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Ray Conniff veio ao Brasil na década de 1960, para depois voltar umas duzentas vezes, com a sua orquestra e coral

Ray Conniff fez parte das paradas de sucesso no rádio do passado e dos bailes locais nas casas das pessoas da minha redondeza. Seu sucesso no Brasil fez ele voltar aqui dezenas de vezes, sempre mantendo um público cativo.

 

Muitos meninos da minha época eventualmente ganhavam dos pais um rádio de pilha transistorizado, a maioria japoneses, e com ele ouviam músicas de diversos tipos, Na Rádio Tamoio do Rio de Janeiro havia um programa do tipo paradas de sucesso, onde se apresentava uma série de músicas supostamente de maior vendagem, o locutor dava um número de telefone, e convidava os ouvintes a votar na melhor música, que era então reprisada ao fim do programa.

Foi quando o boboca aqui passou a mão no telefone e votou na gravação de Ray Conniff com o trompetista Billy Butterfield “Beyond The Blue Horizon”. No outro lado da linha eu ouvi risadas, e não entendi nada! Anos depois, eu aprendi que existia um esquema de propaganda nas emissoras de rádio chamado de “jabá”, onde a gravadora pagava para a emissora tocar um determinado disco, e inventavam uma estória falando do sucesso daquela música ou disco. Os americanos chamavam a mesma coisa de “payola”.

 

Ray Conniff veio ao Brasil na década de 1960, para depois voltar umas duzentas vezes, com a sua orquestra e coral. Já Billy Butterfield esteve aqui com a World’s Greatest Jazz Band, na década de 1970, para se apresentar no Theatro Municipal. E eu então tive o privilégio de ouvi-lo interpretar “Summertime”, com um som de arrepiar os cabelos.

Os dois gravaram juntos dois álbuns na Columbia: Conniff Meets Butterfield, de 1959 e Just Kiddin’ Around, em 1963, ambos lançados no Brasil. Ambos os discos foram reeditados na série Collectables, com excelente transcrição:

 

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O sucesso de Ray Conniff, com arranjos misturando vozes com instrumentos da orquestra, dando uma coloração distinta nas músicas, encantou o Brasil e ele vendeu um grande número de discos por aqui.

Quando menino e adolescente, eu morava em uma rua pequena, onde praticamente todos os vizinhos se conheciam. Adultos e crianças organizam pequenos bailes, comumente chamados de “arrasta pés”, nas casas uns dos outros, e foi assim que Ray Conniff e companhia se difundiram nos lares locais.

Aparentemente, Conniff adorava o Brasil, tantas foram as vezes que ele voltou aqui para se apresentar. Mais recentemente, ele gravou em um estúdio paulista a antológica música Aquarela do Brasil (ou “Brazil”, como eles conheciam), mas já com um grupo de cantores bem mais reduzido:

O arranjo original foi gravado em 1960, no disco “Say It With Music”. Eu não me lembro, e posso perfeitamente estar enganado, que Conniff tenha se envolvido com a Bossa Nova, embora existam registros de arranjos dele com a música de Tom Jobim Garota de Ipanema.

Já Billy Butterfield se juntou ao trompetista Bobby Hackett e ao músico brasileiro Luiz Henrique, e gravou Bobby/Billy/Brasil, para a Verve, com arranjos, no jeito americano, de Bossa Nova.

Billy Butterfield sempre me impressionou com o seu som cristalino e a sua habilidade de completar solos de surdina com o som aberto do trompete. O leitor que, por acaso, me acompanha, sabe que eu fiz esforços junto com um amigo que ainda usava vinil, para resgatar um elepê usado e roto, vindo do Ebay, de uma gravação que eu ouvi muito na infância:

 

Eu confesso que Ray Conniff nunca foi a minha praia. Antes de me envolver com o Jazz eu só ouvia a “parada de sucessos”, influenciada pelo rádio, ou Rock&Roll, daqui e lá de fora, nos rádios de pilha.

Por outro lado, eu até hoje reconheço que seus arranjos foram interessantes, e eu colecionaria alguns de seus álbuns, se não fosse o comercialismo extremo ao qual ele se apegou nesses discos. Alguns arranjos são muito interessantes, mas outros longe disso, a não ser, provavelmente, para o seu imenso público. [Webinsider]

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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