Steve Jobs, o controvertido empreendedor

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

O personagem Steve Jobs tem sido alvo de inúmeros filmes e documentários. Fuçar a vida dele parece que não irá esgotar os detalhes, alguns sórdidos, nos quais ele esteve envolvido.

 

Existem por aí uma dúzia de filmes de cinema, documentários e reportagens sobre Steve Jobs, o controvertido cofundador da Apple Computer Company, em 1976. O primeiro microcomputador Apple foi criado por Steve Wozniak, que depois apresentou uma segunda versão, o Apple II, já na fase industrial da companhia.

O Netflix ofereceu um desses filmes, com o título “Jobs”, de 2013, e eu resolvi assistir, apesar do ator Ashton Kutcher não estar, por favor me perdoem, na minha lista de atores favoritos. O ator se esforça até para imitar a maneira do Jobs da vida real andar. Bem, mas o que importa é o desenvolvimento da estória e do seu personagem.

 

 

Depois de 2 horas e tanto de duração, Jobs é mostrado com inúmeras qualidades negativas, e no final, contraditoriamente, aparece como herói salvador da pátria. O início, com Jobs mais velho, exibindo no habitual circo de mídia o iPod, e no final, com atributos que os realizadores consideram inegáveis, sem, no entanto, tentar esconder o lado déspota e, em alguns momentos, cruel da personalidade do personagem.

O empresário Ronald Wayne foi o terceiro cofundador da Apple, mas ele em nenhum momento é mencionado neste filme, não sei por que. Em contrapartida, dá-se particular e justificada importância a Mike Markkula, aposentado oriundo da Intel, que foi a pessoa que iria ajudar Jobs e Wozniak a fundar a Apple e produzir computadores em escala fabril.

 

Todos esses personagens acima citados se tornaram mais do que milionários, mas neste processo de conquista houve alguns preços a serem pagos. Steve Jobs morreu imortalizado por fãs em 2011, vítima de câncer pancreático, que é muito difícil, quase impossível, de ser curado.

O início da microinformática foi penoso

Na década de 1970 a microinformática começava a tomar corpo, mas ainda com muita dificuldade. Para os leigos como eu os primeiros computadores eram uma verdadeira caixa preta. No final desta década eu achei um absurdo não se saber quase nada a respeito de programação, ainda mais porque alguns cientistas começavam a se dar conta da importância do processamento de dados do laboratório através de meios muito mais precisos e confiáveis.

Em uma escala por demais amadora, eu informatizei todos os ensaios do nosso laboratório, durante a elaboração da minha tese de mestrado, com a ajuda de uma máquina de mesa programável HP-9810A, cujos programas eram salvos em cartões magnéticos. Em relativo curto espaço de tempo, a microcomputação começou a despontar como uma tábua salvadora de profissionais de diversos segmentos.

O meu irmão mais velho era oriundo dos mainframes e foi obrigado a se familiarizar com os microcomputadores, cuja arquitetura operacional é bastante diferente. Na época, ele via, e eu também, a microinformática como o futuro da computação que se aproximava velozmente de todos nós.

Se algum mérito se deve a Jobs e Wozniak foi o de se proporem a criar um computador de mesa capaz de ser usado por qualquer um. Mas, isto só foi possível, ainda que em escala reduzida, após uma série de programas serem vendidos prontos para o usuário final, ao lado da programação que poderia permitir usuários de outros níveis usar o computador para dar asas às respectivas imaginações.

A informática sempre esteve cheia de personagens emblemáticos de caráter duvidoso

Se existe alguma coisa que nos deixa perplexos até hoje foi a presença de desenvolvedores e empreendedores neste campo de atuação que exibiram publicamente uma indiscutível falta de caráter. E muitos desses personagens se tornaram ricos e famosos, até mesmo quando as suas trapaças foram elucidadas por historiadores e jornalistas investigativos.

Por outro lado, a evolução de conhecimentos e técnicas foi marcada por hesitações e preconceitos. Doug Engelbart, por exemplo, criou o mouse que nós usamos até hoje, mas custou a ser reconhecido pela sua importância na evolução da microinformática. Por mera coincidência, alguns de seus colaboradores acabaram entrando para o Palo Alto Research Center, divisão de pesquisa da Xerox, cujo time de pesquisadores criou o primeiro computador com interface gráfica, e para tal, usaram o mouse.

Steve Jobs passou por lá e incitou o seu time de desenvolvedores a largar o Apple II e desenvolver o Macintosh, com interface gráfica e mouse. Enquanto a Xerox desistiu de lançar o seu computador gráfico o Mac passou a ser a principal bandeira da Apple, sendo assim o primeiro computador pessoal deste tipo.

A obsessão de Jobs pela destruição da poderosa IBM (apelidada de “Big Blue”) levou o lançamento do Macintosh para um circo de mídia onde Jobs questionou a predominância da IBM como dominadora “Big Brother” (com referência a “1984”, novela de George Orwell) da era da informação.

Acontece que Bill Gates passou pela Apple, viu a interface do Mac e fez a Microsoft desenvolver o Windows.

A partir daí, duas coisas aconteceram que prejudicaram o Macintosh: primeiro, o computador foi lançado com preço elevado, e segundo, o hardware era, como aliás sempre foi em produtos Apple, de arquitetura fechada.

No outro lado da guerra, a IBM lançou a sua plataforma de forma muitíssimo mais eclética. Depois um fracasso inicial de projeto, a empresa conseguiu lançar o que foi depois denominado “IBM-PC”, com arquitetura aberta. Em relativo curto espaço de tempo as máquinas com plataforma IBM se espalharam no mercado que nem um maremoto.

Notem que, naquele momento, para o usuário rodar um sistema operacional com interface gráfica ele seria obrigado a comprar um computador Macintosh. Mas, no momento do lançamento do Windows, qualquer microcomputador com plataforma IBM poderia rapidamente ser convertido para rodar um sistema gráfico.

A história do quem rouba quem

O filme “Jobs” mostra a reação de Steve Jobs pelo aparente roubo de ideias cometido por Gates. Este também iria “roubar” as fontes PostScript da Adobe, e as incorporando no Windows 3.1 com o nome de fontes TrueType.

O ambiente gráfico só seria plenamente aproveitado para a renderização de textos na tela do computador e nas impressoras se a fonte usada tivesse as características de arquitetura adequadas, e estas fontes da Adobe permitiam que elas fossem dispostas segundo a escala (métrica) desejada.

O avanço obtido foi enorme. O problema maior era o custo. A fonte PostScript era vendida na forma de cartuchos ou em ROM, e custava caro. A fonte TrueType fazia parte do pacote do Windows, ou seja, a custo zero!

Rasteiras desse tipo encheram as cortes norte-americanas de processos, a maioria sem sucesso!

Steve Jobs aparentemente não contava com a possibilidade de fazer o Windows rodar em número tão alto de máquinas, e esvaziando assim a necessidade de aquisição de um novo computador só para ter acesso a este tipo de sistema operacional.

O primeiro Windows que eu vi rodar, versão 2.3 se não me engano, era por demais primitivo e sem recursos. Porém, a ideia inicial de rodar o novo sistema a partir do DOS prevaleceu, e isso fortaleceu a adoção do Windows 3.0, lançado em 1990, para os computadores com plataforma IBM-PC. O usuário daria partida no DOS, e a seguir digitaria “win” no prompt de comando, e estava tudo resolvido.

Ainda na década de 1990 eu conheci pessoas que achavam que o Windows era um “programa” e não um sistema operacional, justamente porque a partida era dada por um comando no prompt do DOS. A própria Microsoft só foi se dar conta de que tal procedimento de partida era inútil depois de muito tempo. E a partir daí, passou a incorporar o DOS dentro do Windows, o que acontece até hoje. O DOS é acessado quando alguém digita o comando “cmd” no prompt de pesquisa localizado na parte inferior esquerda da tela.

As exigências atuais feitas para a instalação do Windows 11, diga-se de passagem, estão na contramão do histórico do Windows. Talvez isto seja decorrência da predominância de um sistema operacional que ainda não encontra concorrentes, nem mesmo entre aqueles obtidos gratuitamente, pouco importa os méritos de programação que eles possam ter.

Quanto a Jobs, o filme nos mostra as sonoras rasteiras que ele deu na primeira equipe que lhe ajudou a montar os primeiros computadores Apple, todos eles sacados fora sem qualquer compensação financeira. O filme não mostra claramente se este foi o principal motivo pelo qual Wozniak decidiu sair fora da Apple, mas se não foi por isso, provavelmente teria sido pela forma tirânica com que Jobs tratava o estafe.

Eu até hoje acho este aspecto de “herói” sempre controverso. Pessoas como Jobs tem ideias, mas não as conseguem realizar sem a colaboração de terceiros, pessoas que possivelmente têm todas muita mais capacidade técnica e inventiva do que ele.

Wozniak criou o primeiro computador Apple. Isto é fato! Certamente não teria sido dele a ideia de tornar a arquitetura fechada, fato este que desmereceu a Apple diante de muitos dos seus consumidores, independentemente da qualidade intrínseca do equipamento.

O problema é que a arquitetura fechada impede o usuário avançado de criar a sua própria máquina, e não foi exatamente isso que motivou Steve Wozniak a criar o primeiro Apple?  Outrolado_

. . . .

 

A informática do passado da qual não tenho a menor saudade

Avaliação dos pré-requisitos para instalar o Windows 11

Análise do Apple TV+, interface e programação

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Mais lidas

4 respostas

  1. Olá Paulo Roberto. Aconselho a ler a biografia autorizada por Jobs lançada um pouco antes de sua morte. Pessoa difícil sim, mas quebrar barreiras exige certa dose de loucura, de dar cara à tapa. Outros gênios com suas idiossincrasias foram Tesla, Einsten ou Turing, para citar apenas três. Todos meio fora-da-casinha.

    1. Olá, Felipe, eu te agradeço a sugestão da leitura, mas eu entendo que os paralelos que você citou, se me permite dizer assim, não se aplicam, particularmente no que se refere a Tesla. Eu imagino que você saiba que Turing foi perseguido por ser detentor de altos segredos de estado (achavam que ele não era confiável) e por ser homossexual, propenso a contar suas memórias aos amantes.

      Steve Jobs e os outros citados não agiam eticamente, inclusive o filme em tela mostra isso.

      Mas, você poderia argumentar, e com toda razão, quem somos nós para tecer este tipo de crítica? Basta lembrar que durante a permanência da lei de reserva de informática o que mais se viu por aqui foram clones de Sinclair e outros micros. Aliás, este não foi o único momento em que fabricantes brasileiros de beneficiaram de legislação similar, e no final nada disso contribuiu de fato para a evolução da tecnologia local, concorda?

      Eu me dei ao direito de fazer críticas porque sou um usuário como qualquer outro, do tipo que não aprecia comportamento torto de terceiros. Se o meu patrão gritasse na minha cara, eu pediria demissão na mesma hora. Os próprios cineastas também se deram a este direito, embora de forma parcial. Mostraram sem cerimônia as rasteiras de Jobs nos antigos colaboradores, que saíram da Apple sem serem financeiramente recompensados. Se isso não é falta de ética e/ou falha de caráter, então eu não sei mais o que é!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *