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Toda revolução cognitiva traz de volta um diálogo perdido, pois abre-se um novo espaço de comunicação para o qual não estamos preparados, pois nossos corações e mentes foram estruturados no modelo passado, fechado.

A história, recontada pela antropologia cognitiva, nos mostra que vivemos momentos de contração e expansão, como defendi aqui.

Uma nova onde de possibilidade de novos diálogos surge entre a impossibilidade tecnológica da mídia anterior e as novas possibilidades da mídia que surge:

  • A escrita permitiu a mensagem a distância;
  • O alfabeto potencializou a escrita manuscrita;
  • O papel impresso potencializou o alfabeto;
  • Assim como o rádio e a televisão potencializaram o papel impresso;
  • Como agora a Internet potencializa todo o resto ao mesmo tempo.

O problema é que o retorno do diálogo, ou da opção de podermos voltar a conversar de forma diferente, como gente que não conversávamos, traz um conjunto de desafios.

A sociedade estava, sem sentir, protegida em condomínios de verdades. Trocávamos impressões com pessoas próximas e não éramos desafiados por desconhecidos, que não pensam como o pessoal “lá do meu condomínio”

Quando abrimos uma conta, por exemplo, no Facebook e começamos a ter mais e mais amigos, vamos aumentando a diversidade de gente que começa a ter contato como pensamos. E, a partir daí, começamos a ser questionados, curtidos, ou não, comentados, por amigos não tão conhecidos, com ideias diferentes das nossas. Esse diálogo que é aberto exige esforço, pois nos tira da zona de conforto de ambos os lados.

Daquele que critica e do que é criticado.

De maneira geral, todos nós não queremos sair do nosso condomínio, pois estamos seguros e certos do que sentimos e pensamos. Quando abrimos um “diálogo”, o que queremos, antes de tudo, é provar como o meu condomínio é bom e melhor que os demais. Estou no condomínio certo, é tão óbvio isso, não?

Na experiência que tenho acumulado, percebo que as pessoas querem apenas pontuar, mas não aprofundar os argumentos. Falta um pitado de prática com falta de saco a gosto. Querem marcar posição, mas não dialogar, pois dialogar dá trabalho e toma tempo, pois:

  • implica em conhecer o ponto de vista do outro;
  • implica em procurar comparar este ponto de vista com os meus;
  • implica em saber o que eu posso mudar, a partir da interação;
  • e aonde posso ganhar e reforçar, melhorar, o meu ponto de vista.

Não, nosso ego monoteísta não foi preparado para tal interação politeísta!

O problema é que depois da ditadura cognitiva que estamos saindo, de décadas diante da televisão, nos dogmatizamos ao extremo.

Temos como se fosse uma espécie de fosso social para fingir que debatemos. Podemos até brincar no fosso das conversas fúteis de quando em vez, mas quando a coisa fica séria, baixamos nossas cartas do castelo das certezas.

Ou seja, criamos um falso diálogo só para sermos sociais, mas não estamos colocando nossas máximas certezas à prova, pois isso implica em um outro modelo de ego, que nós não desenvolvemos. Ele é um ego para um condomínio fechado como arame farpado em volta.

Vivemos a cultura de um mundo egoico monoteísta, do qual fomos educados em casa, na escola, na sociedade, nas empresas, no rádio, na televisão. Nesse mundo há uma verdade que vem de cima, da qual eu não modifico.

E eu crio a minha verdade que vem do meu condomínio que é inegociável.

Somos todos os donos das verdades do alto dos nossos castelos trancafiados a sete chaves. Reclamamos dos meios de massa, mas nós somos o meio de massa sem ser de massa.

Eu, você, todo mundo construímos esse modelo para montar a nossa verdade.

Eu crio o meu condomínio fechado com minha tribo e vou para o mundo brincar de interagir e manter aquilo que eu combinei com meus pares secretos.

Esse modelo cultural funcionou bem para o ambiente cognitivo passado, mas é incompatível com um mundo de condomínios abertos.

Só gera conflito.

A base principal da mudança é a filosófica existencialista, que apregoa que somos projetos de humanos a serem construídos por nós, que nada que é, pode ser definido a priori.

  • O monoteísmo cultural impresso-eletrônico é o que nos ensinou que existe uma verdade fechada, a ser defendida nas interações.
  • O novo politeísmo nos leva a uma verdade aberta, a ser construída nas interações.

Estamos indo para um mundo que temos que nos habituar ser uma obra em aberto. Mas o ego deixa?

Nossas emoções, definitivamente, não foram preparadas para isso. E aí vem o choque da falta de diálogo constante.

Temos como mudar isso? Em alguns casos, sim, há espaço. Em outros, talvez não, o dogmatismo é maior que a pessoa.

Sei que um ego politeísta não nasce em árvores – é construído com esforço. Mas quantos estão dispostos? Exige esforço, muito esforço. Que dizes? [Webinsider]

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Carlos Nepomuceno: Entender para agir, capacitar para inovar! Pesquisa, conteúdo, capacitação, futuro, inovação, estratégia.

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