Românticos de Cuba… Libre!

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Românticos de Cuba… Libre são versos de Rita Lee na composição “Caso Sério”. Os mais jovens podem não saber que as palavras se referem à orquestra que fez sucesso na Musidisc, invenção de seu dono e músico Nilo Sérgio.

 

Quando os meus filhos eram pequenos eles ouviam as fitas cassete dos álbuns da Rita Lee e gostavam. Na música Caso Sério aparece escrito na letra:

Ao som de um bolero

Dose dupla

Românticos de Cuba… Libre

Mas a cantora e autora da música faz uma pausa entre as palavras “Românticos de Cuba” e “Libre”, parece que proposital, e deixou a interpretação daquela pausa em aberto, entendesse quem quisesse.

E foi aí que eu mencionei aos meus filhos que existira uma orquestra com este nome, Românticos de Cuba, que começou a gravar lá pelo fim da década de 1950, com os discos lançados pela Musidisc. E, por coincidência, um dos seus primeiros discos fora chamado de “Cuba Libre”, em referência ao conhecido drink, com rum, Coca-Cola, rodela de limão e gelo:

 

O disco, originalmente lançado em Hi-Fi (mono), foi, na realidade, gravado em estéreo, e pode ser ouvido como tal nos serviços de streaming.

Nilo Sergio, criador do selo e da gravadora, usava os estúdios modernos da CBS e em algumas gravações os discos eram gravados na Escola de Música da UFRJ. Portanto, o “Cuba Libre” pertence a esta fase. Em 1963, Nilo Sergio montou um estúdio requintado no quinto andar de um prédio da Rua Joaquim Silva, localizada no bairro da Lapa, Rio de Janeiro. O estúdio fechou as suas portas em meados de 2013.

Neste estúdio, segundo um amigo meu que esteve por lá várias vezes, a Musidisc tinha o que havia de melhor em áudio. O meu vizinho, seu Hélio, pai de um grande amigo de infância, também gravitava por lá. A qualidade de som dos elepês da Musidisc era notória, mono ou estéreo, e este meu vizinho me afirmava que o Nilo Sergio não só tinha um ouvido privilegiado, como era super exigente. Mandava cortar o acetato, recebia uma prova da prensagem, e se ele achasse que não estava bom mandava fazer de novo!

Os nomes fictícios que vendiam discos

Nilo Sérgio inventou um monte de nomes artísticos para músicos e orquestras que, na realidade, nunca existiram, a não ser nas capas dos elepês.

Assim, “Românticos de Cuba”, como orquestra, era a reunião dos músicos, arranjadores e maestros disponíveis em um determinado momento. A sonoridade dos discos, entretanto, era bastante uniforme.

A música cubana sempre teve imenso apelo popular, e muito provavelmente a união entre a qualidade do som e o tipo de música gravada tenham sido os principais fatores que fizeram a Orquestra Românticos de Cuba vender tantos discos, e permanecer em catálogo por anos a fio. Algo parecido aconteceu com Os Violinos Mágicos, outro nome de orquestra inventado por Nilo Sérgio.

Mas, o truque de inventar nomes também caracterizou a presença de músicos brasileiros com nomes que davam a entender que eles não eram daqui. Foi o caso do famoso Bob Fleming, nome artístico do saxofonista e compositor Zito Righi, também conhecido como Moacyr Silva, nome este bem mais divulgado e conhecido pelos fãs.

Quando eu era menino, nós tínhamos lá em casa o disco “Sax Spectacular”, com o Bob Fleming. Na capa, se via uma moça que parecia uma daquelas vedetes dos teatros de revista, fazendo uma pose sui generis, que provavelmente ajudava a vender discos:

Nem todas essas figuras femininas nas capas eram vedetes. Em alguns discos dos Românticos de Cuba uma tal loura era, na realidade, um rapaz disfarçado, brincadeira do fotógrafo que fazia as capas dos discos.

Esses discos eram também lançados fora do país. Nilo Sergio chegou a ter escritório em Nova York, e parece que teve contratos no México, para o lançamento de seus discos.

Se o leitor quiser ter uma ideia de como tudo isso aconteceu, os serviços de streaming, tipo iTunes, Spotify, etc., possuem um vasto repertório dos discos originalmente lançados pelo selo Musidisc. Garanto que não irá se arrepender.

Os discos populares da Musidisc me encantaram quando criança, por causa do som de alta fidelidade, mas depois que eu alcancei outro estágio natural de seleção musical, todos esses discos caíram no esquecimento. Muitos discos chegaram a ser lançados em CD, um amigo meu comprou uma caixa inteira do Ed Lincoln, mas eu, infelizmente não me entusiasmei. Gostei, isto sim, de revisitar, na casa desse amigo, o som da Musidisc, que, até hoje, considero um marco importante do mercado fonográfico carioca, e porque não dizer, mundial também!

O fechamento do estúdio foi uma perda irreparável, mas infelizmente dentro da realidade de tantos outros estúdios do Rio de Janeiro, que tiveram idêntico destino. Outrolado_

 

. . .

 

Ed Lincoln e a sua fase na Musidisc

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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7 respostas

  1. Para mim, uma das melhores. Tanto a Românticos de Cuba como a Violinos mágicos.
    Detalhe, a foto descrita como Nilo Sérgio, o fundador do selo Musidisc, na verdade é do filho dele, Nilo Sérgio Pinto. O fundador faleceu após um infarto, em 1981.

    1. Prezado Ednardo,

      Eu li a sua correção e me questionei onde eu errei. Aquele meu vizinho que conhecia o Nilo Sérgio nunca me levou lá na Musidisc e, por isso, eu nunca cheguei a conhecê-lo pessoalmente. Quando Nilo Sérgio morreu, o Globo publicou uma matéria com aquela foto, citando o Nilo Sérgio e não o filho: https://oglobo.globo.com/cultura/espaco-que-pertenceu-gravadora-musidisc-fecha-as-portas-8061277

      Mas, eu vou investigar isso mais a fundo, porque é mais provável que você esteja certo, e assim eu vou fazer a correção. Anos atrás, eu fiz uma tentatyiva de contato com o filho, mas sem sucesso.

  2. Enquanto este post era publicado, a querida cantora e compositora Rita Lee nos deixava. Uma unanimidade como artista, querida por todos, do rock à MPB, inovadora e com uma linda e longa trajetória, sempre cercada pelo sucesso e pela carinho de seus fãs e dos músicos brasileiros. Obrigado mil vezes, Rita.

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