Em sua biografia póstuma, I, Asimov, o escritor de ficção científica russo–americano Isaac Asimov reafirmou o que sempre disse ao longo de sua extensa e prolífica carreira: para ele, escritores se dividiam em duas categorias, os escritores–vitrais e os escritores–vidraças.
Vitrais seriam os autores que embelezavam demais as histórias com um estilo rebuscado, e vidraças, os que fariam o oposto, ou seja, contavam suas histórias sem, digamos, muita enrolação. Asimov se considerava, com o maior orgulho, um escritor–vidraça.
Asimov tinha moral para fazer uma afirmação dessas, por mais polêmica que pudesse soar: escreveu mais de 400 livros em quase cinqüenta anos, e até hoje, mais de dez anos após sua morte (contraiu AIDS através de uma transfusão de sangue, no início dos anos 1990), continua vendendo como água no mundo todo. E volta a ser publicado no Brasil, com a nova tradução do clássico Eu, Robô, por conta do filme homônimo de Alex Proyas que foi exibido recentemente no Brasil.
Se o filme, uma superprodução hollywoodiana com Will Smith e Bridget Moynahan e robôs inteiramente feitos por computação gráfica, tem dividido opiniões (fãs mais radicais do Bom Doutor, como Asimov, Ph.D em química, também era conhecido, afirmam que a película não passa de um emaranhado mal costurado de elementos de suas histórias de robôs), o livro é praticamente uma unanimidade: escrito com um estilo extremamente simples, a ponto de parecer ingênuo, mas ao mesmo tempo com muita engenhosidade (o quase–trocadilho é intencional), ele amarra com habilidade diversos contos ambientados num mesmo universo: um mundo futuro em que robôs convivem diariamente com os seres humanos, quase sempre em harmonia, e onde seus criadores ocasionalmente precisam se defrontar com defeitos… ou até questões mais profundas, de caráter filosófico, girando em torno da seguinte indagação: pode um robô ter consciência?
Em todas as histórias encontramos a personagem mais famosa de Asimov: a doutora Susan Calvin. Psicóloga de robôs, Calvin é descrita no livro quase sempre como uma solteirona amarga (exceto no primeiro conto da coletânea, Robbie, onde vemos de passagem uma Susan adolescente) que ama robôs e que, embora não os tenha inventado, irá participar ativamente da evolução deles ao longo de décadas na empresa U.S. Robôs, sempre solucionando problemas de funcionamento dos cérebros positrônicos deles e mediando confrontos ligados a questões de interpretação das famosas três leis da robótica.
Estas leis, que se tornaram clássicas, são as seguintes: 1) Um robô não pode ferir um ser humano, ou, através da inação, permitir que um ser humano seja ferido; 2) Um robô deve obedecer às ordens dadas por seres humanos, exceto se tais ordens entrarem em conflito com a primeira lei; 3) um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a primeira ou a segunda lei. Estas leis, primores de lógica, nos deram histórias interessantíssimas em Eu, Robô, histórias de crises e resoluções de problemas. Tudo de caráter absolutamente técnico, mas ao mesmo tempo cativante e nem um pouco chato. Histórias que mesmo quem não é fã do gênero costuma gostar.
Quanto ao estilo, devemos dar um desconto ao Bom Doutor: afinal, as histórias foram escritas no início da década de 1950, e o caráter ingênuo da narrativa (muito bem traduzido pelo escritor de ficção científica Jorge Luiz Calife) não retira a qualidade dos contos, todos muito bem elaborados, nem seu mérito, o de serem as primeiras histórias de ficção científica em que o robô não é visto como uma máquina assassina, mas como um instrumento – e, potencialmente, um aliado.
Uma rápida observação com relação ao filme: de fato, o roteiro não tem nada a ver com nenhum conto da coletânea Eu, Robô. Mas o personagem de Will Smith (o detetive Del Spooner, que odeia robôs) é diretamente inspirado em outro personagem asimoviano clássico, o detetive Elijah Baley, de Caves of Steel, que também não era lá muito fã de robôs) e o clima de suspense envolvendo a quebra das três leis da robótica também faz parte, de modo geral, de todos os contos. É preciso lembrar que, além de escritor de ficção científica, Asimov também foi autor de vários livros de mistério e suspense, e adorava o gênero policial. A única discrepância gritante entre filme e livro é que a Susan Calvin do cinema é linda, ao contrário da personagem do livro, descrita explicitamente como uma mulher feia e sem atrativos. Mas quanto a isso podemos perdoar Hollywood. [Webinsider]
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Fábio Fernandes
Fábio Fernandes é jornalista, tradutor e escritor. Na PUC-SP, é responsável pelo grupo de pesquisa Observatório do Futuro, que estuda narrativas de ficção científica e a forma como elas interpretam e são interpretadas pelo campo do real.
7 respostas
eu ñ achei nada sobre o resumo achei errado ñ ter nada porisso q ñ gostei …
roriver esse uol … desculpe eu sou sinsera xau melhoras esse uol
este artigo me ajudou em um trabalho de portugues
esse livro e um espetaculo mui bueno
Olá pessoal!!!
Alguém pode me indicar, algum site que esteja disponível, o capitulo 2 do livro EU ROBÔ (RAZÃO)
MUITO OBRIGADA
É um livro que marcou época, mostrando facetas não imaginadas na época sobre a relação entre humanos e robôs. É um dos livros sobre robôs, mas não é o único no assunto, sendo precursor de outros ótimos livros como Nós, Robôs, Os Robôs do Amanher e Os Robôs e o Império. Este último lança luz em outra vertente igualmente forte nas histórias de Asimov: O Império Galático, magistralmente descrito em Fundação, Fundação e o Império e Fundação II. A carreira brilhante de Asimov foi fechada com chave de ouro, ao entrelaçar e fundir seus principais universos, Império Galático e Robôs nos seus últimos livros, Crônicas da Fundação e Fundação e a Terra. Se puderem, leiam os livros, são excelentes.
ainda estou lendo, mas posso assegurar que nao deve nada a grande maioria de dos autores convencionais.O livro é bem detalhado mas nao é cheio de minucias tecnicas, somente o basico, explicaçao sufienciente para leigos entenderem do que se esta tratando, as passagens de tempo sao interessantes e os personagens secundarios nos deixam imaginando como seriam ja que suas personalidades sao bem marcantes.
é que eu não li o livro…