Cópia de mídia ótica: pseudo proteções para o uso no computador

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As proteções contra cópia de mídia ótica continuam a infernizar a vida do usuário doméstico que não tem experiência neste assunto, apesar de ineficazes e com vários meios de serem contornadas.

 

É realmente impressionante como a indústria de cinema tem passado anos a fio tentando criar obstáculos para serem pulados pelo consumidor que quer apenas reproduzir uma mídia ótica (DVD, Blu-Ray, Blu-Ray 4K) no seu computador.

A primeira vez que eu deparei com este absurdo foi quando o MPAA decidiu impor códigos de região nos discos DVD contendo filmes ou outros tipos de conteúdo. O Brasil foi talvez o primeiro a desbloquear leitores de mesa para tocar discos região 1 e 4, por pura imposição do mercado consumidor.

E quando os drives para DVD começaram a ser vendidos, rapidamente se bloqueou a reprodução de qualquer disco que não fosse da região onde o computador estivesse instalado e em uso.

Para conseguir isso, os fabricantes de drive foram obrigados a incluir no firmware um algoritmo infame chamado de RPC-1 (Region Playback Control), que chegou a ter uma segunda versão RPC-2. Uma vez o drive instalado na máquina o usuário seria obrigado a escolher uma região. Todas as versões do Windows, inclusive a 11, contém a oferta da escolha:

 

Entrando no Gerenciador de Dispositivos do Windows, um applet permite esta escolha, que pode ser trocada cinco vezes, após o que o drive fica permanentemente travado na última região escolhida! Como se vê na figura acima o drive instalado está zerado, e eu vou explicar por que:

Na década de 1990 eu descobri uma ferramenta chamada de AnyDVD, escrita pela SlySoft e atualmente aperfeiçoada e vendida pela RedFox, sediada em Belize. O programa foi o primeiro deste tipo capaz de ignorar qualquer código de região incluso nos DVDs, e permitir a cópia do disco sem código algum, podendo assim ser tocado sem restrições em qualquer reprodutor de mesa.

Com o AnyDVD rodando no background desde a inicialização do sistema um drive ótico novo recém instalado não precisa ser configurado para qualquer região, como mostra a figura acima. E mesmo que o drive já tenha sido configurado ou esgotadas as escolhas o AnyDVD irá desbloquear todos os discos.

Nesta mesma época eu achei uma outra ferramenta chamada CloneCD, o primeiro programa capaz de destrancar e fazer uma cópia 1:1 de qualquer CD:

 

 

Este programa foi originalmente criado para destrancar e copiar discos CD-ROM contendo jogos, mas foi útil quando a indústria fonográfica resolveu bloquear CDs contra cópia.

Mais tarde, o CloneCD foi atualizado para copiar DVD, e foi naquele momento a melhor ferramenta para discos de dupla-camada. Eu tive vários DVDs de dupla camada que pararam de ser lidos, por isso este recurso do CloneCD foi muito útil.

O Clone CD foi substituído pelo CloneDVD, mas nunca perdeu a sua capacidade de copiar um DVD de simples ou dupla camada. Atualmente, são tantos os programas de cópia disponíveis, que eu já nem me lembro mais da última vez que eu lancei mão do CloneCD.

As exigências falidas para a reprodução do Blu-Ray 4K

O Blu-Ray 4K foi projetado para ser reproduzido sem código de região. Então, porque cargas d’água foi feito um enorme esforço para restringir a sua reprodução em um computador? A resposta é óbvia: proteger o conteúdo contra cópia!

Na ausência da objeção do código de região, anteriormente aplicado ao DVD e ao Blu-Ray, as restrições começaram por uma exigência absurda de permissão por hardware. Pois é, é isso mesmo!

O computador onde o drive está instalado precisa ter no BIOS a habilitação de um algoritmo da Intel que levou o nome de Software Guard Extensions (SGX). Além disso, o drive precisaria rodar debaixo de uma CPU Intel Kaby Lake e superiores. CPUs de gerações anteriores não podem ser usadas. É preciso também que o drive ótico seja capaz de ler o diretório de um Blu-Ray 4K. Drives preparados para o formato M-Disc conseguem fazer isso.

Notem que o SGX nem foi criado para este tipo de proteção, e sim para a salvaguarda de dados sensíveis. Ironicamente, no início de 2022 a Intel descartou a presença do SGX nas novas CPUs, a partir da décima primeira geração, tornando assim virtualmente impossível reproduzir um Blu-Ray 4K em uma máquina mais moderna.

Entretanto, de tempos para cá várias dessas restrições foram contornadas de forma elegante. O AnyDVD HD, por exemplo, passou a permitir a reprodução do Blu-Ray 4K independentemente de o usuário ter uma CPU Intel ou o SGX habilitado. E não foi a única opção para se conseguir isso, diga-se de passagem.

A indústria reagiu: obrigou os fabricantes de drives capazes de ler discos 4K a modificar o firmware, travando esta capacidade. Assim, drives classificados como “UHD friendly”, isto é, capazes de ler a árvore do diretório de um Blu-Ray 4K, passaram a não ler o disco como deviam.

As comunidades de usuário preocupadas com este absurdo, começaram a levantar todas as versões de firmware de cada drive, para saber quais delas permitem que o drive funcione normalmente. Essas listas estão disponíveis em muitos sites.

Quem compra um drive anteriormente “UHD friendly” com um firmware bloqueado poderá encontrar ferramentas para substituir o novo firmware para a última versão sem bloqueio. E como as últimas versões de firmware passaram a ser criptografadas para impedir o rebaixamento de versão no drive, as ferramentas de desbloqueio passaram a incorporar um algoritmo para retirar mais esta proteção.

E a gente se pergunta por que tudo isso. Por que penalizar o usuário que gasta dinheiro comprando mídia a alto custo, se ele ou ela não são capazes de reproduzir estas mídias onde quiserem? Muita gente se ressente do alto investimento, e querem se proteger fazendo uma cópia tipo MKV e usar somente esta cópia, em um drive ou servidor de mídia. Trata-se de um direito legítimo do consumidor. A história nos prova que a pirataria de filmes tem outros caminhos, jamais o da casa do usuário final que faz uma cópia para uso próprio.

Fora do computador as restrições de região já foram contornadas há muito tempo, com a instalação de um kit de desbloqueio para players Blu-Ray. E hoje em dia, qualquer um pode comprar o modelo que quiser já com o kit instalado.

Eu vejo hoje a todo instante notícias alarmantes de quedas de vendas de discos Blu-Ray, alguns exagerando dizendo que esta mídia está com os dias contados. Bem, eu estou no grupo que não se impressiona com a onda alarmista, mas no meu espírito não resta dúvida de que o desrespeito ao consumidor jamais irá ajudar o aumento de venda da mídia que o usuário gosta de ter em casa para tocar quando quiser. Outrolado_

 

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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