O dia do escritor e o sonho do mercado editorial

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Comemoramos no último dia 25 o Dia do Escritor. Bom, comemorar talvez não seja bem o termo, ao menos aqui no Brasil. A despeito do advento de novas formas para a distribuição de conteúdo escrito, a vida para quem quer publicar um livro por aqui continua árdua. Apesar do e-book, dos PDFs, livros publicados em blogs e outras inovações, lançar o seu próprio trabalho é um desafio. As novas formas para produção e consumo de livros facilitaram em muitos aspectos o processo de publicação e, de certa forma, baratearam alguns custos. Mas até mesmo pela baixa penetração que estes novos formatos possuem no mercado nacional, sentir-se escritor ainda passa pelo lançamento de um trabalho pelas vias tradicionais.

Quando comecei a colaborar com o Webinsider, lá pelo ano de 2010, um dos meus primeiros artigos tratou sobre o mercado editorial. Naquela época, a grande coqueluche do momento eram os tablets e e-readers. Os entusiastas das novas tecnologias acreditavam que seria o fim do “terrível império” das editoras, que sumariamente destruíam os sonhos dos ingênuos autores que ousavam enviar um original para avaliação.

Passados dois anos, pouca coisa mudou. O mercado de e-books e e-readers avançou, embora não tenha se consolidado por aqui, mas o resultado final continua pouco atrativo. O mercado editorial, como um todo, também não avançou. E as razões continuam as mesmas: seja livro de papel ou digital, o problema está no consumo: o brasileiro lê pouco. Logo, não há como um negócio se desenvolver sem que haja demanda também em desenvolvimento para tal.

Estatísticas tristes

Os números não mentem.  Foi divulgada no início de julho uma pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe/USP) sob encomenda do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel). Os resultados, embora positivos, ainda mostram o quanto estamos deficientes no quesito leitura.

Os dados mostram que em 2011, foram comercializados 469,5 milhões de livros, o que representa um aumento de 7,2% em relação ao ano anterior. Porém, o próprio sindicado admite que esta balança positiva foi alavancada por compras de livros técnicos e profissionalizantes pelo governo.  O crescimento de vendas diretamente ao consumidor cresceu tímidos 3,02%. Na prática, foi registrado um resultado praticamente idêntico ao de 2010. Levando em conta que pesquisas anteriores (2008) apontam que o brasileiro lê em média 1,3 livro por ano, podemos deduzir que este índice não sofreu grandes alterações. Talvez tenha até piorado. Em relação aos e-books, sua participação permanece tímida. A função principal dos tablets ainda é jogar Angry Birds e acessar o Facebook.

E o autor, o que tem com isso?

O livro é caro porque as pessoas leem pouco ou as pessoas leem pouco por que o livro é caro? Ambas as alternativas estão corretas, mas olhando para questões culturais e históricas do nosso povo, é bem mais razoável aceitar que o preço de livro é mais consequência que causa.

A lógica é simples: população com baixo nível educacional, que lê pouco. Livros em baixa tiragem são bem mais caros de se produzir, sem falar na cadeia de distribuição que reduz consideravelmente a margem das editoras (conforme expliquei em artigo anterior). E como o mercado não é aquecido (pouca gente lendo), as editoras são obrigadas a selecionar muito bem o que será publicado. Existem modelos alternativos de sucesso, como a produção sob demanda da Multifoco, empresa cuja criação e desenvolvimento eu tive o prazer de acompanhar diretamente ou de mercados de nicho como o do portal Jovem Nerd, que vem lançando títulos de sucesso e campeões de venda sem depender do modelo e dos canais de distribuição mainstream. Mas estes ainda são uma exceção à regra.

Aliás, ouso dizer que a dificuldade dos autores em publicar se reflete em um obstáculo anterior, que é o das editoras e seus editores encontrarem trabalhos que realmente possuam potencial e qualidade para se tornarem livros viáveis comercialmente.

Boa parte dos originais que chegam às editoras, infelizmente, não atende aos padrões mínimos de qualidade para serem publicados. Tenho passagem por três empresas do ramo e afirmo que, se ainda assim, não abríssemos brechas, concessões e colocássemos os nossos revisores e editores para trabalhar pesado, mais da metade dos títulos não poderiam estar nas prateleiras, pois chegam às editoras em condições “textuais” impublicáveis.

Dessa forma, existe uma cadeia que não se completa em dois momentos: o primeiro é o momento da venda do livro, pois o consumo é baixo, independente do formato. O outro ponto de estrangulamento é o da própria escassez de bons autores com trabalhos que tenham potencial para ingressar e obter sucesso neste mercado tão fechado.

Poucas pessoas estão funcionais e dispostas a produzir. Deste seleto time, temos que considerar uma parcela (significativa) de equivocados: pelas deficiências educacionais e pelo baixo índice de leitura, escrevem terrivelmente mal. Ou seja, do grupo de brasileiros que se pretende escritor, podemos arriscar que 90% não possui qualificação técnica para a função (e me refiro unicamente a saber escrever em bom português). Dos felizardos que, seja por sorte ou por esforço próprio, conseguiram aprender a escrever, um grupo ainda menor produzirá textos que realmente serão do agrado do grande público.

Estes são dois “gargalos” que comprometem um crescimento mais significativo do mercado editorial brasileiro.  E não me perguntem sobre uma solução, pois não tenho. Acredito que um dos caminhos está na busca de modelos alternativos de produção e distribuição. Mas de qualquer forma, enquanto o consumo de livros for baixo, será difícil publicar. Como atitude preventiva, da próxima vez que alguém lhe disser que gostaria de publicar um livro, replique de imediato: e se você começar lendo um livro? [Webinsider]

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Bruno Garcia (bruno.garcia@com2b.com.br) é o editor do Mundo do Marketing. Sócio da Com2B, mantém o site Com2Business e o Twitter @bruno_com2b.

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Uma resposta

  1. Concordo com o autor. Porém creio que a saída seja realmente o e-book. Toda a redução de custo logístico e de publicação que o formato digital proporciona é capaz de reduzir em até 40% o valor do livro de papel. Dado isto, a fronteira do custo de compra de um livro se reduziria. Acho bom o e-books se popularizarem via Angry Birds, pois desta maneira, sem imaginar, muitos brasileiros se surpreenderão com um acesso fácil e e barato aos livros. Eu sou uma pessoa que lia cerca de dois livros ao ano. Comprei em Dezembro último o kindle touch na Amazon, hoje em Julho já li 18 e-books nacionais e internacionais.

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