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The Sound of Music, ou A Noviça Rebelde, como é conhecido este filme no Brasil, resguarda a narrativa clássica do cinema, com uma linguagem que merece ser estudada e apreciada por todos aqueles que amam o cinema.

 

Anos atrás, uma colega de trabalho super cinéfila comenta comigo que uma pessoa da família arrumou uma namorada, ambos com idade mediana, e ela propôs assistir juntos “A Noviça Rebelde”. E o rapaz parece que não gostou da ideia, e esta colega, possivelmente em solidariedade, achou a escolha ridícula para um casal em um início de namoro.

Gozado é que, muitos anos antes, a Claudia, que se tornou atriz e morreu recentemente, falou para mim que adorava este filme, e eu lembrei disso por causa agora do seu falecimento. Na época em que ela me disse isso, eu tinha uma cópia em Laserdisc, que ela acabou nunca vendo, uma pena.

The Sound Of Music foi lançado em 1965, se não me engano, nos cinemas cariocas, em cópia CinemaScope, de 4 canais, e muito tempo depois, na sua cópia em 70 mm, formato Todd-AO, como tinha sido realizado:

 

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A fotografia do filme, apresentação de alto luxo naquela época, é destacado na apresentação dos créditos do início do filme:

 

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No lançamento de 1965 o cinema Palácio estava lotado, o que não faltou lá dentro foram freiras, vestidas a caráter, e na reprise não foi diferente, prova inequívoca da popularidade deste filme.

A realização do Som da Música

A UFA lançou a estória da família Trapp na década de 1950, primeiro com A Família Trapp, de 1956, e depois com a continuação em A Família Trapp na América, de 1958.

A atriz, cantora Mary Martin teria assistido e gostado muito do primeiro filme, e propôs aos compositores Rodgers e Hammerstein aproveitar o assunto, e eles partiram da estória do filme, para criar um espetáculo na Broadway.

Robert Wise, excelente e experimentado diretor, se baseou em parte no roteiro alemão, para construir uma nova estória, na qual Maria, a “noviça rebelde”, iria se juntar à família do Capitão da Marinha Austríaca Georg von Trapp, para fazer o papel de tampão educador dos ingovernáveis 7 filhos do mesmo.

Quem assiste ao filme alemão percebe claramente a cópia de ideias e cenas, porém a obra de Robert Wise passa, na maior parte do tempo, mais longe disso. A equipe rodou algumas cenas em estúdio americano, mas se transferiu para a Áustria, carregando consigo as pesadas câmeras Todd-AO.

 

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A equipe usou também as câmeras MCS-70, para as tomadas aéreas. Trata-se de uma câmera desenhada por Jan Jacobsen na Alemanha. Esta câmera foi usada depois no filme Grand Prix, por causa da sua portabilidade:

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Uma coisa que até hoje me impressiona neste filme é o enquadramento perfeito de cada cena: a câmera só se movimenta, inclusive nos “travellings”, como, por exemplo, a corrida de bicicletas, para resguardar a posição dos atores no enquadramento. Talvez por causa disso, quem assiste não se dá conta de que a câmera esteja sendo movimentada intencionalmente na tomada de cada cena.

Outro aspecto do filme que me impressiona muito é a iluminação muito bem planejada do rosto dos atores. Isso se vê claramente na cena onde Maria e Georg dançam no pátio da casa, particularmente nos enquadramentos em close:

 

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Nenhum mérito técnico me causou surpresa, porque Robert Wise teve papel importante na montagem de Cidadão Kane, de Orson Welles, diretor jovem na época, que deu a Wise inteira liberdade criativa. Em Sound of Music a montagem é simplesmente exemplar, isso para dizer o mínimo a este respeito!

A parte técnica

Pode parecer um exagero da minha parte, mas o conjunto deste filme é excelente para quem quer estudar cinema, nos quesitos de montagem (minutagem, inclusive), iluminação, edição, etc., que tornam o conjunto da obra quase perfeito. Robert Wise sabia muito bem que luzes tem expressão, até porque elas têm muito disso no cinema expressionista feito na Alemanha, ainda na época do cinema mudo.

No geral, atores são muito bem dirigidos, misturando humor, alegria e conflitos em um só roteiro. Se alguém que estivesse estudando cinema me perguntasse o que assistir, eu não hesitaria em citar este filme.

As lições moralistas

O título “The Sound of Music” é perfeito, dentro do contexto original da estória planejada no roteiro do filme. Maria usa a música para arregimentar (sem trocadilho) o lado sensível do ego daquelas crianças. Mais importante ainda, ela consegue despertar o lado lúdico de cada uma delas, como forma de enxergar o lado divertido do espírito criativo.

A música é, essencialmente, um remédio para a alma, ela excita, acalma, entristece ou emociona quem se identifica com ela. Através da música seres humanos se conhecem e se respeitam, às vezes se unem espiritualmente. Com a música ensinada por Maria, os filhos do Capitão se tornam mais coesos e solidários, começando a se preparar para enfrentar a vida.

Há neste filme também uma pitada política, com a entrada em cena (novamente, sem trocadilho) dos nazistas na Áustria, o conhecido Anschluss, que anexou (daí o sentido do termo) o país à Alemanha, bem antes do início da segunda guerra mundial. Historicamente, se sabe que parte do povo austríaco aprovou a invasão, mas houve aqueles que não concordaram com a expansão dos nazistas, tirando-lhes implicitamente a liberdade de escolha, ou seja, transformando a Áustria em uma ditadura nazista compulsória.

As edições em disco

O Laserdisc que eu tinha ignorava a relação de aspecto do formato Todd-AO (2.20:1) e colocava no disco um enquadramento 4:3. Além disso, a imagem chamou a atenção para uma distorção absurda das cores, principalmente no início do filme.

É bom lembrar que as máquinas de telecine usadas para a recuperação dos filmes começaram a evoluir a partir da década de 1990. Assim, no DVD, a imagem original já saiu bem melhor, respeitando o formato da fotografia, mas ainda com uma correção de cores ainda deixando a desejar.

Para a edição atual em Blu-Ray, recorreu-se ao negativo original de 65 mm, levado ao telecine capaz de escanear a película em até 8K. Posteriormente, produziu-se um intermediário digital de 4K, usado no novo disco. Tais reduções de resolução não impediram que o Blu-Ray tenha apresentado uma imagem de boa qualidade, inclusive com uma correção de cores bem mais próxima do fotograma original que as edições anteriores.

Este filme teve uma trilha sonora magnética de 6 canais feitas para a exibição nas salas de cinema com 70 mm, muito embora o som tivesse uma mixagem nos canais frontais, com diálogo direcional. Esta mixagem está preservada no Blu-Ray, no formato DTS HD MA 7.1, à qual foi acrescentada uma correção tonal da trilha sonora. Em função desta última restauração, o som do Blu-Ray é bem menos estridente do que a trilha do Laserdisc.

Por motivo que eu desconheço, a edição 4K está, neste momento, por sair. Aliás, filmes feitos com negativo 65 mm carecem muito do aumento da resolução em disco, e cada aperfeiçoamento nesta direção será sempre muito bem-vindo. Outrolado_

 

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Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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0 resposta

  1. Bom dia, Paulo. Ótimo texto, como sempre. O lançamento foi em 1965 mesmo. Lembro-me que nesse ano eu estava prestando o serviço militar. Nesta praça era o conhecido TG. Infelizmente não tive a oportunidade de assistir no cinema. Tenho aqui uma cópia em DVD e estou satisfeito com a qualidade. Revejo sempre.

  2. Bom dia, Paulo. Ótimo texto, como sempre. O lançamento foi em 1965 mesmo. Lembro-me que nesse ano eu estava prestando o serviço militar. Nesta praça era o conhecido TG. Infelizmente não tive a oportunidade de assistir no cinema. Tenho aqui uma cópia em DVD e estou satisfeito com a qualidade. Revejo sempre.

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