Fluminense Football Club

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O Fluminense faz parte da história do futebol brasileiro, em uma época mais lúdica e romântica do que a de hoje, cercada de empresários por todos os lados. O desconhecimento desta história sai estampado todo dia na área de comentários dos sites esportivos.

 

Para quem não sabe, pode até parecer estranho, mas o título do esporte em inglês “Football” no nome faz parte do histórico do Fluminense. Em 1902, o jovem estudante Oscar Cox volta da Europa com esta novidade, e com a ajuda de conhecidos, funda o Fluminense, nome escolhido para representar todo cidadão do Estado do Rio de Janeiro, não só da capital.

O assim denominado “Club” foi um pioneiro na introdução do futebol nas arenas cariocas, mas se destacou por anos a fio nas piscinas e em esportes amadores também.

Quando eu era menino, o meu saudoso pai me levava ao Maracanã para ver os jogos do Flu. Ele foi um apaixonado pelo futebol e pelo Fluminense, mas NUNCA discutia o assunto com terceiros, nem mesmo com os vizinhos mais próximos.

Dentro do estádio, ele se divertia vendo os dribles desconcertantes do ponta-esquerda da época, o folclórico Escurinho, cujos chutes raramente acertavam o gol.

Em um daqueles campeonatos cariocas do passado distante, o Fluminense havia se tornado campeão por antecipação, e o último jogo era contra o formidável time do Botafogo. Os vizinhos, na época todos amigos, fizeram um grupo e resolveram ir ao jogo. O Botafogo chegou à marca dos 3 a 0, se a memória não me trai, e um dos vizinhos, que era fanático pelo Bota, a cada gol se levantava da cadeira e dizia para o meu pai: “Tá vendo, Doutor Julio, que campeão que nada…”. Mas o Flu reagiu, afinal na linha de ataque o clube tinha jogadores como Telê (futuro técnico), Valdo e outros. Quando chegou aos 3 a 3, com um gol de peixinho de um desses atacantes bem no fim do jogo, e com o estádio em euforia, o nosso vizinho havia ficado roxo. Acreditem, porque eu vi isso no rosto daquele homem, e vi também o papai ficar calado o tempo todo, até parecer descontrair com o resultado.

Na saída, eu vi a torcida tricolor jogar pó de arroz no lotação do Botafogo, e nunca me esqueço do Manga, grande goleiro, rir à beça com a brincadeira. Os tempos eram outros!

O futebol de lá para cá se tornou prisioneiro dos empresários. A figura do atleta com a ligação emotiva com os clubes e amor à camisa quase desapareceu. Eu tenho visto juras de amor em um dia e no dia seguinte a mudança de contrato para outro clube. A grana sempre fala mais alto, e os empresários se aproveitam desta mudança. A coisa chega ao ponto de empresários tomarem posse de clubes de menor expressão, de modo a facilitar futuras negociações, e ninguém pode dizer que eles estariam agindo ilegalmente.

Aos clubes, que na maioria das vezes formam atletas, uma parcela ínfima ou quase nenhuma lhes dá o retorno. O menino fica anos na base se formando, no caso específico do Fluminense uma verdadeira fábrica de atletas, e quando o empresário toma conta o clube fica a ver navios. Quando se fala em decadência estrutural dos clubes raramente se vê este controle financeiro mencionado!

Entretanto, o que mais me deixa admirado é o nível de ignorância histórica do torcedor que posta mensagens nos sites de esporte, a respeito do Fluminense e de outros clubes. A gente percebe que além do ataque maldoso sobra o total desconhecimento das conquistas já realizadas.

Se esses energúmenos se dessem ao trabalho de conhecer a história do futebol como um todo, iriam, antes de mais nada, descobrir as raízes da presença do futebol no Rio de Janeiro, incluindo Fluminense e Botafogo. Na história específica do Fluminense e na sala de troféus do clube estão exibidos o vasto número de conquistas do time de futebol, seu principal patrimônio até hoje. Consta ali uma série de eventos que marcaram época, daí eu conseguir entender a paixão discreta e silenciosa do meu pai por aquele time.

Seus torcedores são historicamente ilustres, como mostra esta gravura:

O Fluminense, além de pioneiro, foi o único clube brasileiro e da América Latina que conquistou uma taça Olímpica, em 1949. E foi campeão do mundo em 1952, durante a Copa Rio. Na década de 1970, quando Francisco Horta formou a chamada “Máquina”, saiu da Europa com vários troféus, como o Teresa Herrera, por exemplo.

 

 

Foi na sede do Fluminense que a Seleção Brasileira começou a ser formada, ainda em julho de 1914, e curiosamente o primeiro gol marcado pela seleção foi do atleta tricolor Preguinho.

Carlos Alberto Parreira salvou o time do Fluminense, eu uma época desastrosa onde a diretoria, comandada por um tal Fábio Egypto, queria fechar o departamento de futebol do clube.

Felizmente, malgrado o time ter caído para a terceira divisão, ele não conseguiu. Se tivesse chegado a termo iria destruir uma parcela significativa da memória do futebol do país, particularmente em terras cariocas.

O esporte no Brasil há anos caminha a passos lentos, devagar, quase parando, em parte por corrupção e sentimento de poder. Clubes sabotam outros, para continuar no topo, e a mídia com viés nesses clubes faz a sua parte. O esporte, esse fica em segundo plano!

Os clubes brasileiros, por seu turno, são mal administrados e atualmente alguns deles se movimentam para tentar “profissionalizar” o futebol, ainda sem sucesso.

O Fluminense nem sempre foi assim, apesar do amadorismo. O falecido jornalista Rui Porto uma vez me disse que o Fluminense conseguia muitos títulos por causa do que ele classificava como “tripé tricolor”, gente que sustentava a estrutura do clube quando as coisas não iam bem. Ele não revelou nomes, mas eu entendi a mensagem.

O Fluminense fabricou ídolos de diversas estirpes, todos merecidamente. Anos atrás, foi feita uma homenagem a Assis, um deles, infelizmente já falecido:

São décadas a fio, com jogadores que passaram pelo clube e depois se apaixonaram por ele, deixando suas marcas no apoio da torcida. Hoje em dia não se vê muita gente nos estádios, mas nos jogos mais antigos a torcida do Fluminense era capaz de encher o Maracanã todo!

Uma pequena experiência em desporto, mas que me ensinou muita coisa

Por volta de 1996, um colega da universidade, médico pediatra e apaixonado por natação, me procurou no laboratório, pedindo apoio a um projeto seu de pesquisa. Era um estudo sobre a chamada “Síndrome do Overtraining”, ou Síndrome do Excesso de Treinamento”, na qual a fadiga muscular e a incapacidade de melhorar a performance do atleta eram caracterizadas. Durante o projeto, o colega e a sua equipe passaram pelas piscinas do América (não existe mais) e do Vasco da Gama, todas com dimensões olímpicas.

A minha participação naquele projeto foi discreta. O meu colega queria saber interpretar as mudanças metabólicas que ocorrem na musculatura esquelética dos nadadores, durante o período de treinamento, podendo ocasionar a instalação da Síndrome. Essas mudanças ocorrem pelo excesso de treinamento e/ou pela inadequação dos métodos impostos pelo treinador. Não é incomum a gente saber pela imprensa que atletas de futebol se lesionam com inusitada frequência.

A Síndrome pode se instalar quando os níveis de glicose, principal nutriente muscular, começam a baixar, junto com o consumo exagerado de Adenosina Tri-Fostato, conhecido pelos bioquímicos como “ATP”, corruptela da sua sigla em inglês. O ATP é a moeda energética da célula, que é gasta nas reações do metabolismo que carecem de energia para serem realizadas. Sem o ATP não haveria contração muscular.

A glicose, substância conhecida erradamente pelo povo como “açúcar”, é o principal nutriente para todos os tecidos, fundamental inclusive para o funcionamento do cérebro.

Eu consegui achar nos meus guardados uma transparência, projetada em um seminário sobre o assunto, que mostro a seguir. Nela estão descritos os principais eventos envolvidos na evolução da Síndrome:

 

Peço ao leitor que não se assuste com o lado técnico da figura. Basta explicar que o excesso de consumo de ATP dentro do tecido muscular (parte de cima) gera uma quantidade apreciável de uma substância chamada amônia (NH3), que é muito tóxica. Esta amônia é posteriormente exportada para o plasma (parte líquida do sangue) e retirada para o tecido hepático (fígado), onde ela é detoxicada. Porém, a amônia livre é também inibidora de processos importantes de obtenção de energia na célula hepática, e se livre mais tempo no plasma, pode afetar também o tecido cerebral.

Na ausência de glicose, o esforço para obtenção de energia é compensado pela metabolização de aminoácidos de cadeia ramificada (Valina, Leucina e Isoleucina), cuja transformação também produz amônia.

Os níveis mais altos de amônia no plasma evidenciam o perigo de intoxicação de qualquer atleta, e durante este estudo vários grupos de nadadores tiveram amostras de sangue coletadas em quatro momentos, descritos assim: A – antes do primeiro microciclo de treinamento, B – após o término da primeira sessão de treino, C – 22 horas após o início do microciclo e imediatamente antes da última sessão de treino, e finalmente D – depois do encerramento do microciclo.

Resultados típicos, de dois grupos de atletas, de duas faixas etárias diferentes, são mostrados a seguir. N.B.: as legendas em inglês foram feitas para a publicação dos resultados.

 

Pelos gráficos, se pode notar que os níveis de amônia sempre sobem para valores elevados (acima de 50 µmoles/Litro), e tornam evidentes o potencial perigo de intoxicação, caso o período de descanso entre os microciclos de treinamento não for devidamente observado.

O consumo dietético de amino ácidos de cadeia ramificada por atletas é potencialmente gerador de amônia no plasma e, portanto, deve ser evitado!

Eu nunca mais soube desse grupo e por isso não sei que fim levou este trabalho. Houve época durante aquele estudo em que apareceram nos clubes os tais “fisiologistas”, mas eu nunca tive chance de conhecer um deles e saber se os níveis de amônia plasmática eram medidos rotineiramente. No nosso trabalho, para poder medir amônia nós tivemos que importar os kits, porque nenhum laboratório de análises trabalhava com este tipo de dosagem.

Também nunca cheguei a saber se dados como estes foram aproveitados por quem treina atletas para competição. A informação da noção sobre a fadiga muscular teria evitado lesões musculares em muitos atletas. E a correta dieta a mesma coisa. Eu conheci nutricionistas que se aventuraram nesta área, mas também nunca soube o peso do aconselhamento delas nos clubes.

Administrações ruins se sucedem em todos os clubes, talvez com uma exceção ou outra. Quanto à parte de desporto, falta muito a ser alcançado. Recursos bisonhos como psicólogos ou os tais fisiologistas de nada valem sem a ajuda de uma infraestrutura, e me arrisco a dizer que enquanto lições não forem aprendidas, nada de positivo trará o futebol de volta à glória que ele conquistou nas copas do mundo do passado!  Outrolado_

 

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O dia em que vi a minha caveira

Ninguém vai te ajudar a ter dias melhores

O que mudou na terra onde nasci

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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