A Segunda Guerra Mundial, eterno pano de fundo em filmes e seriados

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A Segunda Guerra Mundial segue presente em filmes e seriados. Talvez porque ainda há dúvidas a esclarecer e muito quantidade de material filmado na época.

 

É impressionante ainda hoje o histórico de filmes do passado e os atuais, que usaram e continuam usando a segunda guerra mundial como pano de fundo. E, atualmente, são os serviços de streaming que fazem o mesmo. Só no Apple TV+ surgiram agora dois seriados, um sobre os “Mestres do Ar” e o outro “The New Look”, este último sem título em português.

O primeiro seriado fala, talvez em formato romantizado, da vida dos pilotos da força aérea americana, principalmente, e da RAF, durante o momento da guerra quando as chamadas “fortalezas voadoras” foram usadas para bombardear alvos dentro da Alemanha. O segundo seriado mostra o envolvimento e os problemas sociais de mestres da alta costura francesa durante a ocupação nazista em Paris, notadamente de Coco Channel, que depois foi acusada de colaboracionista. Ambos os seriados são muito eloquentes, e valem a pena serem vistos.

O estudo da Segunda Guerra Mundial parece que nunca vai terminar

O meu saudoso pai, Católico praticante, era irmão da Ordem do Carmo, onde alguns frades carmelitas tinham vindo da Holanda, e vinham às vezes almoçar lá em casa. Ele também tinha um amigo alemão, que era engenheiro eletricista, trabalhava com geradores, que me “ensinou”, ainda criança, como tomar cerveja! Meu pai e eles conversavam sobre tudo, mas pouco me lembro de assuntos relativos à guerra. Nunca soube se este amigo alemão ainda estava vivendo na Europa quando a Segunda Guerra eclodiu. Um colega da UFRJ com quem trabalhei em pesquisa por vários anos, era francês e saiu de lá após a guerra. Sobre isso, ele me esclareceu muito daquilo que ele viveu e viu acontecer, não muito diferente do que alguns documentários mostraram.

Para mim, foi inicialmente no colégio secundário que eu aprendi o que era possível desse assunto, com bons professores de História, que nos incentivavam a estudar e conhecer todas as guerras e disputas de poder, e discutir se elas aconteceram com os mesmos objetivos de conquista e se a história havia se repetido entre uma guerra e outra.

O cinema e a propaganda filmada de ambos os lados

Nos cinemas da minha época de adolescente, proliferavam filmes vindos de Hollywood, contando o “heroísmo” dos soldados americanos. E o que esses filmes todos tinham em comum era a polarização entre mocinhos (soldados aliados) e bandidos (alemães e japoneses), sem que nada fosse discutido a este respeito. Somente com o correr do tempo, Hollywood deixou passar roteiros que procuravam olhar para os dois lados da mesma história. A última vez que eu vi isso foi nos dois filmes sobre Iwo Jima, dirigidos por Clint Eastwood.

Na época moderna, o filme/seriado “Das Boot”, sobre o tormento psicológico dentro de um submarino alemão, foi o grande influenciador da cinematografia de guerra, de Hollywood, inclusive. Basta ver o acima citado Mestres do Ar, que desenvolve uma narrativa em torno dos soldados como pessoas diante dos horrores da guerra, que foi exatamente o que o diretor Wolfgang Peterson fez em Das Boot.

Por décadas a fio, o tema “Segunda Guerra Mundial” foi assunto nunca totalmente esclarecido, talvez por isso mesmo o número excessivo de documentários a este respeito. Eles se beneficiaram amplamente das inúmeras filmagens, de propaganda ou pessoais, realizadas durante a guerra. Filmes apreendidos após a guerra e os que estavam arquivados têm sido muito usados por cineastas documentaristas.

Até onde eu vi em todos esses documentários, inclusive dos alemães, foi uma tentativa de explicar não só como o nazismo surgiu na Alemanha pós primeira guerra mundial, como entender a forma como Hitler levou as massas ao constante delírio nacionalista.

É bem provável, à luz da psicologia moderna, que Hitler fosse portador de transtorno bipolar, visto que ele era capaz de ser sedutor e gentil e de repente ter ataques histéricos quando contrariado. Em seus últimos anos de vida, existem fortes evidências de que Hitler estava doente, entupido de remédios, com sinais clínicos de Parkinson (exibidos em “Der Untergang)”, e possivelmente demência.

Mas, nada disso explica porque as massas o viam como uma espécie de entidade redentora do orgulho alemão. Esta explicação, segundo vários historiadores, vem da humilhação que o povo alemão sofreu, ao fim da primeira guerra mundial, da qual Hitler se beneficiou em todo o seu discurso político.

Notem que, até então, a Alemanha havia sido o país onde a ciência e a tecnologia avançaram significativamente. Na minha profissão como Bioquímico, por exemplo, eu tive que estudar e ensinar vias metabólicas importantes da fisiologia celular, com o nome dos cientistas alemães que as descobriram.

Desde o século 19, a bioquímica celular, antes um quebra-cabeças difícil de explicar, teve vias metabólicas de peso elucidadas em cada etapa. E basta dar dois exemplos:

O conhecido Ciclo de Krebs se deve a Hans Krebs, que também elucidou o Ciclo da Ureia, este último um importante meio de desintoxicação no organismo humano.

Outro exemplo foi a elucidação dos passos metabólicos da Via Glicolítica, batizada de Via de Embden-Meyerhof, em reconhecimento aos cientistas Gustav Embden e Otto Meyerhof. O conhecimento e o estudo pormenorizado desta via são, até hoje, de fundamental importância na compreensão da bioquímica humana.

O que Hitler fez politicamente antes de se tornar chanceler, foi exortar o povo alemão a resgatar a grandeza do desenvolvimento intelectual e científico do país, e com isso fazer um esforço para anular a humilhação pós primeira guerra mundial. Tudo faz crer que o povo aceitou o discurso, e o via mais como uma espécie de enviado de Deus para resgatar a dignidade da Alemanha.

O canto nacionalista do futuro ditador nada teve a haver com o que veio depois. No início, a anexação de terras para a expansão territorial foi vista como heroica e necessária pelo povo alemão, e Hitler vislumbrado como o ator inquestionável do orgulho de seus súditos.

Mas, como sempre, o controle opressivo da Alemanha e o início da guerra mudaram tudo, e dali para a frente nada ficou como antes. Os aliados de Hitler, como o histriônico fascista Benito Mussolini, e os membros do Império Japonês, eram também ditadores, e todos desejam o domínio de toda a Europa e da Ásia Oriental, respectivamente.

O que deu errado?

Ficou claro, no estudo da Segunda Guerra, que beligerantes nunca devem guerrear em duas frentes, como Hitler fez ao dominar e controlar o lado oeste, mas depois invadir e tentar exterminar os comunistas diretamente dentro da Rússia, país onde seu ditador já tinha mostrado ser um assassino em massa, e por isso, potencialmente perigoso, sem falar na sua existência como dono de uma gigantesca força armada.

A arrogância e a prepotência fazem parte de uma personalidade narcisista, que leva seus portadores a um eventual fracasso, e neste caso, à total destruição dos povos subjugados a estes desvios de caráter. Milhões de pessoas foram vítimas, entre civis e militares, de todos os tipos de arbitrariedade de ambos os lados. Então, essa estória do cinema de bandidos e mocinhos cai por terra, quando os aliados tomaram a decisão de arrasar com bombardeiros cidades alemãs inteiras, matando os civis que lá estavam.

O bombardeio de Dresden, por exemplo, foi executado depois do término da guerra, comandado por um militar inglês lunático conhecido como Arthur “Bomber” Harris, deixando depois uma péssima impressão nos que sobreviveram.

A história nos mostra que regimes autoritários e impérios eventualmente desaparecem. Alguns desses regimes parece que nunca irão acabar, mas a história prova que isso não é verdade.

Existe também uma ironia política dentro de países autoritários, no que tange ao desenvolvimento da tecnologia. Desde décadas para cá, os progressos conquistados e vendidos por povos sem ditadura, deixaram no ocaso os que ficaram controlados por regimes de exceção, cujas populações são muitas vezes castradas e/ou reprimidas no seu potencial de consumo. O consumismo tem um lado nefasto e injusto, mas se não fosse ele uma grande parte dos avanços tecnológicos não iria ser possível.

Em última análise, regimes autoritários escravizam o povo. E talvez o pior tipo de autoritarismo é aquele disfarçado de regime democrático!

No frigir dos ovos, e no final das contas, é sempre a liberdade, que, em toda a sua plenitude educacional, pode propiciar o avanço de uma população ou país, de forma correta e sadia.

A segunda guerra mundial trouxe exemplos do que não deve ser feito na administração do bem público. Ao longo de sua história, vários países europeus estabeleceram colônias exploratórias em outros continentes – séculos antes da segunda guerra mundial, mas isso é assunto para outro filme! [Webinsider]

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Der Untergang

 

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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