Com a pergunta “Do Humans have 23 years to go?” (ou “Os humanos têm 23 anos para ir?”, numa tradução literal), o Institute for the Future lança um convite ao mundo para jogar o ousado newsgame Superstruct. É o primeiro jogo massivo de previsão multiplayer de que se tem notícia. Não se trata apenas de imaginar o futuro, trata-se de inventar o futuro, criando superestruturas para resolver e combater super-ameaças que o planeta enfrentará.
Com base em resultados de uma simulação realizada durante um ano por um supercomputador, o Global Extinction Awareness System (GEAS) vem redefinir o “horizonte de sobrevivência” para a raça humana como “indefinido” a partir de um cenário daqui a 23 anos. O ‘horizonte de sobrevivência’ identifica o ponto no tempo após o qual a população mundial deverá experimentar um colapso catastrófico.
A previsão foi feita pelo presidente da GEAS, Audrey Chen. Estamos falando do ponto a partir do qual é improvável uma espécie se recuperar. Ao identificar um horizonte de sobrevivência até o ano 2042, GEAS deu à civilização humana um prazo definido para fazer mudanças práticas de forma substancial para tentar salvar o planeta do seu fim iminente.
Cruzamento de modelos probabilísticos
De acordo com Chen, a última simulação do GEAS utilizou nada menos que 70 pentabytes de dados ambientais, econômicos e demográficos. O hipersimulador cruzou dados de dez modelos probabilísticos válidos. Os modelos GEAS revelaram uma combinação potencialmente terminal, apontando o que classificou de ‘super-ameaças’, que representam uma colisão de riscos ambientais, econômicos e sociais.
Desenvolvido em uma incubadora em Palo Alto, nos Estados Unidos, o super jogo não tem fins lucrativos. Com apenas seis semanas de duração, a narrativa do Superstruct permite que os participantes usem a inteligência coletiva à disposição para criar cossoluções que possam ser aplicadas a problemas reais. Embora criado em 2008, o jogo é bastante atual por tratar de temas como sustentabilidade e engajamento social.
Grau de informação em jogos
O newsgame Superstruct encabeça um ranking de grau de informação em jogos. Com base em nossas observações in loco e pesquisas de campo, elaboramos uma lista em forma de infográfico que analisa títulos, gêneros e categorias de jogos populares, antigos e baseados em notícias. A disposição não tem nenhuma pretensão conclusiva, uma vez que se trata de um tema ainda sob investigação científica.
Mas serve de parâmetro para orientar pais, educadores e interessados em games como emuladores de informação, ainda mais agora que a sociedade parece ter acordado para o fato de os games terem se tornado uma excelente ferramenta de debate público para a cossolução de problemas reais. No topo da lista estão newsgames da qualidade narrativa do World Without Oil, Urgente Evoke e Ayiti, cuja temática convida ao engajamento social com a finalidade de compartilhar soluções para um mundo mais sustentável.
Nível de agenciamento social
O estudo parte dos antigos jogos de carta, tabuleiro e arcade, passando pelos jogos de console, portátil, PC, mobile e browser, até chegar aos jogos online com a envergadura do MMORPG e newsgames. Foram usados seis critérios básicos de análise: grau de informação descritiva, nível de agenciamento social, relevância da narrativa, grau de interatividade e imersão, forma de apresentação do conteúdo e jogabilidade.
Para efeito de estudo, o trabalho foi subdivido em quatro níveis de análise: newsgames (verde), videogames (laranja), gêneros e categorias (azul) e, por último, interação e habilidades (violeta). A visualização do infográfico trabalha a intensidade das cores como forma de descrever o grau de informação dos itens analisados. Em cada nível, a leitura segue de baixo para cima e da direita para a esquerda, indo dos jogos menos aos mais informativos.
Atividades de brainstorm em sala de aula
O ranking contendo o grau de informação em jogos pode auxiliar professores de instituições da rede pública e privada de ensino na avaliação de títulos, com a finalidade de explorar melhor o seu poder cognitivo. Com isso podem elevar a capacidade de envolvimento dos alunos com a informação realmente transformadora. Numa esfera de ensino superior, o material pode servir de orientação para coordenadores e docentes dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Relações Públicas.
Uma boa experiência para se adotar é propor aos alunos uma discussão sobre a própria classificação dos jogos realizada por nós. Ao final do processo, eles podem chegar a resultados complementares. A partir de discussões sobre o tema, os alunos podem propor um novo ranking baseado em conhecimentos adquiridos em sala de aula. Em contrapartida, os professores podem sugerir atividades de brainstorm com o objetivo de criar novos roteiros de jogos com finalidades sociais.
No fundo, a ideia é tentar tirar o Brasil de um marasmo social prolongado que acaba engessando a criatividade do povo brasileiro. Voltando à pergunta lançada no início do texto, precisamos da união de todos para tentar salvar a nossa grande casa: o planeta Terra. Mas para encarar um trabalho dessa magnitude é necessário buscar soluções locais, sustentáveis e de forma criativa, usando recursos de realidade aumentada.
Cerca de 650 a.C, um simples jogo de dados ajudou o povo do reino da Lydia a passar por um período de 18 anos de escassez de alimentos. Verdade ou não, a criatividade fez a diferença, coisa que o mestre Toquinho soube bem dizer: ‘…com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo…’ E, parafraseando Jane MacGonigal, eu sei que podemos construir qualquer futuro que pudermos imaginar através dos jogos. Eu já comecei a minha jornada, e você?
Veja o infográfico:
[Webinsider]
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Geraldo Seabra
Geraldo Seabra, (@newsgames) jornalista e professor, mestre em estudos midiáticos e tecnologia, e especialista em informação visual e em games como informação e notícia. É editor e produtor do Blog dos NewsGames.