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A propaganda é baseada em um princípio sagrado, o da tolerância.

Trata-se de uma espécie de toma-lá-dá-cá. ?Aceito ser impactado por algo que não quero, em troca de algo que quero?. Simples assim. É baseadas nesse princípio que funcionam quase todas as mídias: a TV aberta e o rádio, por exemplo. A internet também. Os outros meios, como a TV por assinatura, o jornal e a revista, embora não sejam gratuitos, são tolerados porque o valor pago parece irrisório quando comparado aos benefícios oferecidos.

No entanto, quando o valor pago pelo serviço solicitado ou desejado parece desproporcional à mensagem ?não desejada?, a propaganda é intolerável.

É o que acontece, lamentavelmente, com quase toda propaganda chamada ?below the line?, eufemismo publicitário para qualificar a propaganda invasiva, como a propaganda veiculada em aviões, o que vem sendo praticado de forma pornográfica por algumas companhias aéreas. É propaganda na mesinha, no encosto do assento, e, suprassumo do mercantilismo selvagem, nos lanches patrocinados. É mais uma vez uma questão de proporção: passagem aérea não é algo irrisório quando comparada ao bombardeio publicitário a que deve se sujeitar o passageiro.

O mesmo acontece com a prostituição visual da mídia exterior gratuita que, sorte nossa, está sendo banida das nossas retinas (exceção dada aos relógios, pontos de ônibus, sinalização e outros mobiliários). O que falar então da festejada mídia indoor, dos monitores mudos dos ônibus urbanos, dos malhos feios nos shopping centers, dos mictórios decorados com televisão de plasma? Promiscuidade comercial e vulgarização do tempo.

Lamentavelmente, muita gente ainda defende a propaganda da forma mais selvagem possível: a efetividade é proporcional tão somente ao impacto visual e sonoro. Para esse tipo de troglodita, é o tamanho da voz que determina o resultado. E pouco importa se a voz está gritando, poluindo, estressando ou insultando. É a lei bruta do mais forte ou do mais esperto.

A lei da exploração safada da fragilidade alheia: que alternativa nos resta a não ser ler que uma marca de carro está lançando um modelo novo, uma empresa de consultoria é a melhor do mundo e a sopa de saquinho é feita de improváveis ingredientes naturais?

Mas há outro tipo de propaganda. É aquela admite que, embora por vezes haja tolerância, mesmo assim a invasão precisa ser compensada. É aquela que sabe que a mensagem deve servir antes àqueles que irão consumi-la e depois àqueles que a financiam. É aquela que entende que propaganda pode ser conteúdo, pode ter um sentido para além do tamanho da voz e da simplória informação: é a propaganda que diverte e emociona sem precisar lustrar o umbigo da marca.

Quando ela consegue isso, então ela assume uma dimensão cultural, ela é referência e inspiração. Essa transcendência além de responsabilidade, engendra um potencial comercial muito mais rentável porque a mensagem incorpora a linguagem comum e as mentalidades. Aí sim pode se falar de ?investimento? e não ?despesa? publicitária.

Propaganda pode ser muito mais do que egotrip e gozo autoprovocado. Quando o desserviço é tal, quando a propaganda masturba a marca, ou o marketing ou o publicitário que a cria, dá muita vontade de proibir ou sabotar. [Webinsider]

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Avatar de Fernand Alphen

Fernand Alphen (@Alphen) é publicitário. Mantém o Fernand Alphen's Blog.

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6 respostas

  1. Com base no princípio de que quanto mais uma marca é vista, mais ela fica gravada na cabeça das pessoas, a publicidade masturbadora da marca faz sentido. Entretanto, eu acho que não é desta forma que uma marca se torna realmente top of mind. A qualidade, a atenção que a marca dá aos seus consumidores, a atenção do atendimento ao consumidor do produto e/ou serviço, também influenciam, e muito, a concretização do top of mind.

    Poluição visual e sonora, ninguém gosta. Mas às vezes temos de suportar certas coisas para ganharmos outras em troca. Se a TV aberta não fosse financiada pela publicidade, provavelmente não existiria TV aberta. Todos nós teríamos de pagar para assistir TV.

  2. Bom, para os críticos da publicidade em TV Paga, qual a diferença entre esse método e os anúncios em jornais e revistas? Em ambos voce paga e leva a publidade com voce. Ok, a da TV Paga é mais irritante porque voce nao tem opção de pular a página, mas o conceito é o mesmo.

    Mas essa não seria uma forma de subsidiar nossos serviços? Será que conta da TV Paga fecharia com o preço que cobra e sem ganhar com anúncios? E o custo de uma passagem de avião? Será que não fica mais barata com os anúnios?

    Talvez o ganho com publicidade seja uma forma moderna de compor o custo de um serviço, tornando-o mais competitivo ou até mesmo viável.

  3. Xisde,

    Metrô e transporte coletivo, só para citar dois exemplos, são atribuições do governo, seja estadual ou municipal. Se o governo não tem dinheiro para manter, privatize, não nos torture.

    Os canais pagos são surreais. Como já foi dito, assino na Net para ver propaganda dizendo para eu assinar a net e por aí vai. Sem contar que cada canal a cabo deve ter mais ou menos meia dúzia de propagandas. Ou seja, para assistir uma hora da mesma meia dúzia. Ou pelo menos quatro vezes de cada. Já cheguei a ver duas vezes a mesma propaganda no mesmo intervalo. Incrível! Não há como reclamar? Talvez pagar o proporcional ao que é realmente conteúdo?

    abs

  4. A TV paga é um surrealismo: vende para quem já comprou! interrompem um seriado para exibir uma chamada da própria série ou interrompem a programação do canal para propaganda do próprio canal!…olha só, eu estava gostando de assistir quando vc veio atrapalhar pedindo para eu assistir!

    Os canais pagos pegaram o vírus Polishop, vendem máquinas para fazer suco mandioca em pequenas parcelas.
    O ridículo maior cabe ao aviso que suco de mandioca é tóxico e não se deve tentar fazer em casa!

  5. Bem, tem os três lados da moeda:
    1) Você vai financiar diretamente obras do metrô, melhoria no transporte coletivo, etc? Não? Então deixe a propaganda financiar. Não gostou, leia um jornal. Só não concordo com anúncios sonoros em coletivos, pois acabam por ser uma forma de tortura (crime contra os direitos humanos). É óbvio que não vou entrar no mérito de desvio de verbas, mau gerenciamento, etc; não faz parte do assunto. Este é o ponto para o tal do alguém tem que financiar isso.
    2) O Highlander já comentou esse: vc paga canais de TV para ver…propaganda? Propaganda por propaganda, prefiro a gratuita, ou melhor ainda: desligar a TV. Por que então eles não pagam TV a cabo pra mim (pra todos), não é mesmo?
    3) Quando a instituição não tem a mínima noção do que seja CRM. Essa é ofensiva, insultante, insuportável, anti-ecológica e também atenta contra os DH. O sujeito, ganhando salário mínimo, recebe em casa, propaganda do banco: financie seu automóvel. Depois, ganhando 2 salários mínimos, recebe outro tipo de propaganda, do mesmo banco, em casa: financie sua casa própria. Aconteceu comigo e encerrei a conta, pois só podiam estar me xingando de imbecil…

  6. Interessante o artigo, mas eu esperava um aprofundamento maior no absurdo que se tornaram as propagandas na TV Paga.

    Vários canais lotearam diversos horários da programação pelos quais NÓS pagamos.

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