Kind of Blue, de Miles Davis: um dos maiores discos de Jazz de todos os tempos

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Discode Miles Davis é considerado um dos melhores de todos os tempos

Kind Of Blue, disco do trompetista Miles Davis, ícone do Cool Jazz, teve mais de 500 edições lançadas, a última delas em fitas de 2 canais em 15 i.p.s., a preço elevado. O disco, de 1959, é considerado por muitos um dos maiores discos de todos os tempos.

 

Em 1959, a CBS gravou o trompetista Miles Davis, ícone do chamado “Cool Jazz”, junto com outros músicos de vanguarda da música jazzística, para o disco “Kind Of Blue”. O disco iria representar para muitos um dos maiores discos de Jazz jamais gravado. Estima-se hoje que foram lançadas cerca de 510 edições deste álbum, uma das últimas, bem recente, em fita magnética rodando a 15 i.p.s., por uma companhia esotérica italiana chamada Hemiolia, ao modesto preço de €778.69 (US$858.47 ou R$3564.99, no câmbio de hoje), para quem se encoraja de encomendar.

O disco tem o título sutil de “Kind Of Blue”, porque se refere a mudanças estruturais no Blues tradicional, que é a base de toda a música jazzística, antiga e moderna. Até então, o Jazz de vanguarda era baseado no Bebop e depois no Hard Bop, a partir do pós segunda guerra mundial, e o Cool Jazz propriamente dito não deixa de ser uma versão mais suave e introspectiva do Bop.

Se o ouvinte prestar atenção, vai notar neste e em outros discos do gênero uma interpretação muito pessoal, como se aquele músico estivesse sozinho no ambiente. Eu mesmo tenho vários discos neste estilo que me passam a impressão de que os músicos estão em outro planeta. Entretanto, todas as composições são interpretadas com sentimento uníssono e o conjunto perfeitamente integrado, ou seja, aqueles músicos, no silêncio do estúdio, parece que estão tocando uns para os outros.

A meu ver, na lista de músicos do Kind Of Blue, destacam-se John Coltrane (sax tenor), Bill Evans (piano) e Cannonball Adderley (sax alto), este último aquele mesmo que gravou com Sergio Mendes e o Bossa Rio, na década de 1960.

Na ilustração abaixo, é possível ver a presença desses músicos, fotografados no estúdio de gravação. Observa-se também uma foto de um deck onde a gravação foi feita:

O disco foi lançado em mono e em estéreo. Na década de 1950 e no início da década de 1960 a grande maioria dos discos elepês era lançado em mono mesmo, devido ao grande número de vitrolas deste tipo em uso. Com a popularização mais tarde do disco estereofônico várias gravações foram relançadas. Mas, no caso de Kind Of Blue isto já aconteceu em 1959.

Em tempos recentes a CBS lançou uma edição com um disco chamado de Dual Disc, formato que incorpora, de um lado, um DVD, e no outro um CD:

No lado do DVD, a gravação é oferecida em Dolby Digital 5.1 Surround, e PCM de 2 canais, a 48 kHz e 24 bits, podendo ser considerado áudio de “alta resolução”.

O Dual Disc é um desses formatos de mídia que pararam de ser lançados, assim como DAD, DVD-Audio e SACD. A incorporação de LPCM de 2 canais em uma resolução maior do que a do CD, torna a mídia do Dual Disc em um disco híbrido. O DAD chegou à resolução de 96 kHz e 24 bits em 2 canais, poderia ser tocada em um DVD player normal, parecia o ideal para a transcrição da música gravada, analógica ou digital, mas não teve sucesso.

No caso específico de Kind Of Blue, até hoje me parece que o seu valor como obra gravada é aquele do momento da gravação e da qualidade dos músicos que estão ali no estúdio. O músico de Jazz habitualmente “compõe” improvisando, à medida em que toca, e este disco não é exceção. A gravação propriamente dita, apesar de tão explorada em um número absurdo de lançamentos, é muito boa sim, mas não excepcional.

Ascensão e queda de um grande músico

Miles Davis esteve no Theatro Municipal do Rio de Janeiro no período em que eu ainda estava na faculdade, início da década de 1970. Eu chamei a Silvia Rabello para ir comigo, já que ela era super fã do Miles Davis.

Infelizmente, o grande músico surge no palco com um trompete elétrico, e dispara um estilo de música insuportável, que nada tem a ver com o estilo anterior que o disco Kind Of Blue, e tantos outros, mostram. Nós dois fomos embora chateados, e muita gente ali no teatro também se mandou.

Miles Davis teve vida complicada, chegou a ficar recluso por um tempo, o que está parcialmente ilustrado no filme “Miles Ahead” (no Brasil, “A vida de Miles Davis”). Interessante, é que em uma cena do filme, Miles é visto pedindo aos músicos que tocassem “Bossa”, uma das várias evidências da repercussão da Bossa Nova entre os músicos de Jazz, ironicamente classificada como “influenciada” pelo Cool Jazz.

Quem é fã do músico, volta sempre aos discos antigos. Kind Of Blue é especial para quem ouve, uma prazerosa lembrança de que o Jazz se transformou inúmeras vezes, em estilos sofisticados, ao longo das décadas. [Webinsider]

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Filme Miles Ahead é uma homenagem a Miles Davis

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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