Nas trilhas do Cinerama: nova edição de Nas Trilhas da Aventura

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Nas Trilhas da Aventura, filmado em Ultra Panavision, foi exibido em Super Cinerama 70 mm. A Kino Lorber acabou de lançar uma nova edição, feita a partir de um interpositivo reduzido para 35 mm, digitalizado a 2K, com excelentes resultados.

 

Só quem teve a sorte e o privilégio de estar presente nas salas de cinemas durante a explosão dos filmes em 70 mm é que pode ter sido beneficiado pelos belíssimos espetáculos, no modelo tipo “roadshow”, com abertura, intervalo, e música de saída.

Quando o Roxy, equipado com a projeção em Super Cinerama 70 mm, exibiu “Nas Trilhas da Aventura” (“The Hallelujah Trail”) em julho de 1968, a apresentação do filme foi para lá de espetacular:

A tela do Roxy era gigantesca. Os operadores do cinema seguiram à risca todos os detalhes da apresentação do filme. Um dos momentos que ficou na minha memória foi, quando terminou o intervalo, e começou a tocar a música do entreato, e próximo do fim um coral começa a cantar o tema do filme, as luzes se apagam e as cortinas abrem novamente aquela imensa tela. Toda vez que eu toco este filme em casa, este é um dos momentos que eu reavivo na minha memória.

 

Anos atrás, um amigo meu norte americano que era crítico estudioso de cinema Stu Kobak, soube que eu tinha interesse no filme, e ele achou graça, porque ele considerava o filme meio bobinho, e era mesmo. Só que o que fica na nossa memória é a apresentação no cinema, e isso não tem preço:

 

A fotografia em Ultra Panavision tem uma relação de aspecto original de 2.76:1. A cópia do Roxy foi adaptada para a tela de Cinerama 70 com praticamente nenhuma alteração, a não ser a retificação que é necessária para a exibição em tela curva:

A trilha sonora estereofônica magnética de alta qualidade realça muito a apresentação do filme, principalmente quando termina de tocar a abertura e as cortinas se abrem.

O filme

Nas Trilhas da Aventura é uma paródia, feita com requinte. O diretor John Sturges tomou o cuidado de seguir a narrativa clássica dos filmes de “western” americanos. Tendo ao seu dispor as câmeras feitas para 65 mm Panavision o diretor usa e abusa de planos gerais, com tomadas panorâmicas similares àquelas que fizeram parte de filmes do gênero. Teria sido inevitável copiar John Ford, e porque ele não o faria?

O filme mostra com sutilezas críticas sociais e políticas, disfarçadas com toques de uma quase comédia pastelão. No anúncio do filme se fala em “How the west was Fun”, puxando um gancho de sátira no épico da M-G-M “How the west was won” (“A Conquista do Oeste”).

A estória é centrada em uma preocupação da comunidade de mineiros da cidade de Denver que temiam um inverno longo sem whisky. E acabam seguindo os conselhos do “oráculo” local, que sugere a compra e o transporte da bebida por um tal Frank Wallingham, e este contrata um grupo de carroceiros capitaneado por um irlandês chamado Kevin O’Flaherty, que, insatisfeito, ameaça fazer greve a viagem toda.

A confusão começa quando o editor do jornal local manda um telegrama para Cora Massingale, que está, naquele momento liderando uma marcha da temperança com as mulheres locais, dentro do Forte Russel. A balbúrdia noturna chama a atenção do Coronel Gearhart, que, ao chegar de uma patrulha, acha que forte está sendo atacado! Daí em diante as manobras manipulativas de Cora deixam Gearhart quase maluco.

Mas, o pior irá acontecer, quando a carga de bebida é alvo da cobiça dos índios, que adoram uma tal “água maluca”. O que vem a seguir é o encontro desastroso dos índios com uma milícia dos mineiros de Denver, e do exército que faz a escolta das mulheres e da carga.

O elenco cumpre muito bem o desenvolvimento do roteiro. A belíssima Lee Remick está impecável como Cora Massingale, e o excelente Burt Lancaster como o indignado Gearhart. Cora não tem censura, invade o banheiro do Coronel quando este toma banho sossegado, aflita com a notícia da partida da carga de bebida em direção a Denver:

Claro que todo este confronto entre Cora e Gearhart iria acabar em casamento. Quando então se descobre que Cora bebia escondida, e os dois se unem, mas só no fim.

O tema do filme “Hallelujah Trail” (literalmente, Trilha da Aleluia) só é revelado ao fim do filme, e se refere à uma suposta passagem segura dentro do pântano localizado próximo a Denver. Tudo dá errado, como era de se esperar, mas no final parte da carga ressurge e os dois que esperam um dia recobrá-la gritam alegres “aleluia” para cada barril que volta à superfície.

O filme pode até ser “bobinho”, como classificou aquele meu amigo crítico, mas é muito divertido, se alguém souber assisti-lo prestando atenção nas entrelinhas!

A última edição em Blu-Ray

Depois do Laserdisc, a primeira edição em DVD mostra os pecados da transcrição de filme Panavision para vídeo em formato 4:3, com dezenas de artefatos de compressão, ou seja, um desastre!

Decepcionado com esta edição eu depois descobri que a edição inglesa em DVD PAL foi feita com uma transcrição anamórfica, e com poucos artefatos de compressão. Esta edição, que eu tenho até hoje, não impede que se note a falta de resolução nas tomadas panorâmicas dos planos gerais. Só isso já trai a real intenção da captura em Ultra Panavision, que usa este tipo de tomada o filme todo. Pelo menos na parte do áudio, o disco é razoável.

Quando a Olive Films lançou o Blu-Ray todo mundo fã do filme esperava um resgate do conteúdo, mas não foi o que aconteceu. As críticas foram tão pesadas que eu decidi deixa-lo de lado completamente.

Mas, em 13 de dezembro próximo passado foi a vez da Kino Lorber lançar uma nova edição, só que, desta vez, a mudança na transcrição foi radical.

Não foi informado até agora se o negativo original de câmera ainda está disponível e/ou em boas condições. A M-G-M fez uma transcrição em 2K do filme, a partir de um interpositivo reduzido para 35 mm. Se ela tivesse usado uma cópia em 70 mm ou o negativo em 65 mm, não poderia ter feito isso. Mas, no caso, uma cópia reduzida para 35 mm, o resultado em 2K é razoavelmente satisfatório.

E isso se pode ver imediatamente nas tomadas dos planos gerais, logo no início do filme:

O restauro em 2K colocou as cores no lugar. Em algumas cenas do final percebe-se a presença de artefatos fotográficos na imagem, mas isso não chega a macular o trabalho de restauração como um todo. Este tipo de artefato poderia ser retirado digitalmente, mas aqui a economia falou mais alto.

Na parte do áudio, o disco da Kino Lorber mostra uma qualidade que não existia antes. O diálogo direcional, característico das telas super largas, não existe, ou seja, quem remasterizou deu uma “Dolbyisada”, jogando tudo para o canal central. Porém, todos os diálogos estão agora com zero de distorção e resolução perfeita!

O trailer do filme, incluso no disco, e visto acima, foi também restaurado em 2K. Como o filme foi lançado em alguns cinemas com cópia Panavision 35 mm, é possível que este trailer seja deste lançamento.

É uma pena que os grandes cinemas não existam mais e que nós todos ficamos prisioneiros dos home theaters. Porém, a recuperação desses filmes é necessária, e as edições de boa qualidade sempre muito bem vindas! Outrolado_

 

. . .

A padronização da película cinematográfica

Cinemas de rua com 70 mm

Formato Super Panavision vai bem, obrigado

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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0 resposta

  1. Bom dia, Paulo. Falando em cinema, fui ver “Avatar – o caminho da água”. Não foi tudo aquilo que a crítica escreveu. Literalmente muito barulho(som). Creio que o 3D não acrescentou muita coisa. Outra coisa: a projeção aqui não foi no 1.33/1 e nem no 1.78/1 . Ocupou um formato médio na tela. Essa cópia seria para o Imax?
    Abraço.

    1. Oi, Celso, eu não assisti e provavelmente não irei ao cinema ver esse filme. Segundo o IMDb, a relação de aspecto para cópia IMAX é 1.90:1 e a de 3D é 1.85:1, muito usada em Blu-Ray com filmes IMAX. Creio não ser possível os cinemas mudarem isso na projeção digital, mas como eu não tenho experiência nisso, não saberia lhe dizer ao certo.

  2. Bom dia, Paulo. Falando em cinema, fui ver “Avatar – o caminho da água”. Não foi tudo aquilo que a crítica escreveu. Literalmente muito barulho(som). Creio que o 3D não acrescentou muita coisa. Outra coisa: a projeção aqui não foi no 1.33/1 e nem no 1.78/1 . Ocupou um formato médio na tela. Essa cópia seria para o Imax?
    Abraço.

    1. Oi, Celso, eu não assisti e provavelmente não irei ao cinema ver esse filme. Segundo o IMDb, a relação de aspecto para cópia IMAX é 1.90:1 e a de 3D é 1.85:1, muito usada em Blu-Ray com filmes IMAX. Creio não ser possível os cinemas mudarem isso na projeção digital, mas como eu não tenho experiência nisso, não saberia lhe dizer ao certo.

  3. Boa noite, Paulo. Acredite se quiser: coincidência ou não, hoje à tarde, sapeando na minha deveteca, resolvi rever “Nas trilhas da aventura”. É uma boa cópia em DVD. Neste momento abro o computador e lá está seu artigo. Que legal! Você cita que viu esse filme no cinema aí no Rio. Em S.Paulo, embora eu resida no interior sempre dava uma escapada e frequentava o Comodoro. Não me lembro que esse filme tenha sido programado lá na Avenida S.João. Caso tenha sido, passou batido.
    Abraço.

    1. Oi, Celso, é quase certo que este filme tenha sido exibido em São Paulo, capital. Por aqui a exibição fez muito sucesso, por que não por lá? E o candidato mais provável seria mesmo o Comodoro, que converteu para Cinerama 70.

  4. Boa noite, Paulo. Acredite se quiser: coincidência ou não, hoje à tarde, sapeando na minha deveteca, resolvi rever “Nas trilhas da aventura”. É uma boa cópia em DVD. Neste momento abro o computador e lá está seu artigo. Que legal! Você cita que viu esse filme no cinema aí no Rio. Em S.Paulo, embora eu resida no interior sempre dava uma escapada e frequentava o Comodoro. Não me lembro que esse filme tenha sido programado lá na Avenida S.João. Caso tenha sido, passou batido.
    Abraço.

    1. Oi, Celso, é quase certo que este filme tenha sido exibido em São Paulo, capital. Por aqui a exibição fez muito sucesso, por que não por lá? E o candidato mais provável seria mesmo o Comodoro, que converteu para Cinerama 70.

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