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Para o mercado, nada muda com a morte de Steve Jobs.

Em termos de inovação, porém, o futuro da Apple reside em apenas uma palavra-chave: conivência.

Grandes empresas de tecnologia como Apple, Google, Facebook e Microsoft funcionam como nações presidencialistas e sem um federalismo forte. Não importa quantos prefeitos e governadores reivindiquem decisões. A decisão final sempre irá passar pelo crivo do presidente.

Você pode ter dez ministros corruptos. Eles só continuam no cargo se você for conivente. O mesmo vale para programadores e engenheiros de software. A conivência com falhas é universal para cargos e funções.

Desde que Bill Gates deixou o cotidiano da empresa para se dedicar apenas à filantropia, o mundo nunca mais viu sequer um grande produto da Microsoft. Trinta anos depois, a Microsoft tornara-se uma empresa sem orientação clara e definida, mesmo tendo alguns dos melhores engenheiros do mundo.

Quem ainda escuta alguma coisa do Yahoo? Perdemos as contas de quantos presidentes e CEOs começaram a dar as cartas, sempre com as decisões questionadas ou emperradas por vários “governadores”. Qual foi o último grande produto do Yahoo, aliás?

Temos a America Online (AOL) que durante anos foi sinônimo de internet e há anos ninguém sabe quem dá as cartas por lá. Aliás, muita gente nem sabe que a AOL ainda existe.

O Huffington Post surgiu do zero e só se transformou no gigante que é hoje por causa de um nome: Ariana Huffington. Para o bem ou para o mal, nada acontece sem passar por ela. Ariana tirou do sério ninguém menos que o editor-executivo do New York Times, Bill Keller. Ele deixou o jornal em setembro de 2011.

Facebook e Google, com seus milhares de programadores e engenheiros geniais e incríveis, não colocam nada no mercado sem o aval de seus presidentes-fundadores. Nada.

Todas essas pessoas são diferentes entre si, mas têm algo em comum além da inteligência: elas não são coniventes com a mediocridade.

E não há nada de sobrenatural ou sagrado nisso.

Não são coniventes com produtos que não mostrem algo de novo e inovador ao mundo. Mesmo que não funcione hoje – e a Apple é um ótimo exemplo – mas que apresente um conceito não explorado que irá funcionar amanhã. E se funciona hoje, que funcione do jeito mais eficiente e simples que se pode conseguir com a tecnologia disponível hoje.

A celeuma sobre a genialidade de Steve Jobs deixa passar a questão mais prática e humana na inovação: a conivência com resultados, produtos e ações medíocres.

Todo esse blá blá blá de “campo de distorção da realidade” que o Steve Jobs tinha, bom, é de fato um assunto ótimo de comentar, estudar e procurar entender. No dia a dia, na hora de fazer acontecer, Steve Jobs podia ser tudo, menos conivente com falhas e mediocridade. Daí surgiram, inclusive, todos os relatos de ex-funcionários da Apple que foram profissionalmente humilhados em público na empresa.

É por isso que é inútil questionar, hoje, se Tim Cook – o novo CEO da Apple – é um substituto à altura. Não se trata disso. Antes de mais nada, o que o mercado e os usuários vão descobrir, em breve, é se Tim Cook conseguirá manter a política de não-conivência com falhas que a Apple parece ter perdido em 2011.

Steve Jobs deixou o comando da Apple bem antes de morrer. Quando ele apareceu no keynote de lançamento do iPad, foi uma grande surpresa. Mas a questão era clara: o iPad foi o último produto verdadeiramente abraçado por Jobs, do rabisco (conceito) ao lançamento. Era um filho, como tantos outros.

Desde então, o fragmentado comando da Apple passou a ser bem mais conivente.

Essa conivência permitiu a Apple lançar um sistema operacional feito o Mac OS X Lion, um produto longe de ser bem acabado e mais longe ainda das expectativas da própria empresa.

A mesma conivência tem levado a Apple a demorar inexplicáveis meses para corrigir bugs simples do Lion. A mesma conivência permite à empresa fazer um barulho enorme para lançar um iPhone 4S. Que é o mesmo telefone – inclusive, com as mesmas medidas e peso – trazendo um hardware repaginado.

Com a política de não-conivência de Jobs, particularmente também duvido que os novos Macbooks (Air e Pro) tivessem sido lançados, nesta versão de 2011, apenas como meras repaginações de hardware. Sem absolutamente nada de novo, nada de inovador em relação às edições anteriores, nada para encher os olhos. Um (des)feito inédito em toda a história da linha de Macbooks.

É memorável o e-mail (leia aqui) que Steve Jobs enviou aos funcionários da Apple, em 2008, quando lançaram o serviço MobileMe. Havia tantos bugs que Jobs mandou tirar tudo do ar até os programadores resolverem. Deixou milhares de usuários na mão, mas quando o MobileMe voltou a ser oferecido, tornou-se um dos melhores recursos para quem depende do Macbook para trabalhar.

E do MobileMe surge a atual grande aposta da Apple: a migração para o iCloud, por onde vamos guardar na “nuvem” nossos arquivos, músicas, filmes e bibliotecas do iTunes, iPhone, iPad e tantos outros aparelhos.

Com Steve Jobs, as coisas funcionavam assim. Como também funcionam para Larry Page, Sergey Brin, Mark Zuckerberg, Ariana Huffington e como funcionou para Bill Gates até um tempo atrás.

E como funcionam para tantos outros presidentes. Porque eles não são meros presidentes de uma firma. A empresa é a vida deles, a essência e razão de existir. Um produto medíocre não é apenas uma falha comercial, não representa apenas um prejuízo financeiro, não é algo para se colocar a culpa em terceiros. É uma falha de competência deles. Representa um atestado de conivência com a mediocridade.

E a última coisa que um profissional acima da média aceita é ser vinculado a resultados medíocres.

Ninguém sabe, ainda, até que ponto Tim Cook será conivente com falhas de um punhado de pessoas que talvez estejam ali para “fazer carreira” e pagar as contas no final do mês.

Ele é ex-funcionário da IBM, que durante anos enfrentou o mesmo dilema e levou mais tempo ainda para se reerguer. Como usuário, igual a qualquer outro, eu apenas torço que ele tenha aprendido alguma coisa lá. [Webinsider]

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Paulo Rebêlo é diretor da Paradox Zero e editor na Editora Paradoxum. Consultor em tecnologia, estratégias digitais, gestão e políticas públicas.

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5 respostas

  1. Alex Novelli: você tem toda razão. Esqueci por completo do Final Cut. Quem gostou muito disso tudo foi a Adobe.

    Rodrigo: você tem razão, o Kinect também é um produto muito bom. Mas a plataforma de games da Microsoft uma empresa à parte, com fusões de outras desenvolvedoras e distribuidoras.

    André e Viviane: fico contente, obrigado.

  2. Olá Paulo, adorei a matéria! Parabéns!
    Faltou mencionar a derrota que foi o Final Cut Pro X também, que foi lançado pouco antes do Lion e que era tido como referência no mundo da edição de vídeos.
    Se você entrar na App Store e ver os comentários dos editores profissionais postados ali na página do produto, vai ficar de cabelo em pé.
    Decepcionante…

  3. Oi Paulo,

    Super concordo com tudo que você disse! Por isso, a preocupação é tão grande quanto ao futuro da Apple…e na verdade, o que nos afeta, se os produtos que consumimos continuarão tão bons e inovadores. A concorrência é que devia estar torcendo arduamente para o desencarnar de Jobs ne…enfim, é ver pra crer!

    beijos queridão!

  4. Na minha opinião a Microsoft lançou sim um produto ótimo chamado kinect que até entrou pro livro dos recordes pelo maior número de venda em poucos dias. Acho que podemos chamar de um produto matador.

    O grande problema é que sempre esperamos algo novo em relação a design da Apple só que dessa vez não houve mudanças neste sentido mas sim na parte de software com o/a siri.

    Vamos aguardar os próximos lançamentos…

  5. Excepcional a sua perspicácia em identificar essa característica comum em empreendedores de sucesso.

    Mesmo que indiretamente, na minha opinião, foi a melhor homenagem póstuma ao Steve Jobs que tive conhecimento até agora.

    Paulo Rebêlo, você acaba de ganhar um fã.

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