Com a entrada em operação do tvOS 12 era de se esperar a imediata reprodução dos serviços de streaming com a opção de Dolby Atmos, o que não aconteceu. Foi preciso que o suporte da Apple criasse soluções para o problema e os resultados foram compensadores.
Aconteceu mesmo: no dia 17 de setembro passado, como, aliás, era previsto, a Apple disponibilizou a atualização para o sistema operacional do Apple TV, saindo do release 11 para o 12. A principal novidade foi o aparecimento da reprodução de Dolby Atmos, sem dúvida um dos maiores avanços na reprodução do som multicanal em cinema e em casa.
Este tipo de formato avançado é possível quando o provedor de sinal transmite nativamente com Dolby Digital Plus, que é o caso do Netflix, que eu assino. Acho inconveniente e injusto ter que pagar por 4 telas para poder ter o benefício, mas o resultado no final acaba compensando, por dar acesso à tecnologia que o serviço pode oferecer. E, nos últimos anos, o Netflix melhorou muito a qualidade de imagem, seu maior ponto fraco, restando apenas o áudio, mas chegou ao fim com a entrada em ação do Dolby Atmos.
No dia 17, data em que o tvOS 12 entrou em operação, a atualização somente foi liberada lá pelo meio da tarde, visto que o sinal vem da California, cerca de 4 horas atrás do horário de Brasília. E depois de atualizado, a surpresa: o Netflix não oferecia Dolby Atmos como previsto!
O que acontece nesses casos é o seguinte: o fabricante do equipamento é responsável pela adaptação do aplicativo aos recursos disponíveis. E eu confirmei isso, ao consultar naquele dia o suporte do Netflix. Cabia, portanto, à Apple, providenciar tal mudança, o que, aparentemente, não aconteceu a tempo.
A partir daí, o meu contato com o suporte do Apple TV se tornou decisivo, e logo de cara eu fiquei sabendo que o meu relato tinha sido o primeiro que comunicou a eles o impedimento da reprodução. Por conta disso, o caso foi levado ao setor de programação da empresa, e me foi pedido um prazo de pelo menos 3 dias para que houvesse uma solução.
Inicialmente, no meu contato com o suporte, eu fiz um relato contando como o aparelho foi configurado de maneira a reproduzir o Dolby Atmos. Logo após a atualização terminada, foi preciso entrar no applet de configuração e achar a reprodução de áudio e vídeo. Na de áudio, alguns ajustes foram mudados desde as versões beta do sistema.
Na versão definitiva, houve redução para ajuste somente da reprodução por conversão do sinal de áudio, cujo valor padrão é “habilitado”. Mas, com este ajuste a opção do Dolby Atmos não aparece. Ao desabilitar a conversão, o sistema rapidamente identifica a conexão externa com um equipamento com decodificador Atmos, e a partir daí não é preciso fazer mais nada.
As etapas da adaptação
Antes de qualquer outra providência, eu fui, por sugestão do suporte, para a Apple Store, localizei o Netflix e lá havia uma oferta de atualização, que foi imediatamente feita, mas que infelizmente não solucionou o problema. Eu fotografei as telas com e sem o Apple TV, a pedido do suporte e as enviei para que eles vissem a referência do mesmo aplicativo, só que direto em uso na TV, que aceita tanto Dolby Vision como Atmos.
Depois disso, nenhuma outra atualização se tornou disponível. Mas, por incrível que pareça, no dia 19 de setembro, eu rodo todo o sistema e voilá, o mostrador do receiver acusa sinal com Dolby Atmos. Normalmente, é o aplicativo que indica na tela de informações do programa o tipo de sinal disponível, com a exibição dos respectivos logos, como HDR, Dolby Vision e Dolby Atmos. No entanto, o logo do Dolby Atmos não estava lá. Como é que pode? Só pode se houver erro de software!
É tecnicamente possível, creio eu, que aplicativos se auto atualizem no background, sem que o usuário perceba, ou que pequenas modificações aconteçam em tempo real (“on the fly”), na partida do aplicativo. Isso acontece rotineiramente quando se roda um aplicativo no computador, e porque não seria possível com um programa escrito para streaming? Este tipo de atualização tanto pode ter sido anteriormente baixada no background (com o programa ativo naquele momento) ou então oferecida na próxima partida do aplicativo.
Diante da descoberta precoce (o suporte não havia me contatado ainda para dizer que estava tudo resolvido), eu rodei um monte de programas. Alguns já indicavam Dolby Atmos com o logo, outros ainda não, e dentro de um determinado seriado, indicado com o logo do Dolby Atmos, em alguns episódios o som com este formato não foi reproduzido, e sim trocado por PCM multicanal, como anteriormente.
Resultados práticos
O meu caso no suporte foi a partir de ontem, 19/09, encerrado. Antes, eu tirei mais algumas fotos e mandei para lá, mas sugerindo que se pesquisasse tudo isso mais a fundo. Em tese, haveria espaço para melhoramentos importantes, como no aplicativo do YouTube, que na TV reproduz qualquer tipo de HDR, mas no Apple TV não.
Até agora, todas as reproduções de áudio 3D que eu consegui foram possíveis através de discos Blu-Ray, seja com Dolby Atmos ou com DTS:X, ambos competentes como codecs.
O número de títulos em Blu-Ray com Dolby Atmos, inclusive os vendidos por aqui, é significativamente maior, em discos com som 3D disponível. E aparentemente, o mesmo sucesso se repete com os serviços de streaming.
Eu tenho observado que o uso de Dolby Atmos em seriados é imprevisível. Em vários casos ele não acrescenta nada de importante. E por quê? Porque os programas de televisão seguem um princípio de construção onde os diálogos têm prevalência em quase todo o roteiro. Em outras palavras, a televisão sobrevive da reprodução da voz, muito mais do que da imagem, herança provável do tempo do rádio, de onde as emissoras de TV buscaram a sua identidade.
Isso faz com que efeitos sonoplásticos se tornem mais esparsos e consequentemente menos impactantes na percepção áudio visual. Ou seja, se tirarmos o Dolby Atmos dessa equação, poderá não fazer diferença alguma!
Por outro lado, todo melhoramento é benéfico! Se bem não faz, mal também não vai fazer. Algo semelhante se nota com o HDR em programas de streaming. O principal objetivo do HDR é tornar melhor visíveis e com cores mais naturais todos os objetos de cena. Por isso mesmo, o nível de resolução de cores atinge um mínimo de 10 bpp (bits por pixel), com o HDR 10, e pode chegar a 12 bpp com o Dolby Vision.
Vários desses programas pouco se beneficiam do sinal com HDR, mas a estória é a mesma: com sinal HDR a palheta de cores é outra, sempre para melhor!
Mesmo com os tropeços naturais de adaptação, a introdução do Dolby Atmos no tvOS 12 da Apple foi altamente positiva, principalmente se considerarmos ser este o único equipamento desta classe capaz de passar sinal Dolby Vision e Atmos simultaneamente. Pessoalmente, eu não vejo sentido conectar o Apple TV somente a uma TV, e sim inicialmente direcionado a um processador ou receiver competente. Mas, isso sou eu, o usuário final faz dele o uso que melhor lhe aprouver. Outrolado_
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Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.