Vai render uma bela tese acadêmica quando alguém se dispuser a estudar a relação entre o tempo de vida das publicações exclusivamente online e das publicações tradicionais de papel. Nos últimos 12 anos, uma imensidão de sites informativos nasceu e morreu. Faz parte da natureza humana a vontade de informar e o desejo de aprender. No entanto, a exemplo do que ocorre ainda hoje na mídia tradicional de papel, na internet também temos várias publicações que entraram em declínio sem causa aparente ou se mantêm no limbo digital ? quando apenas marcam presença, sem inovações, sem aquele conteúdo diferenciado de outrora, sem a equipe motivada a oferecer um trabalho de qualidade.
São inúmeros exemplos de boas publicações que afundaram, assim como também perdemos a conta de sites medíocres que se mantém às custas de anúncios bem pagos ou vultosos patrocínios. Na internet, estamos com o mesmo cenário da mídia tradicional quando falamos em tempo de vida. Quem não lembra do Pasquim, da revista Cruzeiro, da antiga IstoÉ Senhor? Foram ótimas, qualidade indiscutível, poderiam muito bem ter continuado. Só que não continuaram.
É porque, como quase tudo na vida, não há regras. Simplesmente, acontece. Dedicação, ética e profissionalismo ajudam, podem ser cruciais, mas nem sempre são garantias exatas de sobrevivência. Uma dose de sorte e uma pitada de quixotismo são essenciais. A todos nós, na condição de profissionais e leitores, resta apenas procurar manter a serenidade para que, quando chegar a hora de escolher um caminho, o façamos sem titubear.
Às vezes, tudo parece que vai dar certo e uma pequena pedra derruba a fila inteira. Tantas vezes, os indícios parecem mostrar que não haverá estrada à frente, que é melhor parar por aqui, pois tantos outros já sucumbiram e ficaram para trás. No Webinsider, não foram poucas as vezes em que o túnel escureceu por completo. Para toda a equipe envolvida direta ou indiretamente, foi o estouro da bolha, a mudança de portais e servidores, os problemas pessoais, as contas que não fecham, a mudança de empregos, o desemprego, a falta de tempo, as horas de sono, as amizades, os relacionamentos? fatores mil que tiveram e continuam a ter o seu valor. E o mais interessante é que, seis anos depois, parecem fazer parte de um passado tão longe e, ao mesmo tempo, tão perto.
É que, apesar das semelhanças com a mídia tradicional, a internet tem um lado ímpar: o de extinguir a ?geografia? para valorizar a ?história?. Para entender esse fim de geografia, vale contar uma curiosidade que somente meia dúzia dos colaboradores conhecem: apesar de o Webinsider completar seis anos, minha pequena parcela de ajuda para o Vicente Tardin vem desde 1998 e só nos vimos pessoalmente uma única vez: em 2005, pelo tempo de duas cervejas. Ou seja, depois de oito anos.
Para quê geografia? Cidades distantes, objetivos comuns. É o que importa e o que, certamente, vai me levar a continuar seguindo essa estrada pelos próximos anos, ainda mais longe geograficamente. Pois, como dizia Raulzito: coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz. [Webinsider]
Paulo Rebêlo
Paulo Rebêlo é diretor da Paradox Zero e editor na Editora Paradoxum. Consultor em tecnologia, estratégias digitais, gestão e políticas públicas.
3 respostas
Rebêlo, meu querido, tudo lindo o que vc disse. E ainda citou o maluco beleza! Hehehehe… Sinto orgulho em tê-lo como amigo orkutiano. Não sei onde vc está geograficamente. Mas estamos próximos historicamente. Um beijo pra ti.
Sou jornalista de uma sociedade de especialidade médica. Em setembro de 2004, lançamos um jornal mensal exclusivamente on line voltado para a administração de laboratórios clínicos. Apesar de estar disponível em nosso site e ser divulgado por mala direta constantemente, o nº de visitas era reduzido. Em janeiro de 2006, o jornal ganhou uma versão impressa (a on line continua).
Logo no segundo mês a publicação passou a ser procurada e comentada no setor. Hoje, temos mais de 100 assinantes que pagam para recebê-lo. Esse número parece pouco, mas consideramos um sucesso, em comparação com o retorno baixo quando só havia a versão on line.
Concordo que as publicações on line têm vantagens, mas a maioria das pessoas ainda prefere ler no velho e bom papel. Acredito que essa situação vai continuar por muito tempo ainda.
A distância não atrapalha nada na internet, pelo menos no meu ponto de vista. Quando percebi que poderia trabalhar em qualquer lugar usando a internet tratei de investir na idéia e estou fazendo isso há 12 anos. Mas uma coisa ainda não vi e perguntei ao Michel outro dia. Vou aproveitar pra perguntar a você. Qual é a empresa que contrata gente que trabalhe em suas casas à distância? Eu não conheço ainda. Até as pequenas e moderninhas produtoras da galera que, como eu, começou com esta ideia do trabalho à distância, não conseguem se livrar do hábito de controlar horários de seus frilas contratados como se estivessem ali de carteira assinada. Eu fico na resistência, sou frila até hoje, duvidando de que um dia alguém me contrate aqui no meio do mato, de onde trabalho.