Tommy em Quintophonic tentou aumentar o escopo do som multicanal

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Tommy, a ópera rock do grupo The Who, filmada pelo cineasta inglês Ken Russel, traz na sua sua apresentação uma trilha sonora no formato 5.0 Quintophonic, com surround esquerdo e direito separados, mas que acabou não dando certo. Tommy foi o único filme feito com este formato, que pode ser ouvido em DVD ou Blu-Ray literalmente.

 

Resolvi assistir de novo “Tommy”, filme dirigido pelo excêntrico Ken Russel, lançado em 1975, com a filmagem da ópera rock homônima, criada pelo grupo de rock progressivo inglês The Who, em 1969, se não me engano.

Aí eu me lembrei que ainda tinha o respectivo DVD R1, jogado e sem uso em uma prateleira. Nunca mais vi o filme, mas certamente ele tem um áudio muitíssimo melhor do que aquele apresentado no streaming disponível do Amazon Prime.

Trata-se de uma trilha sonora chamada originalmente de “Quintophonic”, no DVD mencionada como “Quintaphonic”, no folheto explicativo que acompanha o disco:

 

O nome correto é Quintophonic mesmo, como ilustrado nos créditos do filme:

O interessante é notar que a corruptela do nome do formato – QS – é, por coincidência, a mesma do layout quadrafônico QS/Sansui, do início da década de 1970, no qual ele se baseia.

A adaptação do som quadrafônico para o cinema

O som multicanal do cinema até a década de 1970 era amparado pela transcrição da trilha sonora em banda magnética, gravada na película: 4 canais do formato CinemaScope (3 na tela e um surround), e 6 canais do formato Todd-AO, com 5 canais na tela e um surround, usado em todas as películas em 70 mm.

O som Quintophonic aproveita o layout do formato quadrafônico QS, criado para elepês, e o transforma em um formato de 5 canais (3 na tela, 1 surround esquerdo e 1 surround direito), transcritos em 3 faixas de banda magnética na película 35 mm. Uma delas servirá para o canal central discreto, e as outras duas para codificar matricialmente os canais traseiros.

No esquema abaixo, o canal esquerdo frontal (Lf ou Left front) deriva matricialmente o canal esquerdo traseiro (Lr ou Left rear), e o mesmo acontece com o canal direito: Rf ou Right front para Rr ou Right rear. O layout final é esse:

No final, são 5 canais com informações que permitem a mixagem no formato 5.0, motivo pelo qual a edição em DVD e depois em Blu-Ray oferece uma trilha 5.0 para a reprodução correta do som Quintophonic.

Uma matriz similar quadrafônica foi também usada para o Dolby Stereo, exceto que apenas 2 canais matriciais são usados. Estes derivam o canal central e mais o canal surround mono, perfazendo 4 canais no total.

O sucesso do Dolby Stereo e o declínio imediato do som Quintophonic pode parecer um retrocesso, mas ele se deveu justamente ao menor número de canais usados e em banda ótica, compatível assim com qualquer projetor, inclusive para a reprodução da trilha em mono.

A banda magnética em película 35 mm havia se tornado um processo caro e problemático na manutenção dos projetores. Além disso, o Quintophonic exigiria uma modificação da decodificação e distribuição de áudio no uso de cinco canais nos cinemas, inconveniente para os cinemas com o formato Todd-AO 70 mm instalado.

O que deixou passar o som de Tommy incólume foi a adoção posterior da banda ótica com Dolby Stereo, chamada na época de “Dolby System”:

 

Tommy foi o único e derradeiro filme com som Quintophonic. Para a reedição do filme os engenheiros restauradores desta trilha tiveram que lançar mão de elementos de arquivo até acharem aqueles pertencentes ao formato, e é isso que se ouve no DVD. Na edição em Blu-Ray, que eu não tenho, oferece-se também uma remixagem em formato 5.1, mais moderna.

Como eu nunca ouvi esta outra trilha 5.1 não saberia dizer se alguns problemas da mixagem Quintophonic foram contornados. Se alguém ouvir com atenção esta última irá notar uma compressão e uma mixagem esdrúxula, além de um grave muito pouco convincente.

O filme e a qualidade do streaming

Tentando fazer um esforço para assistir de novo Tommy, eu me lembrei porque deixei o DVD de lado faz tempo. Tommy é mais uma daquelas tentativas mal sucedidas de filmar as chamadas opera rock, feitas na década de 1970. Em 1972, a ópera Jesus Christ Superstar, lançada em cópia 70 mm no cinema Pax, acabou por demonstrar inequivocamente que os gêneros não ficam resolvidos na transcrição para o cinema, ou então que diretores e roteiristas não foram competentes ou se entenderam para resolver a linguagem correta nas respectivas narrativas.

Tommy é por isso o tipo do filme que pode atrair os fãs do The Who ou repelir aqueles que não curtem este tipo de música!

Eu, infelizmente, estou no grupo de cinéfilos que enxerga na histeria do roteiro e nos gritos dos atores uma série de falhas grosseiras na narrativa da estória. O filme como um todo é pretensioso na exibição da contra cultura típica do período, mas sem convencer visualmente no aspecto esotérico pretendido. Uma série de estrelas de rock, entre as quais o próprio The Who, desfilam no filme, à procura de adesão dos fãs:

 

Filmado para ser exibido em 1.85:1, o serviço de streaming oferece uma imagem de boa qualidade, mas o som 5.1 propriamente dito é um verdadeiro desastre. Se eu precisasse ouvir a trilha original de novo teria que recorrer ao DVD.

Seja como for, é notório que a trilha original não é, na minha opinião, das melhores que eu ouvi. Como ópera rock, Tommy foi lançado em CD e DVD-Audio, mas nada que pelo menos para mim se revestisse de interesse.

A moral dessa história é lembrar que o áudio sempre esteve à frente na área de cinema. Mas, várias tentativas de formatos novos faliram antes dos codecs Dolby se tornarem presentes nas salas de cinema. O Dolby Digital nem foi o primeiro formato 5.1 e sim o Cinema Digital Sound (CDS), lançado antes do Dolby Digital e abandonado logo a seguir.  Outrolado_

 

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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