Twitter: perdemos tempo com regras e etiquetas?

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Eu sou o homem que falava cassanês. Cassanês, dizem, é meu dialeto particular, que consiste em despejar palavras de maneira extremamente rápida, não raro pela metade e de forma muitas vezes incompreensível. Tento maneirar durante palestras ou entrevistas, mas no dia-a-dia é difícil mesmo segurar o ritmo.

Mas acontece algo curioso. As pessoas mais próximas, que convivem comigo, acabam por aprender cassanês. Até onde eu sei, não há cursos, apostilas, gramáticas ou regras de como falar rápido-enrolado como eu. Elas aprendem por osmose. Assim como a gente acaba aprendendo a ouvir/falar um idioma só por estarmos vivendo num país.

O fenômeno que faz com que a convivência nos faça perceber e aprender códigos, regras e éticas de cada meio, vale para o uso da tecnologia e das redes sociais. Percebo isso quando vejo os novatos do Twitter dando RTs, usando tags, falando ?corrão?. Como eles aprenderam? Qual foi seu manual?

Se é fato que há regras e etiquetas que sobrevivem ao crescimento do Twitter ? e que definem a cultura de quem usa a ferramenta como algo maior que a ferramenta em si ?, também é inevitável que muitas das ?leis verbais? da rede se percam com seu crescimento. A vida é assim, não adianta fazer #mimimi.

Dá para dizer que quanto menor é a comunidade, quanto mais de nicho, mais regras ela tem. E mais destas regras são respeitadas. Experimente observar um grupo de motoqueiros, tipo Hell?s Angels. São inúmeros rituais, saudações, códigos? o mesmo vale para caminhoneiros, escoteiros, maçons e pioneiros do Twitter.

Mas quando abrimos o foco de ?caminhoneiros? para ?motoristas?, os códigos rareiam e é preciso pôr polícia na rua para garantir que as regras básicas sejam respeitadas.

Conforme o Twitter cresce, reduz-se a sensação de grupo, de tribo. Como já não faz sentido falar em ?internautas?, como a ?blogosfera? hoje representa mais a panela dos early adopters, daqui a pouco não fará sentido nos percebemos como tuiteiros, twitters, o que for.

O crescimento do Twitter diluirá suas regrinhas. Daqui a pouco USAR SEU JEITINHO E ESCREVER TUDO EM CAIXA ALTA pode deixar de ser falta grave (100 pontos na Carteira Twitteira de Habilitação).

Dar RT sem citar a fonte pode não representar mais a apreensão da carteirinha de internauta. Usar script para ganhar usuários deixará de ser um problema. Na verdade, deixará de ser uma solução, quando nós, sub-celebridades digitais, assumirmos nosso posto real num ambiente popular e popularizado. E nada disso é necessariamente ruim.

Quando o Homem instala uma sociedade, um grupo, há três coisas que ele invariavelmente acaba fazendo:

  • 1) Ergue uma Igreja;
  • 2) Extermina os índios;
  • 3) Cria regras.

As igrejas do vilarejo chamado Twitter são os gurus, os pioneiros, aqueles que elegemos como representantes das melhores práticas, líderes espirituais incontestes. Os índios não foram exterminados, mas a verdade é que, para os pioneiros, quanto mais os nativos do Orkut ficarem longe, melhor.

Um dos motivos que nos faz adorar os memes é que sabemos que a maioria das pessoas não faz ideia do que eles são. Os memes, por serem exclusivos, nos mantêm ligados como grupo. Conhecer a Susan Boyle, o Zina, seguir o @realwbonner, saber do barraco A, B ou C. É o que nos une. Quando todos conhecem ? ou quando o conhecimento está disperso ? o grupo se dissipa.

Isso posto, será que faz sentido gastarmos tanta energia discutindo as vaidades de nosso mundinho? Será que não é perder tempo demais explorando só a parte visível do iceberg? Se o Twitter, como nosso ecossistema digital, não sobrevive a um bando de adolescentes clamando pelos Jonas Brothers ou tem sua credibilidade ameaçada por um post pago aqui e uma jovem que usa scripts acolá, o problema não está nem nos Jonas Brothers nem no script. O problema está no Twitter.

O problema é dessa ?sociedade? que a gente criou, que é frágil demais. Que depende de regras fadadas ao esquecimento. Os índios estão invadindo o forte-apache e queimando a igreja. Quer saber? Deixa invadir. Vai ser bom pra todo mundo.

O Twitter, as redes sociais em geral, são só o começo. Não adianta murar o terreno agora, pois o terreno está se expandindo, crescendo, novas espécies surgindo.  A gente tem mania de ficar discutindo porque o mar está recuando na praia ao invés de se preparar para o tsunami que vem em seguida. #prontofalei. [Webinsider]
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Avatar de Roberto Cassano

Roberto Cassano (rcassano no Twitter) é blogueiro e diretor de estratégia da Agência Frog.

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5 respostas

  1. Pingback: O que não fazer no Twitter? | Blog Mídias Sociais
  2. Também acredito que esteja ocorrendo uma divisão natural nas redes socias … eles estão sendo dividas em subtipos … e dentro destes subtipos as regras sempre são as mesma …

    Quem tem orkut sempre esta a buscar informação barata facil ( ou garotinhas/garotinhos ) e as regras são as mesmas desde sempre …

    Twitter é um publico mais elitizado que por mais adeptos (em numero) , twitteiros mesmo são poucos … o que eu digo é que talvez as regras continuem a mesma, só o que ocorre é uma pequena mudança nas regras para diferenciar quem realmente quer aquela rede e entendeu como ela é util ou só esta la por moda …

    Desculpe a confusão das ideias , mais esse é o modo castrones de escrever xDDDD

  3. Realmente ainda é só o começo, estamos passando por mudanças constantes e de forma acelerada.

    Em relação ao tsunami, ele vem acontecendo faz tempo, pois hoje diferente de 15 anos atrás, qualquer pessoa, em quase qualquer lugar do mundo pode publicar o que pensa, reunir suas memórias e divulgar isso para outras pessoas, de forma rápida e usando diversas ferramentas disponiveis na web.

    Vamos em frente, acompanhando, participando e instigando essas ondas gigantes!

  4. O artigo diz tudo o que eu queria dizer sobre o Twitter e redes sociais, de um modo geral. É quase uma ditadura essa história de regras e etiquetas. Dá-se mais importância à preservação do formato do que à função social das ferramentas.
    Daqui a pouco os não-usuários ou usuários que infringirem as regras vão ser banidos do ciberespaço, tal qual os fumantes.

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