Positivamente Millie, improvável filme musical, em nova versão em vídeo

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A edição em Blu-Ray compensa pela melhoria significativa da imagem, amplamente superior ao antigo DVD. Mas o filme em si não está no mesmo quilate dos musicais antigos.

 

Filmes musicais foram um dos pontos fortes da M-G-M. O estúdio se lançou timidamente ao cinema falado, mas depois se deu conta de que a mídia seria a ideal para peças musicais filmadas.

O filme musical da M-G-M sofreu diversas evoluções, começando com atores dançando e cantando em um palco, depois passou por diversos tipos de coreografia, com mosaicos tipo Busby Berkeley, até chegar ao ponto, bem mais tarde, de fazer a música ser inserida nos roteiros como parte da estória sendo contada.

Seu último grande musical foi o premiado Gigi, em 1957, e ali se dissolvia a unidade do produtor Arthur Freed, que tinha sido responsável pela maioria dos grandes musicais da M-G-M.

O formato musical se desgastou completamente, com ocasionais sucessos como West Side Story (Amor, Sublime Amor) de 1961, ou The Sound Of Music (A Noviça Rebelde), de 1965. O gênero, tal como era conhecido, já havia morrido.

Na década de 1960, vários países americanos e europeus passaram por mudanças sociais que mudaram completamente o conservadorismo irredutível da sociedade daquela época. Movimentos sociais de adultos jovens, estudantes na sua maioria, tomaram corpo com fundamentos contestatórios ao status quo vigente, ou então contra regimes opressores, como foi o caso do Brasil. É bem possível que o cinema como um todo foi muito afetado, com a cessação daquele tipo de fantasia que não encantava mais ninguém,

Por este e tantos outros motivos, o cinema tentou diversas vezes resgatar a herança dos antigos filmes musicais, mas nunca conseguiu. O filme musical ficou muito mais restrito a cinéfilos, e no começo do home vídeo, a colecionadores.

George Roy Hill foi um dos diretores que se encaixou no grupo dos cineastas que deixou os antigos hábitos dos estúdios de Hollywood para tentar mudar a maneira mais criativa e livre que o ambiente lhe permitia. Mas, antigos hábitos de produção, com produtores exercendo total poder sobre diretores e roteiristas, persistiram por várias décadas.

Então, quando em 1967 foi lançado o filme musical “Thoroughly Modern Millie” (no Brasil, “Positivamente Millie”), Hill sofreu nas mãos do produtor Ross Hunter, com quem teve relações inamistosas. Talvez por causa disso, Positivamente Millie é um filme que transita entre musical, comédia pastelão e paródia/sátira, sem pertencer concretamente a nenhum desses gêneros.

O filme hoje pode ser visto como racista ou então politicamente incorreto, porque concentra nos “orientais” (leia-se “chineses”) a culpa pelo rapto e tráfego de jovens solitárias tornadas escravas brancas.

Críticas sobre o filme

Positivamente Millie foi claramente produzido para uma apresentação de gala, do tipo “roadshow”, em cópia 70 mm, ampliada do negativo widescreen plano (1.85:1). Neste tipo de apresentação, ele roda por cerca de 2 horas e meia, tem música de abertura, intervalo, etc. Eu não tenho notícia de que esta versão tenha sido exibida por aqui. A cópia que eu vi no cinema do bairro era a de 35 mm, filme plano widescreen (1.85:1), som mono.

O elenco tem alguns pontos positivos. Julie Andrews já era uma atriz de cinema estabelecida, em função de seus sucessos anteriores, e Beatrice Lillie, uma experimentada comediante de teatro e cinema, que impõe uma visão sinistra e ao mesmo tempo cômica do seu personagem. Este foi seu último filme. Lillie já dava sinais de Alzheimer, mas ainda sobreviveu até os seus 94 anos.

James Fox, irmão de Edward Fox (impecável em “Ghandi”) empresta uma persona alegre e divertida. Já Mary Tyler Moore, atriz de TV, nem tanto. Seus talentos não estão no mesmo nível dos outros atores, mas passa. Carol Channing, em um papel de mulher rica e excêntrica, deixa muito a desejar, artificial e por demais espalhafatosa, e com requintes de comédia que não funcionam como tal.

 

Muita gente achou, e ainda acha, a julgar pelas críticas do público postadas no IMDb, o filme bobinho e com roteiro fraco ou inconsistente. Realmente, existem momentos completamente desconexos do resto da estória, como, por exemplo, quando Millie Dillmount vai cantar em ídiche em um casamento judeu. Mais parece a influência da velha Hollywood na produção do filme.

A ideia do enredo é que Millie é uma jovem defasada com a moda, se atualiza para depois arrumar um marido rico. Mas, vai morar em um hotel para moças, cuja gerente se aproveita das adolescentes solitárias e sem família para droga-las, e depois rapta-las, tornando-as escravas brancas.

Uma boa parte do script parodia a agitação americana da década de 1920, e em outros momentos o próprio cinema desta época. Há uma clara citação a Harold Lloyd, quando Millie e Jimmy Smith correm risco de vida no parapeito de um prédio.

Críticas do mau gosto de algumas sequências ou da personalidade de alguns personagens ainda podem ser lidas pela Internet. E certamente demonstram que o filme não sobreviveu com o tempo.

As edições em disco

Apesar das críticas, a Universal lançou a edição completa “roadshow” em DVD, anos atrás. A minha edição foi a lançada aqui, e não desaponta, guardados os problemas de resolução típicos deste tipo de mídia.

Mas, recentemente o filme foi restaurado e remasterizado em 4K pela Universal, mas para ser lançado em Blu-Ray produzido pela Kino Lorber. A nova cópia segue a relação de aspecto da filmagem a 1.85:1 widescreen plano. Aparentemente, a versão em 70 mm, se ainda existente, foi totalmente abandonada.

Apesar de originalmente ter sido apresentado nos cinemas em 70 mm, com 6 trilhas de áudio, todos os dois discos se restringem a 2 canais estéreo, que são anunciados como Dolby Surround, mas em nenhum momento o som deixa de ser frontal.

Na edição em Blu-Ray a trilha sonora da abertura, entreato e música de saída foram transcritas em mono. A universal alega que as trilhas em estéreo não existem mais. Eu acho isso muito estranho, porque a edição em DVD tem trilha Dolby Surround 2.0 e todos esses segmentos são estereofônicos, sem exceção!

Neste caso, a edição em Blu-Ray só compensa pela melhoria significativa da imagem, amplamente superior ao antigo DVD. Como colecionador, eu achei que valia a pena ter o filme com uma imagem melhor. O filme em si não está no mesmo quilate dos musicais antigos, mas, convenhamos, George Roy Hill se expressou muito melhor em outros filmes, do que neste musical. Ou talvez, tenha tido mais liberdade criativa para fazê-los. Outrolado_

 

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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