Histórias das marcas: o início de Nokia e Motorola

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Nokia – Finlândia. Celulares. 1865.

A linguagem foi a primeira grande revolução humana. Resultado de um cérebro cada vez mais complexo, ela nos deu muitas vantagens na luta pela sobrevivência. Depois domamos o fogo e com ele passamos a ter melhores armas e refeições bem mais digeríveis.

Finalmente chegamos à escrita, um modo de guardar, acumular e perpetuar nosso conhecimento. Com o advento do papel, a linguagem escrita tornou mais fácil e confiável a comunicação à distância. Se um General precisasse passar um comunicado para suas tropas, bastava escrevê-lo e enviá-lo. Baseados no texto, seus soldados poderiam seguir as ordens criteriosamente. Com o passar dos anos desenvolvemos tecnologias mais complexas.

A nossa voz há muito já pode chegar em qualquer lugar usando o telefone, assim como nossos textos em formato de bits também chegam em caixas de e-mails e em celulares via SMS.

nokiaO mais interessante é saber que a Nokia acompanhou esse mesmo desenvolvimento. Tudo começou quando o engenheiro finlandês Fredrik Idestam fundou uma fábrica de celulose. Em três anos já estava vendendo bastante papel e surgiu a necessidade de expandir os negócios. Idestam então construiu uma outra fábrica, próxima da primeira, às margens de um rio chamado Nokianvirta, nas imediações de uma cidade com nome parecido, Nokia.

Em mais três anos Idestam chamou o amigo Leo Mechelin para formar com ele uma sociedade, de modo a construir uma empresa ainda maior. Mechelin colocou seu dinheiro na companhia, mas com condição de ele Fredrik aceitasse investir em eletricidade, ramo relativamente novo à época.

Já rebatizado como Nokia, o empreendimento saiu do papel para a produção de energia. Tudo foi bem no começo, mas depois da I Guerra Mundial eles quase faliram. Isso só não aconteceu porque outra empresa entrou na história e pagou as dívidas. Ela se chamava Finnish Rubber Works e atuava perto da fábrica da Nokia, produzindo materiais em borracha e usando a energia gerada por eles. Para não ficarem sem luz, eles fizeram um acordo e adquiriram a companhia quase falida.

Mais tarde a Finnish Rubber Works compraria a Finnish Cable Works, uma produtora de fios elétricos, telefones e telégrafos. Foi a partir dessa aquisição que os negócios da Nokia deixaram de ser papel, energia e borracha para ganharem espaço no ramo de telecomunicações.

Durante a década de 60 muito dinheiro foi investido em pesquisas para criação de novos aparelhos eletrônicos. A companhia vendia muita coisa boa, mas ainda não era uma multinacional. No entanto, no início da década de 90, os diretores pegam essa experiência na fabricação de eletrônicos e decidem apostar todas suas fichas na produção de aparelhos celulares.

nokia1011Mesmo antes, ainda nos anos 80, a marca já lançara telefones desse tipo. No entanto, todos os aparelhos eram enormes e nada portáteis. Pesquisando à fundo uma maneira de diminuir os produtos, eles alcançaram o sucesso no mercado para uso pessoal em 1992 com o Nokia 1011, o primeiro telefone GSM produzido em massa.

De lá para cá foram muitos os sucessos, a ponto de a Nokia tornar-se a maior fabricante de aparelhos celulares do planeta.

Curiosidades de sobremesa

1. De onde vem o termo Nokia? Na verdade esse é o nome de um pequeno mamífero que habitava a região na qual passa o rio, uma espécie de marta. O curso d’água acabou ganhando o mesmo nome, assim como a cidade que foi construída em suas margens. Então temos, por ordem, um bicho chamado Nokia, que deu a um rio o seu nome. O rio, por sua vez, batizou a cidade. A cidade batizou a empresa.

2. O ringtone da Nokia ficou muito conhecido no mundo todo. Ele apareceu a primeira vez em 1994, no aparelho Nokia 2100 series. É baseado numa composição do século XIX chamada Gran Vals, do músico Francisco Tarrega.

Motorola – Estados Unidos. Eletrônicos. 1928.

No tempo da nossa avó, os jovens ouviam discos na vitrola. E o que isso tem a ver com uma das maiores fábricas de aparelhos celulares do mundo? Para entender, vamos relembrar a trajetória dos irmãos Paul e Joseph Galvin, fundadores da empresa de eletrônica Galvin Manufacturing.

O primeiro produto deles foi uma ótima sacada: um eliminador de pilha para ser ligado no rádio. Com ele não era preciso gastar dinheiro comprando baterias, bastava ligar direto na tomada.

motorolaA partir de 1930 surgiu na companhia a vontade de produzir eletrônicos portáteis. Naqueles tempos o grande mercado nesse segmento específico era a venda de rádios para automóveis. Os irmãos passaram a pesquisar e acabaram desenvolvendo um produto muito bom, batizado com um nome que pretendia associar os conceitos de carro (motorcar, em inglês) e Victrola, uma marca de aparelhos de som muito famosa à época. Com o tempo o rádio Motorola fez tanto sucesso que acabou dando nome à fábrica.

A empresa continuou investindo em rádios, vendendo receptores e handie talkies. Foram eles os primeiros a apresentar ao mercado um rádio FM direcional portátil, usado pelo exército americano durante a II Guerra Mundial.

Por todo esse trabalho, a experiência da Motorola deu a eles também a chance de comercializar o primeiro aparelho celular portátil do mundo. Pesando 794 gramas, ele foi lançado em 1984 no mercado norte-americano.

Daí para frente a empresa concentrou-se cada vez mais no novo nicho de mercado. Seu pioneirismo ofereceu a oportunidade de sair na frente dos outros, mas com o tempo a falta de inovações e estratégia de marketing coerentes fizeram com que a Motorola perdesse a liderança para a Nokia.

Curiosidades de sobremesa

startac 1. O nome do modelo conhecido popularmente como “tijolora” é Microtac, um dos primeiros celulares a entrar no mercado brasileiro.

Depois de um tempo, chic mesmo era quem tinha um celular Motorola modelo Startac, lembram?

2. O logo da empresa é uma letra M estilizada.

3. Algumas pessoas dizem que o nome da marca não teria sido inspirado pelo nome Victrola. Na verdade, o sufixo “ola” seria comumente usado nas palavras que se referissem a aparelhos de som.

victor4. A própria origem do termo Victrola reforça isso. Esse foi um dos produtos da Victor Talking Machine Company, uma empresa que melhorou muito o desempenho dos primeiros fonógrafos. O nome é a união de Victor com o tal sufixo “ola”.

E de onde vem esse Victor? Possivelmente do termo victory, vitória em inglês. Mas o interessante dessa marca é o logo, aquele com o cachorrinho olhando para dentro da caixa do gramofone.

O nome desse fox terrier era Nipper. Ele foi retratado pelo pintor Francis Barraud. Nipper olhava para o gramofone porque dali vinha a voz de seu falecido dono (irmão do pintor), o qual tinha deixado algumas gravações com sua voz.

O cãozinho, ao ouvi-lo, prestava atenção. Por isso que o slogan da Victrola era His Master’s Voice, mesmo nome do quadro pintado por Barraud. [Webinsider]

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Eduardo Nicholas (eduardonicholas@uol.com.br) é escritor e mantém o blog Dicionário das marcas e o Twitter @eduardonicholas.

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