Reuniões intermináveis, cultura de liderança, reengenharia, elaboradas apresentações de powerpoint, estresse, doenças cardiovasculares. A receita para lidar com tudo isso estaria em um desses livrinhos de auto–ajuda? O publicitário Luli Radfaher acha que não e para provar isso escreveu o livro A Arte da Guerra para quem Mexeu no Queijo do Pai Rico, lançado este mês pela editora Planeta.
A idéia de escrever o livro surgiu depois de tanto observar os freqüentes clichês do ambiente corporativo e os incontáveis livros de auto–ajuda escritos para socorrer executivos. Com uma linguagem solta e bem humorada, a publicação trata dos absurdos da realidade corporativa, em uma análise que segundo o autor é sem juízo de valor.
– “Pelo título, ele parece pertencer à categoria de auto–ajuda. Mas não, o livro não é de crítica social. Serve para que cada leitor observe o panorama e tire suas próprias conclusões. Mais ou menos como novos filmes e novas histórias. Ou não”. Luli é Ph.D em Comunicação digital pela Universidade de São Paulo (USP), onde é também professor e pesquisador há quase 15 anos. A produtora que manteve por dez anos foi precursora no mercado de editoração eletrônica e de internet. Sua experiência como fornecedor de empresas de grande porte foi o que o inspirou a escrever o livro. Conversamos com ele.
– O livro é uma crítica ao ambiente corporativo?
– Na verdade, faço uma análise dos processos de comunicação empresarial. De coisas que muitos sabem, mas que não admitem ser verdade. Questiono por que todo mundo tem de ser líder. Para quê servem tantas reuniões? Existem muitas distorções nesse sistema massacrante e quando as pessoas se dão conta delas e não se encaixam, costumam pensar que são fracas de espírito. Mas é bom deixar claro que não é um livro contra as empresas ou contra os executivos, é contra o modo de vida dentro delas.
– O que há de errado nesses ambientes?
– Ao escrever o livro tentei fazer com que o sujeito acorde da irrealidade em que ele vive: estresse, doenças cardiovasculares, problemas de postura, frustração, depressão, consumo de ansiolíticos e impotência. É um tipo de alarme que soa antes que o executivo sofra um derrame ou um enfarte e saia do hospital depois de ter aquela típica “iluminação”, quando, então, decide abrir um restaurante na praia.
– Você propõe uma alternativa a esse sistema das grandes empresas?
– Não acho que as grandes corporações vão acabar e não acho que a saída seja largar tudo e vender miçangas na praia. Este é um tipo de felicidade cosmética. Você pode viver onde você quiser, não adianta largar tudo, abrir restaurante na areia e repetir as mesmas estruturas massacrantes. Muitas pessoas que não agüentam ter chefe, não vêem a hora de ser eles os chefes para repetir a soberania e vassalagem. Só a consciência salva.
– Então, o livro se propõe a ser uma espécie de alívio para quem vive o massacre corporativo?
– De certa forma sim. Ao entender as condições imutáveis das firmas, seu ecossistema e habitantes e, principalmente, como satirizar o ambiente sem se deixar envolver, você deixa de dar murro em ponta de faca, leva uma vida mais construtiva e usa seu salário em coisas melhores do que o analista.
– A maioria dos modelos de comunicação empresarial reforça o complexo de inferioridade nas pessoas?
– Uma vez que se valoriza o saber em detrimento do aprender, é reforçado esse complexo de inferioridade sim. É como se todas as pessoas nascessem inteligentes e prontas para ser líderes. Em tempos de Big Brother e blogs, me arrisco a afirmar que não nos tornamos liberais nem modernos, mas descarados. Fala–se de dietas, amantes, carreira e saúde com tanta franqueza e confiança que todos parecem experts e ninguém ousa expressar ignorância sobre um assunto, qualquer que seja.
– Cite algumas críticas que você faz no livro a respeito das práticas corporativas?
– Tem o mito das reuniões, por exemplo. Decisões realmente importantes não são tomadas em reuniões, lá existe oposição demais. Decisões são tomadas em pequenos comitês. Daí se criam os “fashion meetings”, aquelas reuniões que servem para falar das roupas das pessoas, a “no meeting”, reunião que você vai sabendo que vai tomar um não do chefe e a “a nível de meeting”, aquela em que independente do tema, quem apanha é a língua portuguesa. A cultura de formação de líder também me espanta. Por que se obriga todas as pessoas a serem líderes? Por que não existe um guia que ensina como ser um “subordinado subserviente pro–ativo” também?
– E quais são suas críticas aos livros de auto–ajuda?
– Os livros de auto–ajuda são conformados. Se restabelecerem a escravidão – e estamos perto disso, o estagiário é quase um escravo – vai aparecer um livro de auto–ajuda para explicar como você pode conviver com a escravidão e produzir mais. Estes livros consideram o que acontece hoje inevitável. [Webinsider]
Viviane Danin
Viviane Danin (@bibidanin) é jornalista, consultora do Sebrae e articulista do Webinsider.
4 respostas
Escultei uma entrevista do Luli na Radio Oi Fm e achei fantastica o modo como ele enxerga o mundo corporativo e os livros de alto ajuda.
Com certeza vou ler seu livro
Juliano Profeta
Olá!!!!
Vários professores já me indicaram os livros que compõem o título do livro do Luli, mas até agora eu não li nenhum.
Com certeza, pretendo ler tanto os originais quanto esse livro. É sempre bom ler um livro que foge do que é óbvio.
Abcs!
Olá,
Gostei bastante do artigo sobre o livro. Vou compra-lo!
Fui a uma palestra do Luli e achei fantástica. Os seus argumentos são muito bem construídos.
Daniel Diniz
Putz. Só pelo título já vou querer ler esse livro…