seminários, palestras, cursos, pós-graduações que perdemos discutindo algo que vai virar pó rapidinho.

O problema é que até lá vai se gastar muito dinheiro para nada. E tem gente ganhando com a confusão. E enfiando esse conceito meio – mouse, meio teclado – goela adentro dos incautos!

Aprofundar – sem afundar – é preciso. Que dizes?

Carlos Nepomuceno: Entender para agir, capacitar para inovar! Pesquisa, conteúdo, capacitação, futuro, inovação, estratégia.

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3 respostas

  1. Separar conceito da coisa serve para entender a relação, menos que o conceito e que a coisa; ou só entender estes através daquela. Pois eles não são separados. Temos séculos de filosofia para entender isto. No homem, para o homem, as coisas são os nomes que damos a elas. E, neste mundo de nomes, que é o que para nós existe que possa ser compartilhado, inventamos ‘outras coisas’. Em sobredeterminações (valores?).

    Então temos mais coisas para juntar, relacionar, talvez, só as entendendo mais fundo separando-as, mas não se não voltamos a juntá-las. Disto resultam ainda mais coisas: as juntas que juntam as coisas.

    Num mundo de muitos e de muita coisa entre muitos e onde muita coisa acaba sendo coisa num tempo histórico, nada deixa de ser social (mas também histórico) e espacial-temporal; se não, não há liga entre o denominado e o vivido; pois o nome deve ter um mínimo de relação palpável com o que ele denomina; e o palpável tem lugar (espaço) e vez (tempo).

    E a forma da sociabilidade é uma rede. Assim, rede social é ‘pleonasmo’. Para o homem, no homem, toda rede é social e todo social é rede (ou platôs sobrepostos, com Deleuze-Guattari; que são só alguns dentre os muitos filósofos; com suas representações diversas que mapeiam as sobredeterminações que vamos criando, em olhares sobredeterminados, com ferramentas que ampliam nossos sentidos, entre outros meios de gozar a vida).

    O mais é marketing: sobredeterminação comercial. Mas nem tudo no homem e para o homem é regido pelo comércio, e menos ainda pelo comércio monetizado. Sim, é regido pela troca. Sem ela não há social nem rede. Mas o homem conheceu e conhece também o escambo.

    Precisamos, para resolver esta parada, na verdade, tirar os meios de comunicação (ferramenta para as trocas) das mãos de simples, tacanhos e meros comerciantes, atravessadores, no pior sentido, inclusive os que vendem a forma de sobredeterminação que é o papel-moeda (banqueiros). Eles não sabem o que fazem. Porque o saber não se limita às relações de troca, menos ainda àquelas regidas pelo reles lucro.

    Prazeres não se paga, eles pertencem aos que os sentem. No mais, temos rancores; pela inveja de sequer saber-se com o que se goza; mas vendo-se o gozo diante dos olhos, alheio. A cessão do gozo alheio não significa prazer nosso; menos ainda quando somos agentes desta cessão. Isto é subterfúgio. Fugir sem sequer saber-se do que se foge (da felicidade própria que se teme?).

    Cada um que goze com a sua ferramenta (e somos mente e corpo).
    Mas, repetindo e lembrando, ela não é o dinheiro; pensar que seja é um fundamental auto-engano.
    Os meios não substituem os fins.
    Mas que peixe mesmo teremos nessa tar de rede?

  2. Radical, mas muito bom.
    Embora particularmente não acredite muito que a “nomenclatura” de redes sociais, ou seja lá qual for ou será o nome, terá um peso tamanho a ponto de modificar todas as construções digitais para ambientes de interação coletivos.

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