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A rede muda o tempo todo, como blocos de gelo se movendo sobre o mar gelado. Nesse sentido, o Twitter é a ponta de outro iceberg que esse organismo vivo e mutante que é a internet se prepara para jogar sobre nossas cabeças.

Não porque inaugura a era das conversas, idéias, discussões e manifestos em 140 caracteres (nunca imaginei que coubesse tanta coisa em tão poucas letras). Nem porque revela novos formadores de opinião e deliciosos usuários fake (o Oscar do Twitter para o @darthvader, por favor).

Na verdade, é por tudo isso que o Twitter é um iceberg desgovernado pilotado por um mamute míope, mas sobretudo por uma característica peculiar: ele é uma rede social diferente em sua estrutura, em sua mecânica e nos vínculos que unem seus membros. Pois vejamos:

É unilateral

Ao contrário das redes sociais convencionais, o vínculo de amizade no Twitter é fraco. Para começar, não se pede autorização para se seguir alguém. Você segue, e ponto. Nem escolhe quem vai segui-lo, embora ainda possa bloquear pessoas. Isso muda tudo. Primeiro porque não há tantos escrúpulos em se deixar de seguir alguém. Excluir alguém de seu Orkut é dramático. Rende até música. É quase como rasgar fotos ou arranhar o vinil do Odair José do outro. ?Desseguir? alguém no Twitter é normal.

Ainda por ser unilateral, cria figuras diferentes. No lugar dos dois extremos (solitário e popular), temos as diferentes gradações. Tem os seguidores natos, que praticamente ouvem e nada criam. Há os formadores de opinião, com poucos seguidos e milhares de seguidores. E há os neutros, onde boa parte dos seguidores na verdade estão retribuindo a gentileza de serem seguidos. No mundo das redes sociais, onde status é a moeda corrente, isso muda tudo.

É totalmente estruturada em seus membros

Não existe um portão da comunidade entre o público externo e seus membros. O sentimento de que se está ?dentro do Twitter? é diferente de o sentimento de se estar ?dentro do Orkut?. Além disso, sua extrema simplicidade difere do ambiente cada vez mais repleto de aplicativos das redes sociais convencionais. Ele é simples e direto.

É uma rede efêmera

Esse é um dos pontos que mais me fascinam e em que mais aposto no longo prazo. O uso das tags (palavras iniciadas com #) permite que comunidades se formem de forma instantânea e efêmera enquanto o assunto (um evento, um meme, uma pessoa) estiver em voga. É o que acontece durante transmissões esportivas, por exemplo.

Usando a busca do próprio Twitter (o antigo Summize) ou outras ferramentas, os usuários iniciam um diálogo ?maluco? onde não há um interlocutor definido. É como se ilustres desconhecidos subissem em seus telhados e gritassem com megafones frases sobre um assunto específico. E eles ouvirão uns aos outros, falarão ao mesmo tempo e, com boa vontade, vão acabar se entendendo.

Em nenhum momento eles necessariamente estabelecem vínculos entre si (amizades), nem com o tema (comunidades). Quando o assunto morre, cada um desce de seu telhado e a rede se desfaz.

O que ficam são os seguidos e seguidores que podem se formar e o histórico da conversa, publicado nas páginas de cada participante. Mas, salvo na busca pela tag, isso permanece de forma totalmente dispersa. Para quem olha a parte, e não o todo, há apenas fragmentos sem sentido completo.

Isso tem grande impacto em como entendemos as redes sociais, os papéis das comunidades e especialmente em como quantificamos isso em nossos sistemas de mensuração. Que métricas precisaremos desenvolver para capturar isso?

O Twitter não é o fim. Mas ele é um modelo para as redes sociais do futuro que, no rastro da abertura permitida pelas APIs de integração inter-redes, serão cada vez mais abertas, transparentes, multiplataformas e efêmeras. Redes sociais sem muros nem membros, mas com milhares de construtores.

É fascinante esse mundo onde o chão é sólido como gelo. Que nosso mamute míope não encontre muitas baleias em seu caminho. [Webinsider]

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Avatar de Roberto Cassano

Roberto Cassano (rcassano no Twitter) é blogueiro e diretor de estratégia da Agência Frog.

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7 respostas

  1. Adorei sua análise e observações. Concordo em gênero número e grau. Estamos sim nesse iceberg ao lado do mamute míope.

    Escrevi sobre o Twitter agora pouco, e um amigo me linkou seu post.

    Obs: Vc nao colocou seu twitter. =P

  2. Gostei da análise, gostaria de ler mais a respeito das novas relações políticas face a tais possibilidades efêmeras. Algo meio TAZ (Hakim Bey).

  3. Sim, há essa opção. Mas ela não é padrão no sistema nem a opção da maioria. Há aqueles com updates protegidos sim, mas são poucos. E como eles não aparecem nas buscas por tags, acabam tendo um comportamento diferente.

    Válida e pertinente observação. De tão aberta, temos redes dentro de redes. Vale tudo nesse iceberg! 🙂

  4. Para começar, não se pede autorização para se seguir alguém. Você segue, e ponto. Nem escolhe quem vai segui-lo, embora ainda possa bloquear pessoas.

    Opa, peraí! Em Settings, Account, tem um Protect my updates. Only let people whom I approve follow my updates.

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