Bloqueios contra cópias: as atribulações de sempre do usuário

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Desde o início da microinformática o usuário final se vê às voltas com problemas, às vezes insolúveis. Com a introdução da paranoia norte-americana contra cópia, a maioria dos bloqueios foi eliminado por gente que, como nós, não se conforma com este tipo de autoritarismo, lesivo a todo mundo.

 

A introdução da microinformática trouxe com ela inúmeros problemas que precisaram ser resolvidos. E quando se esbarrava em um erro difícil de compreender, o meu irmão, que era originalmente formado em sistemas e depois foi obrigado a se adaptar no uso dos microcomputadores, dizia que nós estávamos diante de um “mistério da informática”.

E quando a coisa ficava feia e sem solução, ele também me dizia que a única saída era “Format C:”, se referindo que era preferível reinstalar o sistema operacional, zerando antes o drive do sistema. Gozado é que o tempo passou e eu continuei vendo este tipo de solução, embora os sistemas tivessem adotado soluções extemporâneas menos drásticas do que formatar o drive do sistema e instalar tudo de novo!

As mazelas do DRM

É justamente por causa da necessidade de autodidatismo e de recorrer a soluções de problemas, que causa espécie ver como determinadas entidades insistem em adicionar problemas desnecessários, cuja finalidade é apenas satisfazer os desejos dos poderosos donos de indústria, ignorando o consumidor dos seus produtos.

O famigerado DRM se encaixa nesta categoria. O Digital Rights Management surgiu com força política total na década de 1990, respaldado por leis americanas, para a suposta proteção de conteúdo. Logo depois este esquema draconiano ficou debaixo de protestos pela Internet fora, inclusive de entidades que se opuseram ao que estava sendo feito. Antes do DRM, bloqueios contra cópia foram implementados em videocassetes, como, por exemplo, o Macrovision, que chegou a ser usado em DVDs e depois abandonado.

A obsessão paranoica de proteção contra cópias, com o DRM ancorado em leis americanas, fez surgir com força o chamado “cracker”, que é aquele indivíduo que se determina a estudar e depois conseguir um jeito de derrubar códigos de censura.

Esta brincadeira de gato e rato começou logo no início, quando apareceram os drives de DVD e os fabricantes foram obrigados a implementar o RPC-1, para controle da reprodução por região. Se alguém tocasse um DVD de alguma região, digamos da 1, e morasse na região 4, ele seria obrigado a entrar nas configurações do sistema operacional e selecionar a região do disco. Até aí, parecia ser algo inofensivo, mas não era. O usuário só poderia trocar de região 5 vezes, depois disso o drive ficaria preso à última região escolhida, ou seja, acabou a farra de poder tocar qualquer DVD.

Este entulho autoritário existe no Windows até hoje. Na captura abaixo, se vê o acesso ao controle de região do Windows 11:

 

Foi na década de 1990 que apareceu a Slysoft, empresa sediada fora dos Estados Unidos, que se propôs a lançar uma ferramenta com o sugestivo nome de AnyDVD, que permitia rodar qualquer DVD, em qualquer drive, mesmo que este já estivesse bloqueado na última escolha. Na imagem acima, não há menção à escolha de região, porque o AnyDVD já rodava antes do drive ótico ser instalado na máquina.

A figura do “cracker” se tornou, deste modo, a tábua de salvação do usuário, principalmente daqueles que queriam ter a liberdade de escolher o que usar. Os americanos conseguiram, anos depois, cassar a Slysoft e impedi-la de vender o AnyDVD, mas os seus antigos funcionários se mudaram para Belize, e rebatizaram o software com o nome de RedFox AnyDVD, depois chegando à versão HD, que desbloqueia qualquer coisa. Até hoje, as versões do AnyDVD HD são atualizadas on-line, de forma a desbloquear qualquer disco novo.

Quando o Blu-Ray 4K foi lançado sem código de região, eu cheguei a pensar que a censura tinha sido superada. Ledo engano!

A Intel havia lançado o sistema de proteção de dados SGX, e este foi usado pelos guardiões da cópia, como uma arma esdrúxula que visava impedir a reprodução da mídia 4K em Blu-Ray nos computadores, algo semelhante ao antigo RPC-1. Para tornar esta arma efetiva, a Blu-Ray Disc Association só permitiu o uso de 4K nos computadores dotados de proteção SGX habilitada na placa-mãe, e apenas nos computadores montados com CPU Intel das gerações 7 a 10. Além disso, a placa gráfica e o monitor usados têm ambos que dar suporte a HDCP 2.2 e AACS 2.0 ou superior.

Neste painel de controle da Nvidia se pode ver o exame do status da cadeia de reprodução entre placa gráfica, o respectivo driver e o monitor:

 

A derrocada do SGX e os prejuízos provocados por ele

A Intel, por algum motivo, tomou a decisão unilateral de deprecar o uso de SGX da geração 11 em diante. Com isso, aqueles que montaram ou compraram um computador novo perderam automaticamente a reprodução de Blu-Ray 4K em drives compatíveis.

Uma empresa (Cyberlink), que promovia sem reservas a antiga proteção, teve que se explicar aos usuários porque o PowerDVD havia parado de tocar Blu-Ray 4K e “recomendou” (vejam o absurdo) que os prejudicados voltassem a usar os seus computadores mais antigos.

A derrubada do SGX abriu as portas para a reprodução, inclusive no PowerDVD, de Blu-Ray 4K para usuários de outras máquinas. Mas, antes disso, a RedFox já havia atualizado o AnyDVD HD para reproduzir Blu-Ray 4K, com o uso dos drives chamados de “UHD-friendly”, que são capazes de ler a árvore do diretório desses discos.

Foi então que surgiu mais um golpe baixo: os fabricantes de drive foram obrigados a retirar a capacidade “amigável” do firmware, e logo a seguir criptografar as últimas versões do software interno, para impedir que usuários com drives novos conseguissem voltar às versões anteriores dos firmwares permissíveis, o chamado “downgrade”.

Por acaso, eu usava há anos o drive LG WH16SN40, do tipo “UHD-friendly”, e só fiquei sabendo depois que ele poderia tocar Blu-Ray 4K. Eu via que o drive lia o diretório do disco 4K, mas não reproduzia o conteúdo. Com o novo AnyDVD HD isso passou a ser possível, inclusive no protegido PowerDVD da Cyberlink.

Mas, aconteceu do meu drive LG perecer com um problema que bem poderia ser resolvido, caso eu tivesse achado alguém que fizesse o reparo que eu precisava, e como não achei, a solução foi comprar outro drive igual. E este já veio com o firmware versão 1.05 criptografado. O drive sequer lia um disco 4K, um vexame!

Em fóruns como o do MKV e do RedFox hackers já haviam modificado o Asus Flasher, para retirar a criptografia dos drives LG. N.B.: drives Asus são, na realidade, drives LG rebatizados. Listas de drives amigáveis foi extensamente publicada, com as respectivas versões de firmware originais sem esta censura. A listagem é extensa, publicada nos fóruns, com a inclusão dos firmwares criptografados.

Quem quisesse fazer o downgrade precisaria saber de antemão se o firmware do drive já estava criptografado e ajustar a ferramenta oferecida para contornar este empecilho, caso contrário a desatuakização não teria sucesso.

No meu caso, eu preferi não usar esta ferramenta, que, aliás, não foi a única oferecida para download. Isto porque o risco de mexer no firmware é grande, e aí nem o hacker se responsabiliza se o driver ficar inutilizável. Então, eu decidi comprar a ferramenta da Leawo, que me foi oferecida por um preço promocional, tipo “Black Friday”. O vídeo abaixo mostra como a ferramenta funciona:

 

 

O processo é bastante rápido e automático. Depois de escolhido o drive, a ferramenta vai buscar na Internet a melhor versão para o mesmo, no meu caso, por coincidência, a versão 1.05. Todos os hackers haviam dito que a substituição deveria ser pelo último firmware, versão 1.02 deste drive, que era o que eu tinha no drive que deu defeito, que ainda era amigável. Mas, os técnicos da Leawo aparentemente já haviam consertado a versão 1.05, retirando a proteção da LG.

O aparecimento deste firmware me deixou momentaneamente confuso, mas deu tudo certo e o drive voltou a funcionar como deveria. Depois, o suporte da Leawo esclareceu que caso fosse rodada a ferramenta novamente a versão 1.02 poderia ser escolhida, o que não foi preciso. É nessas horas que a gente não pode se lamentar do prejuízo que nos foi imposto!

Eu confirmei a versão modificada, ainda 1.05, antes de testar qualquer coisa:

 

 

Depois disso, eu queimei uma mídia e me certifiquei que o drive estava rodando 100%. Houve relatos de usuários que fizeram o downgrade e os drives ficaram lentos. A reprodução de discos Bly-Ray 4K voltou a ser possível.

As mudanças na configuração para monitores HDR

Justiça seja feita, o Windows 11 me deu algumas dores de cabeça inesperadas e injustificáveis, mas pelo menos em uma coisa eles melhoraram: a configuração de imagem de um monitor HDR:

Eu até já havia escrito aqui sobre isso. Se o leitor voltar a este texto irá notar que os ajustes eram bem menos detalhados. Na versão do Windows 11 os ajustes são esses:

 

Por default, o Windows trabalha direto com o HDR, e em alguns casos esta opção pode ser selecionada ou até desabilitada em “Usar HDR” no painel de controle. Se ligada, a tela HDR traz um brilho exagerado para imagens SDR. Eu inclusive já ouvi no YouTube gente se queixando disso, e com razão, porque o tratamento HDR de imagens SDR pode trazer resultados indesejáveis.

Agora é possível equilibrar o brilho da imagem SDR com o HDR do monitor ligado. O ajuste pode ser visto na ilustração acima. Pode não ser o ajuste ideal, mas na base da tentativa e do erro dá para se conseguir uma imagem confortável. Idealmente, o Windows deveria desabilitar o HDR quando a imagem na tela fosse SDR, mas a opção “Auto HDR”, que poderia permitir isso, somente transforma a imagem SDR em HDR em jogos, repetindo o mesmo erro.

A reprodução de vídeo também pode ser ajustada, mas no geral, como o monitor está sempre trabalhando em modo HDR no Windows, este ajuste em si pode se tornar irrelevante.

A calibração do HDR por software (Windows HDR Calibration) é indicada e recomendável. É uma ferramenta nova e bem melhor que a anterior, que ainda está lá. Ajustes críticos podem ser feitos com facilidade, portanto vale a pena instalar e usar.

Saindo do Windows, o monitor que eu uso volta à sua configuração por mim escolhida, a de imagem em sRGB, ideal para aplicativos de fotos e para navegadores da Internet. Se a imagem em HDR for manualmente desabilitada no painel de controle, este seria o modo de tela a ser usado.

A propósito, eu vinha usando há anos um super monitor Dell Ultra Sharp, modelo UP3216Q, com possibilidade de calibração individual por fotocolorímetro, que eu nunca usei. Com o tempo, o acesso aos seus principais recursos, disponíveis no painel do monitor, ficaram inoperantes.

Mais recentemente, o botão de liga-desliga começou a falhar. Em contato telefônico com a Dell, o atendente me dá as más notícias: a Dell não dá mais suporte e nem assistência técnica a este monitor, eu teria que procurar, segundo ele, “um técnico da minha confiança”! Isso, para um monitor que me custou, anos atrás, mais de 7500 pratas, foi uma tremenda decepção!

Quer dizer, a bomba sempre estoura do lado mais fraco, que é a do usuário final. Brigar na justiça é complicado e o fabricante sempre arruma mil e uma desculpas para não dar mais suporte. Entretanto, depois desse episódio, a Dell se torno uma empresa que não me inspira mais confiança, e a saída lógica é pular fora da marca, outrora sem este tipo de falta de suporte!

O meu irmão, nessas ocasiões, tinha razão, quando dizia “Format C:”. Pena que não dá para “formatar” um monitor, nesse caso sem acesso aos controles que permitiriam o retorno às configurações de fábrica.  Outrolado_

 

. . .

 

Rodando o Windows 10 com imagem HDR

 

E. T.: O Extra Terrestre, em versão UHD, HDR

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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