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Este ano Sam Phillips, “criador” do Rock & Roll, estaria completando 100 anos e no ano passado, a sua gravadora Sun Records, “berço” do Rock, estaria também completando 70 anos!

 

Todos os adolescentes da minha geração que tinham ou ganhavam um rádio de pilha transistorizado portátil, com ele escutavam os programas de Rock norte-americano, a maioria das músicas compostas a partir do início da década de 1950.

Em 1952, um empresário chamado Sam Phillips abriu um estúdio tosco, com o nome de Sun Records, na cidade de Memphis, Tennessee. Ali ele poderia facilmente gravar e vender discos de música caipira, mas ele procurava algo novo, e teria sido assim depois creditado como o “inventor” do Rock & Roll. Artistas como Elvis Presley, Johnny Cash, Jerry Lee Lewis, Roy Orbison e muitos outros passaram por lá.

Em 18 de janeiro completaria 100 anos, e no ano passado foi o estúdio que estaria com 70 anos de vida. Eis aí um flagrante desta última comemoração:

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Embora aparentemente inativo, o estúdio tem um site, onde inclusive vende elepês das suas gravações. Na imagem acima, pode-se ver Jerry Phillips, sentado à esquerda, filho de Sam, o qual imagino estar mantendo o site a memória do pai.

O surgimento do Rock & Roll

A história do Rock revela claramente que este estilo de música foi criado com amparo na música negra, mais especificamente, no chamado “Rhythm & Blues”, uma derivação do Jazz com uma mistura de vários outros gêneros. O termo R&B teria sido inventado por donos de gravadoras, na tentativa de classificar e vender este tipo de música. Os jargões pertencentes ao Rock da década de 1950 se confundem, porque de início ficava difícil distinguir o Rock da música Country, o estilo sertanejo de lá. Chuck Berry, um dos pioneiros inegáveis do Rock, se anunciava como músico Country.

Se tomarmos ao pé da letra que foi na Sun Records que o Rock & Roll foi inventado pelo seu dono Sam Phillips, e que ele, para tal, gravou um número expressivo de músicos brancos, seria possível fazer uma ilação (incorreta) de que o Rock é uma música de brancos, tocada por artistas negros. Também se iria negar a claríssima influência da música negra cantada nas igrejas, conhecida como “Gospel”.

Talvez fosse mais prudente dizer que o Rock & Roll foi gravado pela primeira vez por Sam Phillips, na base da experimentação com o que já existia naquela época. Músicos como Elvis Presley ou Jerry Lee Lewis se “educaram” nas igrejas dos negros, onde se tocava e cantava também um tipo de música com bastante ritmo.

E se existisse uma forma de entender o Rock e o motivo pelo qual ele se tornou popular na América e depois no mundo, foi a marcação rítmica na qual ele se baseia. As músicas podem ser até medíocres, mas são divertidas. E é aí que a adolescência começa a tomar partido.

Existe na música roqueira uma mistura de sentimentos, que enfoca nitidamente a rebeldia do público adolescente como um dos seus principais atrativos. O Rock também puxa para si a sexualidade do seu público, que, biologicamente, explode em hormônios que os empurram para a formação dos caracteres sexuais secundários.

Por isso, na década de 1950, com a sociedade americana ultra conservadora, e recém saída do pós guerra, o Rock & Roll foi encarada como “uma música do diabo”, e até proibida de ser tocada em algumas estações de rádio.

Mas, o sucesso das vendas dos pequenos estúdios chamou a atenção dos grandes estúdios, que assim passaram a incorporar o Rock & Roll nos seus catálogos. Elvis Presley, por exemplo, que começou na Sun Records, mudou-se para a RCA Victor. Esses estúdios de maior porte e poderio financeiro forçaram a aceitação do Rock pelo grande público, ao mesmo tempo que “domaram” seus artistas (Elvis Presley que o diga) para interpretar a música com menos agressividade e rebeldia e menos conteúdo sexual. Elvis foi um que chegou a ser visto como “indecente”, aos olhos do público conservador, pela maneira como ele usava a expressão corporal durante as suas apresentações.

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Os conflitos de gerações e a venda de música gravada

Na eterna luta provocada pelo “gap” das gerações, a última delas sempre leva a melhor. Nas pequenas cidades do interior dos Estados Unidos, a maciça maioria branca tinha poder aquisitivo para manter os donos das gravadoras e as emissoras de rádio felizes.

Durante muitos anos, gravadoras importantes, como a CBS, argumentavam que a venda de discos de Rock era a fonte da receita que lhes permitia gravar música clássica ou Jazz. E quando um disco desses últimos gêneros de música vendia muito o espanto era geral.

Switched on Bach, gravado por Wendy (Walter na época) Carlos vendeu horrores. Louis Armstrong gravou Hello Dolly para a Kapp Records e desbancou os Beatles na parada de sucessos. Mas, isso foram exceções, e são assim até hoje.

Por seu turno, o Rock & Roll da década de 1950 cedeu lugar ao Rock chamado de Progressivo, às fusões dos roqueiros ingleses, etc. No lugar da música, agora recheada de sintetizadores e artifícios de truques de gravação, como loops de fita magnética, e outros efeitos sonoplásticos, o Rock passou a ser objeto de shows pirotécnicos, nos quais a música propriamente dita se tornou um acessório ou instrumento das apresentações.

As gravadoras e os personagens ligados a ela, tipo Sam Phillips ou Leonard Chess (Chess Records), tiveram notoriedade nos seus melhores momentos, mas em épocas posteriores perderam o que tinham. São hoje lembrados por aqueles preocupados em preservar memória e fazer justiça, segundo eles, à contribuição que estes personagens fizeram no aparecimento da música que eles gravaram. E é melhor que assim o seja, porque a preservação da memória, seja lá qual for, é um dos principais e mais importantes fatores da formação básica de todo mundo.  Outrolado_

 

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A torre da Capitol Records

Atlantic Records

O interesse pelas gravações analógicas estereofônicas originais

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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