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Frank Darabont rodou The Majestic (Cine Majestic), sobre o fechamento das salas de cinema e a lista negra que perseguiu cineastas americanos. Mais ou menos por esta época, eu tinha uma grande amizade com um analista de cinema de Nova York, depois falecido, que havia conversado com Darbont, a respeito de sua obra.

 

Quando a Internet com imagens apareceu na minha vida de usuário, lá pelo meio da década de 1990, eu estava em plena atividade fora do trabalho, pesquisando a melhor forma de montar o meu home theater com som Dolby Digital.

Foi quando eu entrei para o site de discussão Home Theater Forum, e lá eu encontrei muita gente que tinha as mesmas dúvidas que eu ou até mais, o que era compreensível, porque apesar de o site da Dolby oferecer documentações a respeito do Dolby Digital, muito daquilo não ficava claro para leigos como nós, situação essa enormemente agravada pelos manuais de receivers da época, que não explicavam nada.

Entre as várias amizades virtuais que eu fiz naquele fórum uma foi feita com o scholar de cinema Stuart J. Kobak, que me ensinou muita coisa sobre home theater. Infelizmente, o fórum cresceu demais e gente nova, sem educação, tornou o ambiente insuportável. Eu e muitos que eu conheci por lá saíram em protesto. Um dos que saiu foi o entusiasta Mike Knapp, que abriu seu próprio fórum, o Home Theater Talk, e me convidou para participar nas discussões de lá. E nestas circunstâncias eu reencontrei o Stu, que havia construído um site para a análise de filmes e assuntos correlatos, chamado por ele de “Films on Disc”.

A minha amizade com o Stu se aprofundou mais nesta época, e eu até fiquei surpreso quando ele, um profundo conhecedor de cinema, queria sempre saber as minhas opiniões sobre filmes. Nós trocávamos mensagens de e-mail quase toda semana. Houve um momento em que ele começou a fazer uma montagem sofisticada de um home theater e me mandou várias fotos, todas elas infelizmente perdidas quando a minha conta no servidor do Hospital Universitário foi encerrada, burrice minha que não fiz cópia. Mas, o projeto dele saiu no site, e algumas dessas fotos ainda podem ser vistas.

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Em 2002, eu estava indo até Philadelphia a trabalho. Stu então me propôs um encontro em Nova York logo a seguir. Ele inclusive me sugeriu que eu não deveria perder a oportunidade de visitar o lendário Radio City Music Hall. Infelizmente, pouco antes da viagem, eu recebo a notícia do filho dele que ele havia falecido. A morte dele aconteceu em agosto e eu só viajei no início de novembro. Uma daquelas perdas que a gente sente para o resto da vida.

The Majestic

Stu Kobak havia escrito um manuscrito longo, se não me engano, de uma encontro que ele havia tido com o diretor de cinema Frank Darabont. E como a família parece que decidiu manter o site vivo, quem quiser pode ir lá e ler as duas partes da conversa.

Por coincidência, um dos assuntos recorrentes entre nós tinha sido a quebradeira dos cinemas de bairro, e aconteceu que Frank Darabont fez o filme The Majestic (no Brasil, Cine Majestic), abordando não só o fechamento dos cinemas como a perseguição da qual foram vítimas vários cineastas de Hollywood.

Em The Majestic, a estória se desenrola em pleno studio system, época em que os produtores ditavam os roteiros como eles achavam que os filmes deveriam ser rodados. Jim Carrey encarna o roteirista Peter Appleton, que havia entrado na lista negra, mas que, ao sair de Los Angeles para espairecer as ideias, se envolve em um acidente com o carro, perde a memória, e vai parar em uma cidade onde o dono do antigo cinema local achou que ele era o seu filho desmemoriado, que havia voltado da guerra na Europa. Depois disso, ele propõe ao suposto filho reformar o Majestic, que estava fechado e em ruínas.

 

 

The Majestic é uma compilação de todos esses eventos, e tenta mostrar para a plateia de que antigos cinemas deviam ser preservados. O filme é também uma apreciação crítica de dois fatos, o primeiro, do ambiente ditatorial nas produções de filmes em Hollywood daquela época, e o segundo, o das acusações sem base e a discriminação de cineastas, que ficaram sem poder trabalhar de uma hora para a outra.

No filme, ao ser julgado, Peter Appleton cita a própria Constituição Americana, para provar que o país tinha sido fundado com amparo à liberdade de expressão, e que este princípio tinha sido desrespeitado.

Eu tenho na minha coleção uma caixa com os filmes de Frank Darabont em Blu-Ray. E toda vez que eu assisto de novo Cine Majestic é inevitável não me lembrar do Stu Kobak, nossas trocas de ideias sobre cinema e home theater, e do nosso encontro frustrado que não aconteceu em Nova York. Aliás, a minha passagem por lá foi breve, acabei não indo ao Radio City Music Hall, e eu cheguei a pensar em voltar lá de novo, com mais calma, mas acabei desistindo. Não sei como está a situação de lá agora, mas eu tive conhecimento de muita iniciativa preservacionista local no passado distante.

Acho, até hoje, que os amantes de cinema e das salas de projeção são aqueles que mais sentiram a falta dos filmes clássicos e do local onde eles foram projetados. Mas, fazer o quê? A época dos grandes estúdios acabou faz muito tempo, e a fachada resultante é somente uma máquina de fazer dinheiro, com refilmagens e sequências intermináveis de filmes que fizeram sucesso. [Webinsider]

 

. . .

 

 

Dalton Trumbo e a luta contra a intolerância sobre um indivíduo

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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4 respostas

  1. Bom dia, Paulo. Esse artigo me faz lembrar do Cine Majestic aqui em S.Paulo. Já tive oportunidade de comentar aqui a espetacular projeção dessa sala que exibia o aclamado filme “Grand Prix” em 70m/m.

    1. Oi, Celso,

      Eu ouvi falar deste cinema. Infelizmente, foram poucas as vezes que eu estive em São Paulo a ponto de ir ao cinema. Mas, nos que eu fui, não me lembro mais os nomes, todos muito bons. Em um deles, no centro, eu assisti “Cul-de-Sac” do Polanski, nos bons tempos do cinema de arte.

  2. Olá Paulo
    Essa matéria nós trás uma reflexão… Até onde percorrerão as empresas exibidoras de Cinema Multiplex, para sobreviver e atrair o público ? Recentemente assisti um documentário sobre os novíssimo projetores a Laser da Cinionic com resolução em 4k, que exibem arquivos provenientes de um servidor via satélite, em que os arquivos de filmes contém cerca de 600gb, Isso é um novo formato de Cnema, ou um Home Theater ultra moderno coletivo ?

    1. Oi, Rogério,

      Eu estava justamente por esses dias trocando ideias com um conhecido, que é um dos sócios da Projecine, sobre isso, ele com larga vivência de projetores e cabines. Todos os cinemas aqui do Rio jogaram fora os outrora valiosos projetores de película, por causa da ditadura imposta com a projeção digital. Mas, ele ponderou e eu até concordo, que esta mudança, além de diminuir qualitativamente o mercado exibidor, só facilitou a pirataria de sinal, com a resolução dos artigos que o pirata quiser. É uma indústria ilegal paralela, a qual provavelmente alimenta uma cadeia que arrecada muito dinheiro.

      Se o exibidor se nivela, em qualidade da apresentação dos filmes, ao usuário doméstico, para que então ir ao cinema? Eu já passei por uma situação em um cinema com sala muito pequena, e ouvi de uns garotos na fila da frente comentando que a tela parecia a televisão da casa deles, e é isso, em última análise, o que destrói a mágica da plateia estar em uma sala de cinema ampla, com cortina, etc.

      Repare que vários cineastas se recusam a abandonar a película. Oppenheimer está prestes a ser lançado em 70 mm (IMAX, inclusive) e 35 mm, nos cinemas do resto do mundo que ainda conservam intactas as suas cabines.

      E por que esta “teimosia”? Porque as salas de cinema eram e deviam continuar sendo diferentes do cinema em casa, cada local tem o seu valor intrínseco e não devia ser adulterado.

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