O encontro dos que mexem com internet

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Denis Carrilho

Dia cinco de julho, sábado, foi o dia do 7º Encontro de Web Design, realizado pela Arteccom. O evento aconteceu no Hotel Glória, Rio de Janeiro e atraiu centenas de webdesigners, estudantes, empresários, e demais interessados no meio interativo. Entre os principais temas abordados, o mercado de trabalho para o profissional web ganhou destaque.

Valorizando o design nacional

O primeiro palestrante, Freddy Van Camp, designer, professor e diretor da Escola Superior de Desenho Industrial da UERJ, falou da valorização do design nacional.
Segundo ele, no Brasil há muitas oportunidades nessa área. É preciso, porém, investimento. Ele disse que por insegurança tendemos a ver os produtos estrangeiros como superiores, melhores que aqueles produzidos por aqui. Mas, para que possamos mudar essa realidade, é preciso mudar também essa forma de pensamento.

O investimento em design é muito barato, e compensa, pois, apesar de seu baixo custo, comparado a outros investimentos, ele agrega muito valor ao um produto, um valor imaterial, que é o capital intelectual. Esses investimentos em inteligência, talvez sejam uma saída para o abismo da exclusão digital no país.

Nesse cenário também se inclui o webdesign, que foi definido por Freddy durante a palestra como “design de interação”, que é a soma da estética com a cultura; e da tecnologia com as ciências humanas. A vida humana é interativa, desde que nascemos usamos emoções e sentimentos. Assim, com a tecnologia interativa, nossas vidas podem ser transformadas, permitindo que tenhamos mais qualidade de vida.

Além disso, aumenta–se também o emprego, fator diretamente ligado à qualidade de vida de uma sociedade. Freddy concluiu dizendo que a boa tecnologia em si não é o bastante, é preciso também um desenvolvimento cultural, que permita uma interação plena com essas tecnologias. A solução também passa pelo software livre, que é um dos caminhos da inclusão digital, possibilitando a determinadas comunidades o acesso a uma tecnologia que permita abrir horizontes.

Na cama com a internet

Em seguida foi a vez de Suzana Apelbaum, com o tema “Na cama com a Internet”. Simulando um talk–show ao estilo Jô Soares, a diretora de criação da AgênciaClick foi personagem de uma bem–humorada entrevista e começou falando de seus trabalhos, e do mito que é o Festival de Cannes.

Ao ser entrevistada pelo ator Celso André, ela disse, que num festival como aquele não há favoritos, e que, vez ou outra, acontecem umas “zebras”. Segundo ela, existem alguns caminhos que podem ser seguidos para uma melhor aceitação no festival. “Usar temas universais”, como por exemplo sexo ou esporte. Os jurados na sua maioria são estrangeiros, e podem não entender anúncios de contexto. Claro, que, em determinadas situações, o contexto pode ajudar.

Suzana mostrou alguns banners feitos pela agência para divulgar a nova sala de chat do Selig, serviço WAP do iG, onde “casais” de celulares eram vistos “namorando”. Suzana mostrou também o 404, um projeto experimental da agência onde são usados elementos de teatro e cinema para mostrar casos onde a web não dá certo.

Outra peça interessante mostrada por Suzana foi o banner “TPM” para o canal Mulher da MSN Brasil. Feito em Flash, ao passarmos o mouse por cima, ouvíamos uma voz feminina entrecortada, pedindo atenção. Mas, quando clicávamos, “ela” reagia com gritos e reclamações. Suzana seguiu mostrando outros trabalhos, e começou a falar do processo criativo desmistificando o ambiente de agência, onde é tudo muito corrido, e os prazos curtíssimos. Completou dizendo que a inspiração para bons trabalhos criativos não tem nada de glamour. Pelo contrário, está na vida, numa conversa de bar, em casos que acontecem com amigos, que podem servir de matéria–prima para peças publicitárias.

Suzana falou também da tão discutida “sombra do offline” na propaganda online e disse que em certas situações é vantagem trabalhar de mãos dadas com as campanhas do mundo real. Mas, por outro lado, existem aquelas que só funcionam online, como por exemplo uma ação de marketing viral, onde há um engajamento dos usuários, dando uma dimensão muito grande à campanha.

Design Enfermaria

Depois de Suzana, foi a vez de Luli Radfaher, e a “Design Enfermaria”. Na sua apresentação, Luli começou falando que o design tem que ser visto como um negócio, e não como arte.

O processo de produção de uma solução web é um processo cerebral. Luli também falou do profissional web, que precisa definir exatamente o que saber fazer, para não se transformar no homem–banda, aquele que consegue fazer tudo, mas nada bem feito.

Luli fez um paralelo com as expressões videomaker e webdesigner. Nos anos oitenta, qualquer pessoa que tivesse uma câmera e tivesse disposição para filmar alguma coisa, era chamado de videomaker. Assim como hoje, qualquer pessoa que “mexa com internet” é webdesigner. Segundo ele, essa expressão está fadada ao declínio, assim, como a expressão videomaker dos anos oitenta.

Luli falou que o desenvolvimento de um site começa na ponta do lápis, e só depois, usa–se o Photoshop. Para ele web sites têm que ser simples, objetivos. Se o usuário não tiver o que procura em poucos segundos, ele fecha a janela do browser e vai embora. Por outro lado, os profissionais web têm que ter uma formação sólida e específica, de preferência, mas sem fechar os olhos para outras tendências e tecnologias. É necessário, apenas, ter uma base consistente de conhecimentos, e, principalmente, nunca deixar de aprender.

Luli concluiu sua palestra dando algumas dicas para melhorar o desenvolvimento web, entre elas, transformar a marca em filosofia, conhecer o lugar do design, antecipar–se ao seu público e sempre ouvir o usuário.

Animação para a web e TV

Nando Costa começou falando da sua carreira na animação e mostrou alguns de seus trabalhos para clientes como MTV e Nike. Muitas dessas animações foram feitas em Flash e serviram como vinhetas curtas para fixar uma marca ou conceito, as chamadas “ids” no jargão televisivo.

Através de exemplos, Nando mostrou as similaridades entre a animação de web e TV. Ele falou que com a convergência das mídias, cria–se um terreno criativo cada vez mais propício para que a união dessas linguagens aconteça. Nando concluiu dizendo que ao contrário da web, o mercado de animação para a TV está bem menos saturado, e mais estável.

Mesa redonda: mercado de trabalho

Para fechar o evento foi a vez da mesa redonda mediada por Vicente Tardin, editor do Webinsider. Bruno Porto, da Associação dos Designers Gráficos/Rio, Bruno Lessa da Fábrica Digital, Luli Radfahrer, Suzana Apelbaum e Nando Costa foram expressar suas opiniões sobre o mercado de trabalho para o profissional web.

O que mais chamou a atenção no debate foi a relação entre a formação generalista e a especialização do profissional. Suzana falou que o profissional web que está começando tem que se especializar, mas sem deixar de prestar atenção em referências externas. O profissional web que está começando não pode ser desorientado.

O currículo formal ou o conhecimento prático também foram colocados lado a lado no debate. Nando disse que, primeiramente, é preciso ter um bom trabalho, mas sem descuidar–se da teoria.

Sobre a questão da remuneração pelos trabalhos na web, Luli chegou a conclusão de que o profissional tem que ser ponderado nesse caso e calcular a melhor forma de cobrar. No final, concluiu–se que o profissional web, para ter mais chances no mercado, tem que ser especializado numa área, sem deixar de olhar para outros campos, ter uma base sólida de conhecimentos, perseguir seus objetivos e nunca deixar de aprender, até com os seus erros. [Webinsider]

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