Dalton Trumbo e as facetas de um homem incluído na lista negra

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The Brave One (Arenas Sangrentas) foi um filme produzido pelos irmãos King, a partir de um roteiro escrito por Dalton Trumbo, no período em que tinha o nome na lista negra. O filme foi premiado com um Oscar da melhor estória original e despertou a desconfiança de que Trumbo era o verdadeiro autor.

 

Na Hollywood do “studio system”, período onde a produção de filmes era controlada com mão de ferro pelos produtores, Dalton Trumbo era um dos roteiristas mais bem pagos, e um dos mais requisitados, devido à sua competência como escritor.

Mas o pós-guerra gerou preocupações de supostos patriotas, a antiga aliança com a Rússia se dissolveu e passou a fazer parte da chamada “guerra fria”. Iniciou-se uma infame caça às bruxas contra indivíduos de esquerda, e foi nesta caça que Dalton Trumbo entrou em uma lista negra, perdeu seu emprego, foi colocado na prisão por desacato à magistratura e ficou sem meios de voltar ao seu trabalho anterior.

Como a sua cabeça ainda estava em plena atividade, ele iniciou um processo de resistência à lista negra. Escreveu Roman Holiday, lançado em 1953, mas o roteiro foi entregue ao também roteirista na mira da extrema direita, Ian McLellan Hunter, quando este ainda não fazia parte da lista negra. Ian ganhou um Oscar, por conta do roteiro de Trumbo. Mas, ninguém ficou sabendo disso.

Dalton Trumbo havia criado o que se chamou depois de “the front”, que consistia em usar pseudônimos com os quais ele escreveria seus roteiros. Como era conhecido por todos os grandes estúdios da época, Trumbo recorreu aos irmãos Frank e Maurice King, aceitando receber o suficiente para sustentar a família.

Algum tempo depois, Trumbo escreveu um roteiro, baseado em uma estória amparada em sua experiência vivida no México, e que levou o título de The Brave One (no Brasil, “Arenas Sangrentas”). O roteiro era para ser um simples filme de família, dedicado ao público infantil. Mas, para surpresa dos irmãos King e do próprio Trumbo, o filme foi indicado ao Oscar de melhor estória original, e ganhou. Os irmãos King nomearam nos créditos como autor da estória um tal Robert Rich, que ninguém sabia quem era.

A partir daí os perseguidores da lista negra começaram a desconfiar que Robert Rich era o pseudônimo de Dalton Trumbo, e ameaçaram o estúdio  de boicote e fechamento. As ameaças não surtiram efeito e a partir deste e de provavelmente outros incidentes, a “frente” aumentou em número de colaboradores, com todos os roteiristas prejudicados e que precisavam uma forma de voltar às suas atividades e/ou sobreviver.

O filme

The Brave One é um filme sentimental, eu diria eficiente na sua mensagem do carinho de um menino chamado Leonardo pelo seu touro de estimação. O touro foi comprado por um milionário excêntrico, que deixou o touro ficar com Leonardo, como ele tanto queria. Infelizmente, ele morreu e a carta outorgando o touro a Leonardo desapareceu. Por causa disso, o touro é vendido para as touradas, e Leonardo vai ter que lutar para consegui-lo de volta.

O roteiro explicita a violência das touradas, embora não faça um discurso contra elas, ou seja, fica por conta da plateia entender ou não que elas são desumanas, e principalmente um show de pseudo machismo.

O filme realizado pelos irmãos King foi rodado em CinemaScope no México, com uma boa equipe, incluindo o experimentado diretor de fotografia Jack Cardiff e o excelente compositor Victor Young, autor da trilha sonora.

A edição em Blu-Ray

O selo VCI Classics lançou o disco em uma suposta restauração da cópia que sobrou do filme. Claramente, a restauração, se existiu, não deixou de expor problemas de oscilação na imagem, visível nos créditos e em vários outros segmentos do filme, inconsistência na gama de cores, entre uma tomada e outra, e com sinais evidentes de DNR, para “limpar” a imagem dos grãos da fotografia. O aspecto geral da imagem é razoável, mas peca muito no contraste, cuja dinâmica não é vista em muitas cenas. Em 1956, a relação de aspecto no CinemaScope era de 2.55:1, e no disco esta relação é quase idêntica.

O áudio original foi transcrito em duas opções: PCM 5.1 e 2.0, @ 48 kHz, 16 bits. A trilha 5.1 é descrita no menu do disco como “aprimorada”, seja lá que aprimoramento é esse. Um aspecto perceptível é a quase absoluta ausência do diálogo direcional, típico desta época do CinemaScope. Fica difícil saber se o filme foi feito assim, ou se o tal aprimoramento modificou a mixagem dos diálogos.

Incluída no disco, existe a opção de ouvir a trilha de Victor Young separada, gravada em PCM 2.0 estéreo. Esta trilha tem a duração de uns 30 minutos, e inclui os efeitos sonoplásticos do filme.

Gostando ou não do que está na tela, o mais importante aspecto de The Brave One é vê-lo como um artifício esperto de driblar gente de poder, cujo objetivo era a destruição pura e simples dos que foram acusados de comunistas traidores. Os roteiros de Dalton Trumbo foram escritos de forma direta, sem nenhum traço aparente de política envolvido. Basta ver os filmes que ele fez, e mais nada, para que qualquer um possa julgá-lo como ele de fato foi. [Webinsider]

 

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Dalton Trumbo e a luta contra a intolerância sobre um indivíduo

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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