O filme Sem Tempo Para Morrer mata ironicamente o personagem James Bond, o lendário 007. Mas, como a franquia promete o retorno de James Bond, resta sabe se ressuscitado ou substituído.
Já faz anos que eu não assisto um só filme desta eterna franquia 007, conhecida como James Bond. Alguns poucos discos estão na minha prateleira, de filmes desta série que marcaram época, por algum motivo específico, mas raramente são vistos.
Peço clemência a quem de direito, os fãs que me perdoem, mas eu perdi a paciência com esta coisa horrível tachada de super herói ou de super heroísmo. E toda vez que eu me defronto com este tipo de argumento eu imediatamente me deparo vendo um mundo surrealista e pleno de falsos valores!
Eu resolvi arriscar assistir James Bond outra vez, no super longo e último filme da franquia, com o título de “No Time To Die” (007 – Sem Tempo Para Morrer). Seguindo o exemplo de outros cineastas a produção resolvera rodar o filme em película 35 mm com enquadramento anamórfico, e algumas cenas com Super Panavision 70 mm e IMAX 70 mm, fotograma transversal. Os formatos de som incluem tudo, Auro 3D 11.1, Dolby Atmos, DTS:X, etc. Uau…
O trailer pode ser visto a seguir:
A última vez que eu teci comentários sobre um filme desta série eu chamei a atenção do leitor para um ator que durou um único filme, chamado George Lazenby. Gozado que neste filme a trilha sonora de John Barry incluiu uma das últimas presenças em estúdio do grande Louis Armstrong, cantando “We have all the time in the world”, que deu credibilidade ao filme.
Em Sem Tempo Para Morrer há uma citação orquestral da música cantada por Louis Armstrong, a qual eu entendi como uma mera coincidência, mas eu me enganei, quando ouvi nos créditos a gravação original daquela época tocada integralmente. Porque esta citação eu só posso imaginar que a música se refere a uma motivação temporal, tentada ser exposta neste filme. Ou então ao fato de Georges Lazenby ter sumido das tela, como Daniel Craig está prometendo fazer.
O problema, para mim como cinéfilo, é que as razões para a manutenção tão longa desse personagem da década de 1960 nas telas são meramente comerciais. E como atualmente o que fica valendo é só porradaria e assassinatos em série, com a arquitetura de um vídeo game, James Bond passou a ser mais um entre as dezenas de filmes que seguem este tipo de roteiro.
Pior ainda foi tentar contemporizar a diferença de velhice e raça entre os personagens tradicionais da série. E aqui é bom lembrar que o personagem original tem as suas raízes na guerra fria, pouco disfarçada nos roteiros. Então, trata-se de um personagem completamente anacrônico, sob o ponto de vista histórico.
E no novo filme, as transformações dos personagens ao longo da linha de tempo chega às raias do ridículo. Seria como se o tempo parasse e os personagens não tivessem envelhecido. Porém, a mudança física deixou de ser consistente. Por exemplo, Moneypenny agora é uma mulher preta que atirou no herói, M voltou a ser um homem, e vai por aí. Idem para o antigo 007, cujo número de série lhe foi destituído, e entregue para uma mulher. O resultado, para mim como plateia, é inconvincente.
James Bond se aposentou. Em seu lugar há uma mulher 007, mas que cede o número momentaneamente para o seu antigo proprietário, para que ele possa novamente salvar o mundo das ações de um super vilão.
A atraente Ana de Armas, na personagem Paloma, despudoradamente exibida, aparece em um relance, e senta a porrada nos seus algozes. Há uma notória desconstrução da fragilidade feminina, que vem sendo elaborada nos filmes de cinema há décadas, e que segue impune aos olhos de quem assiste. E isso tenta provar o quê exatamente? Todo mundo que tem um mínimo de experiência de vida sabe que a mulher é mais forte que o homem, em todos os sentidos. Portanto, não há necessidade de provar nada, a não ser mudar o elemento feminino em outra espécie de máquina de guerra invencível.
Filmes como esse prestam serviço aos fãs do personagem, fãs do gênero ou fãs de vídeo games. Mas, isso se estes conseguirem aguentar as quase 3 horas de duração do filme.
Como cinema, eu entendo que não é possível substituir uma boa estória e um bom roteiro por efeitos especiais. Esse é talvez o risco de subestimar o cinéfilo, que desejaria ver efeitos especiais fazerem sentido não apenas para impressão visual.
Entretanto, eu não me sinto à vontade para classificar No Time To Die como o pior filme da franquia, porque a repetitividade das franquias em geral é flagrante. Caberia então ao fã do personagem determinar se é mais uma entre as produções que deixam a desejar ou se sobra um espaço para um filme melhor.
James Bond morreu, literalmente. Mas, ao final dos créditos aparece a legenda “James Bond will return”. Resta saber se ressuscitado ou substituído. Afinal, neste filme mesmo 007 já é outra pessoa. Outrolado_
. . .
Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.
0 resposta
Boa noite, Paulo. Muito legal o texto. Acompanhei vários filmes da franquia. Lembro-me do primeiro, se não me falha a memória lá no distante 1962: “O satânico Dr.No” (Dr.No) com lendário Sean Connery. Vem a mente também “Moscou contra 007” (From russian with love), também com Connery e a estonteante Daniela Bianchi que tive uma paixão efêmera por ela nos meus 18 anos. Vale lembrar também a colossal briga do herói com o personagem de Robert Shaw. Enfim, uma franquia divertida.
Abraço.
Oi, Daniel,
Obrigado pelos comentários. A franquia era outra, mais lúdica, acho eu, e Sean Connery emprestou ao personagem um carisma insofismável, que atores subsequentes não conseguiram.
Boa noite, Paulo. Muito legal o texto. Acompanhei vários filmes da franquia. Lembro-me do primeiro, se não me falha a memória lá no distante 1962: “O satânico Dr.No” (Dr.No) com lendário Sean Connery. Vem a mente também “Moscou contra 007” (From russian with love), também com Connery e a estonteante Daniela Bianchi que tive uma paixão efêmera por ela nos meus 18 anos. Vale lembrar também a colossal briga do herói com o personagem de Robert Shaw. Enfim, uma franquia divertida.
Abraço.
Oi, Daniel,
Obrigado pelos comentários. A franquia era outra, mais lúdica, acho eu, e Sean Connery emprestou ao personagem um carisma insofismável, que atores subsequentes não conseguiram.