A projeção em Dimensão 150, o D-150

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A filmagem e projeção em Dimensão 150 foi um momento importante na apresentação de filmes em tela curva similar ao Cinerama original de 3 películas. Várias das edições em home video não refletem esta qualidade.

 

A entrada do Cinerama, a partir de 3 películas de 35 mm com a relação de aspecto alterada e projetadas em uma tela ultra curva, inaugurou não só a projeção de filmes com uma imensa tela larga, mas também a apresentação de uma imagem capaz de aumentar a visão periférica do espectador, fazendo com que ele ou ela “entrem” no cenário do filme. É o mesmo conceito que se usa hoje, quando a mixagem do som é do tipo 3D (Dolby Atmos, etc.), com o objetivo de imergir a plateia na ação do filme.

Uma série de razões levaram o filme em Cinerama a ser extinto, e os cinemas equipados para projetá-los a trocarem os seus equipamentos para a projeção em 70 mm, mantendo a tela anterior. A película em 70 mm pode ser oticamente distorcida, de modo a emular a curvatura da tela de Cinerama, daí o nome de fantasia de “Super Cinerama” ou “Cinerama 70”.

Quando o formato do Todd-AO foi desenvolvido os seus projetistas tinham esta ideia em mente. Michael Todd, seu proponente, chamou o Todd-AO de “Cinerama outa one hole”. Como “hole” (“buraco”) Todd se refere à filmagem e projeção na tela de Cinerama com uma única lente. Um dos filmes idealizados para este tipo de projeção foi a comédia de Stanley Kramer “Deu a Louca no Mundo”, exibido em Cinerama 70 no Cinema Roxy.

O processo em Dimensão 150

A filmagem em Dimensão 150 (D-150) foi feita com lentes desenhadas para permitir que a apresentação dos filmes fosse feita em uma tela de 150 graus, próxima, portanto, da tela de Cinerama, que tem 146 graus. O D-150 é subsequente ao Todd-AO, porém mantendo alguns dos seus princípios de formatação, como, por exemplo, o áudio com 5 canais na tela e 1 surround, seis no total. Além disso, o fotograma original, tal com o Todd-AO, poderia ser exibido sem aquela curvatura, ou seja, tela de 70 mm “plana” convencional.

Apenas dois filmes foram rodados em Dimensão 150: o inexpressivo “A Bíblia” e “Patton”, este último visto por alguns como apologia ao estado de guerra.

Na época em que Patton foi exibido no Rio de Janeiro, a apresentação não foi feita em Dimensão 150 (Cinema Palácio e circuito), bem ao lado do Metro-Boavista, que foi montado para este tipo de projeção.

A projeção em Dimensão 150

Ao contrário das filmagens em D-150, a projeção neste formato continuou a existir, para sorte dos fãs de cinema. O Metro-Boavista havia sido montado com o que de mais moderno existia em projeção de filmes. A tela D-150 poderia ser aproveitada para todos os outros tipos de formato, inclusive 35 mm plano e anamórfico. O Metro usou uma tela com a borda do enquadramento dos fotogramas ajustada eletricamente junto com a abertura das cortinas, dando assim um espetáculo de exibição diferente dos outros cinemas.

Antes do filme começar, os créditos da apresentação são projetados anunciando o formato:

O Metro-Boavista usou projetores de 35/70 mm Cinemeccanica Victoria 8, com lentes para D-150. Um projetor deste tipo em outra cabine pode ser visto a seguir:

Todas as apresentações em Dimensão 150 que eu assisti no Metro-Boavista foram simplesmente espetaculares. Depois de um certo tempo, o Metro começou a projetar filmes em 70 mm convencionais, mas na mesma tela de D-150.

Quando o home vídeo não reflete as apresentações em Dimensão 150

Na falta de cinemas para 70 mm, de longa data o colecionador de filmes se vê compelido a guardar a sua memória com as edições de home vídeo. Infelizmente, nem todas essas edições salvaguardam as características das apresentações originais, e nem me refiro à tela curva, que é possível simular no vídeo em SmileBox, mas aos segmentos de abertura, intervalo e saída, sem falar na mixagem, que é constantemente adulterada.

Uma das apresentações em home vídeo que me deixou chocado com esta displicência foi a do filme “Kelly’s Heroes” (no Brasil, “Os Guerreiros Pilantras”). Na edição em Laserdisc já se via o desastre: a trilha estereofônica de 6 canais era reproduzida em Mono. Abertura e outros segmentos nem pensar, um horror!

Na versão em Blu-Ray, editada junto com “Where Eagles Dare” (no Brasil “O Desafio das Águias”), do mesmo diretor Brian G. Hutton, estrelando Clint Eastwood, aparece uma pequena correção na trilha sonora, desaparecendo o mono, substituído por DTS HD MA 5.1, mas ainda com a destruição do diálogo direcional. Os segmentos de abertura, intervalo e saída não foram recuperados. Há a perspectiva de uma nova edição, mas até agora não tive notícia se haverá a recuperação da apresentação original.

O filme em si é banal, mas é divertido, com tons de comédia paroquial. A estória se desenvolve a partir da ambição de soldados na segunda guerra mundial de resgatar um ouro confiscado e guardado pelos nazistas. Do lado pitoresco do roteiro, é exibida a desorganização, falta de seriedade, e outros aspectos negativos do típico soldado americano daquela época.

Os personagens discursam sobre a superioridade do tanque alemão, apelidado de Tiger, quando comparado ao Sherman norte-americano, mas as balas dos guerreiros pilantras desmentem a superioridade do soldado inimigo. No final do filme, um soldado alemão deles se junta ao grupo que queria retirar o ouro da cidade sem ser visto.

Como o filme é uma comédia, a gente deixa para lá as gafes. Uma delas é a do sargento Oddball, interpretado por Donald Sutherland com a aparência de um hippie dos anos 60 vivendo em comunidade, e com o linguajar típico pertinente, expressões que jamais poderiam ter existido na década de 1940.

Parte do elenco de apoio também segue a típica comédia americana, como Don Rickles interpretando Crapgame, mas o resto vale a pena ser visto, particularmente o ator Carrol O’Connor, interpretando o General Colt. O’Connor é um comediante nato e mostra na tela um general neurótico e preocupado com a inércia do exército. A comédia, neste ponto do roteiro, é o melhor momento do filme.

O importante é que um filme deste tipo deveria ser melhor preservado e uma cópia em vídeo capaz de pelo menos lembrar a sua apresentação nos cinemas, nem digo em Dimensão 150 emulada por SmileBox, mas pelo menos com imagem e som decentes!

Embora Kelly’s Heroes tenha sido rodado em Panavision 35 mm, e depois ampliado para 70 mm, neste caso para projeção em D-150, ele foi idealizado para telas de maior tamanho e curvatura. Mesmo sendo quase impossível ter em caso este tipo de exibição, a preservação do espetáculo original deveria, e pode, ser preservada em home vídeo. [Webinsider]

 

 

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In Cinerama

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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