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O filme sobre Elis e Tom resgata a memória da gravação do disco do mesmo nome, com depoimentos daqueles que estiveram por lá ou que sabiam o que de estranho havia ocorrido.

 

Eu vejo que existem momentos na vida de qualquer um que as pessoas declinam ou pensam em fazê-lo, em se envolver com algum assunto delicado, e este momento cresceu espiritualmente em mim depois que eu assisti o documentário “Elis e Tom, só tinha de ser com você”, subtítulo parafraseando a conhecida música do Tom, no período áureo da Bossa Nova. O documentário teve dois autores: Roberto de Oliveira e Jom Tob Azulay, com roteiro do primeiro, escrito com a colaboração de Nelson Motta.

O objetivo de Elis e Tom era mostrar os caminhos tortuosos que cercaram a gravação do disco do mesmo nome, gravado em 1974 no estúdio da MGM, Califórnia. O assunto em si já teve inúmeros relatos divulgados na Internet, revelando aspectos complicados de uma suposta parceria entre Tom e Elis, que não tinha nada para dar certo! Tanto assim que lá pelas tantas Elis ameaçou ir embora e largar o projeto.

E a razão era muito simples: André Midani (Phonogram) resolveu dar um presente a Elis, e ela no final escolheu gravar um disco. A estória é contada com detalhes no filme, e no final se sabe o que parecia óbvio: Tom pensou que seria um disco em parceria, mas não era, e sim um disco da cantora com a colaboração do maestro, ou seja, o disco era dela, com a participação dele. Não seria o caso de colocar o título como “Elis Interpreta Tom Jobim” ou algo parecido?

Claro que quando Elis chegou a Los Angeles a rasteira já tinha sido dada. E pegou Jobim de surpresa, exatamente em um período da sua vida onde a sua obra, e por que não dizer a própria Bossa Nova, haviam ambas perdido o seu momento junto ao público brasileiro, diga-se de passagem, fortemente influenciado pelo movimento político de esquerda contra a ditadura, feito pela classe artística.

Ao tomar conhecimento de que o disco seria mais um disco da cantora e ele um mero coadjuvante, Tom ficou chateado, mais ainda que a sua participação na gravação sequer incluiria seus próprios arranjos ou de ter liberdade para escolher um arranjador da sua confiança, como Claus Ogerman ou Eumir Deodato.

O documentário mostra isso com o testemunho de pessoas, mas fica no ar implícito que Tom colocou o ego antes de tudo, quer dizer, Tom Jobim era um sujeito vaidoso e cheio de estrelismo na cabeça. Só que a vaidade de estrelismo cabe totalmente a Elis Regina e não a ele!

Elis chega lá com um histórico precedente de criadora de casos e de relacionamentos discriminatórios com colegas da classe artística, mas isso o documentário “pega leve” com ela. Documentários, diga-se de passagem, espelham a visão do(s) diretor(es), não sendo necessariamente a visão de quem assiste.

Por acaso, eu tive um amigo que frequentou a casa do Tom, conhecia-o muito bem, e me contou vários episódios envolvendo o maestro com outras pessoas, inclusive e principalmente aquelas figuras inconvenientes, as quais Tom tratava com bom humor.

Em uma reportagem de TV, o jornalista, também de forma inconveniente, pergunta a ele sobre se ele tinha noção da repercussão da Bossa Nova no resto do planeta, e ele calmamente afirma que ele e os outros compositores da Bossa Nova estavam fazendo música “para as garotas do bairro” …

Eu cansei de ver entrevistas de TV com o Tom se evadindo de falar sobre a sua obra, provando assim que ele não seria capaz de superestimar o que ele havia feito ou de se envaidecer com isso.

Na realidade, eu já escrevi muita coisa sobre a vida e a música do Tom, não precisando aqui ser repetitivo. Muito menos enfatizar outra vez a influência que a Bossa Nova teve em músicos, compositores, cantores e arranjadores lá de fora, o que se deve muito à obra de Tom.

Salvo melhor juízo, eu achei uma afronta a Phonogram mandar Elis Regina a Los Angeles sem avisar ao Tom sobre aquele projeto, onde ele seria apenas um ator coadjuvante, porque o que a produção havia feito, propositalmente ou não, foi colocar a pessoa do Tom para baixo.

Eu acho no mínimo abusivo e sem base alguma, falar sobre a obra do Tom, classificando-a de “minimalista”. Ninguém precisaria saber teoria musical a fundo (e eu sou um que não sei mesmo!) para perceber a natureza criadora, a beleza e todas as inovações harmônicas das músicas do Tom. A obra está extensamente registrada em disco, qualquer um pode fazer a análise que quiser!

O disco Elis e Tom e suas reedições

A gravação original de 1974, lançada em elepê, teve incontáveis reedições, aqui e lá fora. Em anos recentes, João Marcello Bôscoli, filho de Elis com Ronaldo Bôscoli, e outros colaboradores, revisitaram as fitas das sessões na MGM e remixaram em matriz multicanal 5.1 para uma edição em DVD-Audio. Um CD remasterizado foi também incluído, embora o DVD-Audio seja híbrido, com trilhas que podem ser reproduzidas por qualquer reprodutor de DVD. O mesmo tipo de trabalho foi feito para o disco Falso Brilhante, mas não sei se foi repetido para outras gravações da cantora. Em ambos os casos, o lançamento foi feito pelo selo Trama.

Uma inspeção do conteúdo com a ajuda do programa Foobar2000, mostrado na captura abaixo, mostra uma remasterização codificada em MLP de 5.1 canais, com resolução de 96 kHz e 24 bits:

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Eu gosto do disco Elis e Tom, mas longe de considera-lo uma obra-prima, como sugerido no documentário. Tom tem uma significativa obra discográfica, e muitos desses discos foram produzidos lá fora, quando então o prestígio dele aqui não era mais o mesmo.

Elis foi uma cantora com méritos vocais e interpretações singulares inegáveis. Depois que ela se livrou daquela fase horrível do programa O Fino da Bossa, a vida dela como intérprete mudou muito.

Eu até acho que ela acertou em cheio quando cantou “Dois Prá Lá Dois Prá Cá”, escrito por João Bosco e Aldir Blanc. O arranjo cobre notórios plágios dos arranjos vocais de Henry Mancini, parece até que a gente está ouvindo a trilha de Bonequinha de Luxo. Mas, funciona, e é um vocal simbólico dos encontros de apaixonados em estado de ansiedade ou desespero.

Até hoje, eu também acho que uma das suas principais gravações foi aquela realizada com Toots Thielemans “Elis & Toots”, gravado pela Philips na Suécia em 1969.

Mas, isso sou eu. Eu tenho certeza de que fãs de Elis, e talvez do Tom, possam gostar de outras gravações de ambos os artistas. Acho que valeu a pena assistir o documentário, e espero, mesmo com todas as minhas ressalvas, que ele possa servir de uma base testemunhal do disco aos interessados. [Webinsider]

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Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim

A influência da Bossa Nova na música popular romântica norte-americana

Afinal, quem criou a Bossa Nova?

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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