Volta e meia o problema volta.
?Nós que vivemos na sociedade da informação?.
“Agora, nessa sociedade da informação?.
Isso é quase um carro da pamonha que passa todo dia aqui na porta. Vamos dar um tempo e parar para pensar! (Já tratamos do assunto aqui, mas vamos aprofundar.)
Ok, sem dúvida, precisávamos separar alguma coisa na Economia antiga para essa nova.
- Antes, estávamos baseados em algo palpável. Não existia software, banco de dados;
- O setor de serviços não era tão importante;
- A marca das empresas não era um fator com tanta diferenciação;
- O trabalhador era braçal e não vendia poucas horas do seu cérebro;
- Em algum momento, principalmente com a globalização, o aumento populacional e, como consequência, a chegada do computador, fomos digitalizando o mundo e todos os registros que tínhamos sobre ele.
Assim, realmente estamos em outra sociedade diferente da construída pela Revolução Industrial. Certo?
Mas será que é a da Informação?
A necessidade de conceituar e teorizar sobre determinado objeto visa facilitar a nossa aproximação de determinado problema.
- Uma teoria que consegue comprovar determinada lógica do objeto estudado ao longo do tempo é uma teoria consistente.
- Uma teoria que se mostra cheia de problemas quando acompanhamos o objeto atrapalha, é uma teoria improcedente.
Você pode utilizar a teoria que quiser para enfrentar problemas práticos, mas quando começar a patinar é momento de rever se pegou o trator (conceitos e teorias) que vai realmente te tirar do atoleiro.
Há uma mudança na sociedade e precisamos chamá-la de outro nome – o volume da informação cresceu e pimba: “sociedade da informação!”.
Foi bom para você? Sim, mas agora não é mais suficiente. Esse conceito afundou na realidade.
Vamos pegar um exemplo para demonstrar que a quantidade de informações é proporcional ao número de habitantes.
Vejamos o Brasil com dados arredondados:
Ano – Habitantes
1550 – 15 mil
1660 – 184 mil
1760 – 1.800.00 mil
1860 – 8.500 mil
1960 – 70 milhões
2000 – 170 milhões
(fonte)
Hoje – 191 milhões
(fonte)
Nossa população praticamente se multiplicou por 10 a cada 100 anos. Note que hoje para resolver as necessidades de cada pessoa é preciso:
- Multiplicar por três as refeições na mesa todos os dias, ou 573 milhões de pratos de comida ( a cada dia!)
- Multiplicar por dois o vestuário necessário para trabalhar e dormir, ou 382 milhões de tipos de roupas (se considerarmos que cada tipo de roupa tem meia, sapato, calça, roupas de baixo, etc) é muito mais.
Some ainda lazer, transporte, educação, comunicação… o volume de dados necessários para manter essa população viva é gigantesco, gerando uma quantidade informacional absurda para que possamos resolver nossas necessidades.
No livro “Here Comes Everybody”, de Clay Shirky (página 27), o autor traz uma visão interessante, que tenta demonstrar que o aumento das pessoas no ambiente não cresce apenas em número, mas cada vez mais em complexidade.
Ou seja, quanto mais gente, mais do que crescimento aritmético, temos pelo aumento do número de relações, uma expansão geometrica da complexidade.
Veja a figura abaixo:
Ou seja, quando saltamos de 15 mil, em 1550 para 191 milhões hoje em dia, ganhamos aritmeticamente em tamanho e explodimos geometricamente em complexidade.
Em todas estas situações a informação (e as redes que a sustentam) foram fundamentais para manter o equilíbrio entre a população e suas necessidades.
Todas foram sociedades da informação, aritmeticamente e geometricamente compatíveis com o número de habitantes e a complexidade que a articulação entre as pessoas necessitou em cada etapa.
Quanto mais fomos evoluindo, mais precisamos sofisticar os ambientes de informação, suas redes de conhecimento. É uma relação proporcional que ganha mais e mais complexidade a cada passo.
O ambiente oral precisou da escrita (para deixarmos recados) e deste partimos para a rede digital, com o computador (pavimentando e virtualizando o mundo, gerando processadores de dados fora das nossas cabeças), e ainda introduzimos a colaboração a distância do muito para muitos, conectando e permitindo a interação entre pessoas sempre à procura de relevância para sobrevivermos nesse mar informacional cada vez mais largo e profundo.
Ou seja, temos o sistema de informação compatível com o volume da população, nem mais nem menos.
Analisar a nossa sociedade como a da informação, como diz Castells, é um erro teórico.
(O mesmo vale para sociedade do conhecimento.)
Temos que ver não o que sempre foi, mas onde realmente somos diferentes. A saber, um cardápio para escolha:
- Sociedade do imaterial. Nunca tivemos ou vendemos registros em computadores antes (estudemos o imaterial);
- Sociedade do intangível. Nunca o que não pode ser pego ou tocado, valeu tanto (estudemos o intangível);
- Sociedade do capital intelectual. Nunca demos tanto valor ao trabalho mental (estudemos o capital intelectual);
- Sociedade digital. Nunca estivemos em um mundo digitalizado (estudemos o digital);
- Sociedade em rede digital. Idem, idem.
Temos que direcionar nossos esforços para compreender nossa sociedade, naquilo que realmente temos de novo e como vamos nos adaptar a essa nova realidade.
E não colocar cabelo em ovo e ficarmos perdidos sem entender a lógica do processo, patinando na areia da praia.
Quando erramos o alvo, tão longe, acabamos inventando um mundo que não existe. Gestões de uma porção de novidades que só nos atrapalham.
O ser humano não muda suas necessidades básicas, apenas sofistica aqui e ali. Somos, de certa forma, os mesmos, mas muitos mais no planeta.
Precisamos, em função disso, de um ambiente informacional mais sofisticado, com o qual precisamos nos adaptar e, ao mesmo momento, corrigir na nossa forma de organizar, mais compatível com a nova realidade, o que não dava antes por falta de condições de articulação no ambiente passado.
(Note que a guilhotina é filha do livro e tirou a cabeça dos reis para criar o modelo do Governo que temos hoje.) [Webinsider]
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Carlos Nepomuceno
Carlos Nepomuceno: Entender para agir, capacitar para inovar! Pesquisa, conteúdo, capacitação, futuro, inovação, estratégia.
9 respostas
A sociedade é da era digital e virtual.
Tudo na dosagem correta pode contribuir positivamente para a evolução do homem. Cabe a nós professores dosarmos e nortearmos as informações veridicas aos nossos alunos, ajudando-os a compreender e utilizar de forma proveitosa todas as fontes necessarias para o bem proprio,respeitando os limites alheios e procurando sempre os caminhos da integridade.
Penso que informações são essas?para que servem e a quem serve? Estamos cada vez mais num momento global em que as informações também são alienadas a grupos interessados em manter essa política da alienação. Pois enquanto todos se conectam via redes, deixam de lado a comunicação pessoal e direta, porque o indivíduo conectado a tantas informações por segundos,acaba deixando de questinar que estamos cada vez mais escravizados dentro de um sistema que não deixa você pensar se tudo isso vale a pena na vida. A vida é mais que tudo isso, é emoção .
Esqueci de comentar o velho clichê:
Excesso de informação gera desinformação, isso explica o gráfico Clay Shirky, qual é o ponto mais importante do gráfico complexo?
Você tem varias vertentes de uma mesma informação, e a verdade nunca será a mentira prevalece a favor dos maus intencionados.
Viva a Globo!
Robson Chagas
Realmente não acredito em qualquer solução para nosso sistema, ele está enfraquecido demais para mudar ou melhorar, estamos à beira da crise, e quando faltar às ditas necessidades básicas, a guerra vai para rua de uma maneira sem precedentes e acredite essa revolução não será televisionada.
Acreditar na sociedade seja ela da informação, digital, intelectual, atingível ou inatingível é hipocrisia, hoje a sociedade atinge níveis de degradação que nem os animais suportam;
Sociedade do insano (estudemos a loucura legalizada dos homens)
Robson Chagas
Sua análise é boa!
Sociedade da Rede Digital, vou ter que me acostumar 🙂 Faz sentido!
Vamoss,
eu chamaria sociedade da rede digital, na qual o volume de informação é proporcional ao número de habitantes que temos hoje no planeta.
Que dizes?
Já havia lido em seu blog. Dou toda razão, perfeito!
Um bom ponto de vista, mas….
O volume de compartilhamento aumenta, nos relacionamos menos pessoalmente e mais digitalmente, pesquisamos mais, temos a maior biblioteca do mundo disponível capaz de nos tornar autodidatas em tudo, a propriedade autoral morre, a forma como vemos e interagimos é muito mais caótica e acelerada, etc etc etc;
Tudo isso envolve, informação, digitalização e conhecimento.
Que fase é essa? Eu mesmo uso Sociedade da Informação, se há um nome mais apropriado, que digam…