Com Luciene Santos.
As ações protagonizadas por jovens do RAP da Saúde materializam a proposta dos newsgames em comunidades carentes do Rio de Janeiro. Apesar de sugerir uma relação com o movimento cultural surgido nos subúrbios de Nova York nos anos 1970, a sigla RAP remete a outro movimento social no coração dos trópicos. Na verdade, o nome é uma abreviação do projeto Rede de Adolescentes e Jovens Promotores da Saúde.
Criado em 2007, a partir de uma ideia da Assessoria de Promoção da Saúde (APS), o projeto é desenvolvido pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, em parceria com a ONG Centro de Promoção da Saúde (Cedaps). Com a participação de mais de 100 jovens, a iniciativa conta ainda com a chancela da Unicef através do projeto Plataforma dos Centros Urbanos.
Compartilhando informações na rua
Atualmente, o projeto é executado em oito núcleos de saúde situados na Rocinha, Maré, Borel, Jacarezinho, Alemão e em comunidades de Acari, Campo Grande e Sulacap. O objetivo principal é melhorar a qualidade de vida em diversas comunidades cariocas por meio do compartilhamento de informações que realmente lhes interessam.
Para atuarem na promoção da saúde, os jovens participam de uma série de oficinas, ministradas por profissionais de diversas áreas da saúde. Ao final, esses jovens estão aptos para serem multiplicadores de informações essenciais para as comunidades onde vivem. E, é justamente isso, que alimenta as bases da Teoria Geral Aplicada dos Games Emuladores de Informação e Notícia.
De uma forma ludoinformativa, os chamados ‘Baleiros da informação’ se mobilizam para promover diversas atividades em comunidades reais. Distribuídas dentro de bombons, as ‘balas informativas’ são compartilhadas em formato de jogos de quiz. Ao abrir a embalagem, a pessoa deve responder à pergunta impressa em pequenos envelopes, que lembram a milenar iguaria chinesa chun Juan – o nosso famoso rolinho primavera.
Os novos baleiros remontam cordéis
Assim, os novos baleiros promovem a festa do conhecimento entre becos e ruas de comunidades onde a informação essencial ainda é um bem bastante raro. Mais raro ainda é a forma como o projeto se materializa nas ruas. De alguma forma, os novos baleiros remontam os antigos cordéis do século XVI.
Pois foi no Renascimento que a impressão de relatos orais popularizaram-se nas antigas vielas de Portugal. No Brasil, essa forma literária ganhou adeptos em cidades da região do Nordeste. Ao invés de pendurar folhetos em varais estirados na rua, os novos baleiros são ainda mais itinerantes.
Mas, assim como autora, os novos cordelistas cantam, dançam, recitam, declamam e representam por onde passam. A diferença é que agora compartilham informações com alto valor agregado com as quais estão pessoalmente envolvidos e que serão úteis na sua própria vida e das pessoas que aceitam entrar na roda. Na segunda década do século 21, os jovens cariocas recriam a ludicidade do velho formato dos cordéis.
Projeto Namoro Saudável
Sem nenhum constrangimento, esses jovens lançam mão de todas as possibilidades que a liberdade de expressão pode lhes oferecer na otimização da transmissão e apreensão da informação que precisam para viver bem, mais e melhor. De maneira divertida, prazerosa e envolvente, os jovens cidadãos compartilham orientações sobre saúde básica, prevenção de epidemias e sexualidade segura.
Por falar nisso, o Projeto Namoro Saudável orienta jovens adolescentes sobre como se relacionar de forma saudável com parceiros afetivos, com o claro objetivo de reduzir a violência de gênero em comunidades carentes. Como junho é o mês dos namorados foi instituído o Mês de Prevenção das Violências no Namoro. É a oportunidade para valorizar a gentileza e a solidariedade nas relações amorosas.
A ideia servirá para promover ainda a prevenção das diversas formas de violência íntima em comunidades de baixa renda. A violência no namoro tem impactos no âmbito da saúde e pode gerar consequências como baixa estima, depressão, consumo de álcool e drogas, além de relações sexuais desprotegidas. Além da promoção da saúde e cidadania, os jovens participam de fóruns políticos em defesa de interesses comuns que vão ajudar a construir uma cidade mais justa e sustentável.
O equívoco dos rolezinhos
Ao contrário do fenômeno dos rolezinhos (promoção de encontros a partir de redes sociais sem objetivos claros), a equipe do RAP da Saúde é composta por jovens dinamizadores, adolescentes multiplicadores e facilitadores locais. Com experiência na participação política, cultural e social, os jovens dinamizadores apoiam as ações dos adolescentes multiplicadores de informação.
Já os facilitadores locais são os responsáveis pela organização de encontros coletivos, oficinas e outras atividades, com o objetivo claro de fortalecer o aprendizado dos adolescentes, estimular a troca de conhecimentos e mobilizar a comunidade para o envolvimento em ações sociais. Desde julho de 2011, o projeto conta com a participação de jovens surdos, que atuam e compartilham de todas as atividades com os demais jovens ouvintes.
Os jovens que participam do projeto RAP da Saúde têm de 16 a 29 anos e a maioria é morador de comunidades cariocas. Para participar do RAP da Saúde é preciso se cadastrar no banco de talentos do projeto através de uma ficha de inscrição online, disponível no blog Elos da Saúde, ou do contato direto com uma das equipes do projeto.
Projeto Canteiros Coletivos
Em Salvador (BA), os moradores decidiram colocar a mão na massa e criaram o projeto Canteiros Coletivos. A partir de discussões travadas nas redes sociais, o sonho começou a virar realidade em 2012, quando um grupo de moradores passaram a revitalizar espaços públicos abandonados na capital baiana. O movimento consiste em ampliar o nosso sentido de cidadania e a relação dos moradores com a cidade onde moram.
A iniciativa revela que cada cidadão pode interferir no planejamento e na cogestão de assuntos públicos, um dos pilares da Teoria dos NewsGames. Além de garantir mais transparência ao poder público, a ação popular comunitária reinventa a forma tradicional como encaramos os modelos democráticos ainda em vigor pelo mundo. O projeto de revitalização de áreas verdes de Salvador já possui quatro canteiros fixos.
No ano passado, o projeto passou a contar ainda com a parceria do Instituto Permacultura da Bahia, que oferece oficinas gratuitas e informativas para quem participa das ações. Mas o que ainda falta para que tudo isso ganhe forma de newsgames em todas as suas possibilidades cidadã, de inclusão social e ação realmente democrática? Vontade, desejo, necessidade! [Webinsider]
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Geraldo Seabra
Geraldo Seabra, (@newsgames) jornalista e professor, mestre em estudos midiáticos e tecnologia, e especialista em informação visual e em games como informação e notícia. É editor e produtor do Blog dos NewsGames.