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Com a diminuição do público, os exibidores apelaram para a pornografia nos cinemas de rua, o que foi um prelúdio para a quebradeira.

Com a diminuição do público, os exibidores apelaram para a pornografia nos cinemas de rua, o que foi um prelúdio para a quebradeira.

 

Durante boa parte da crise derivada da ausência de público nas salas de cinema, a maioria dos exibidores começou a imaginar maneiras de fazer as pessoas retornarem aos cinemas. Uma das ideias foi a divisão dos auditórios e balcões para 2 ou 3 salas independentes. Tal solução foi na verdade uma cópia do que havia sido feito nos Estados Unidos. Não deu certo!

A seguir, os exibidores apelaram para a pornografia, atitude esta temerária em uma sociedade conservadora. A pornografia já havia feito parte da solução para exibidores estrangeiros, sendo estúdios americanos, às vezes clandestinos, os maiores produtores deste gênero de filmes. O cinema brasileiro não ficou atrás, produzindo as chamadas porno-chanchadas e filmes de sexo explícito. E com a introdução da exibição pornográfica, vários cinemas antes populares, passaram a ter a frequência de um público restrito.

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Tal iniciativa foi o prelúdio da quebradeira irreversível dos chamados cinemas de rua. Alguns deles, já tombados, viraram, ironicamente, igrejas evangélicas.

As famílias dos frequentadores de cinema não estavam acostumadas com este tipo de exibição. Eu me lembro quando o Tijuca Palace, antigo templo dos filmes de arte europeus, foi destruído e depois reconstruído em duas salas, uma delas começou a passar filmes pornográficos, e os cartazes exibidos na galeria que precedia o cinema. Muita gente protestou contra aquela exibição de cartazes, inclusive porque por ali passavam diariamente famílias com crianças!

A fama e o drama de Linda Susan Boreman

Em 1972 foi lançado em Times Square, Nova Iorque, a produção pornográfica Deep Throat (Garganta Profunda), estrelando uma moça com o nome artístico de Linda Lovelace. O título do filme foi puxado de um denunciante do escândalo Watergate, durante o governo Nixon.

Mark Felton levou a alcunha de Deep Throat, revelando segredos das manobras sujas do governo Nixon aos jornalistas do Washington Post, o que acabou na renúncia do então presidente.

A estória de Linda Lovelace, e o drama que ela passou depois do filme, foi examinado no documentário da HBO com o título irônico “Inside Deep Throat”, exibido em um dos festivais de cinema do Rio de Janeiro há muito tempo atrás.

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O documentário faz entrevistas com quem participou do filme e de sua produção. Na época da sua exibição, o filme arrecadou uma nota preta nos Estados Unidos:

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O “diretor” Gerard Damiano inovou ao incluir uma estória no filme, ao invés de simples pornografia: Lovelace, a “heroína”, não conseguia atingir o orgasmo em uma relação sexual normal. Indo ao “médico” este descobre que o clitóris dela estava na garganta, e sugeriu que ela engolisse completamente o pênis e atingisse desta forma o orgasmo desejado. Daí o título do filme.

No documentário, a realidade mostrada é outra. Linda Boreman teria sido forçada pelo companheiro a se prostituir e filmar pornografia. Tempos depois, ela se arrependeu de tudo e mudou de vida. Tentou filmes convencionais, mas todos fracassaram na bilheteria, e no final morreu em acidente de carro, em Denver, aos 53 anos. Ela já tinha escrito uma biografia, contando o drama da sua vida.

Linda Lovelace não foi a única vítima daquele filme. Harry Reems, o “médico”, fez um monte de filmes pornográficos, mas, por causa de Deep Throat, foi processado na justiça, e preso dois anos depois.

A pornografia invade o cinema convencional

Os filmes pornográficos exibidos nos cinemas acabaram por contaminar produções normais, com sexo explícito. O diretor japonês Nagisa Oshima rodou O Império dos Sentidos, onde ele conta a supostamente verdadeira estória de um casal que resolveu ficar recluso em quarto para ter relações sexuais sem parar.

O filme foi exibido no Festival de Cannes, e apareceu no Brasil como “filme de arte”, coisa que ele nunca foi. A trama é, na realidade, dramática, porque o homem aceita ser sufocado, para manter o pênis ereto, mas, no final, acaba morrendo. Segundo a lenda, depois que ele morre, a mulher decepa o pênis do parceiro e sai pelas ruas de Tokio com ele nas mãos. O título do filme faz alusão à compulsão incontrolada de manter relações sexuais obsessivamente.

Um outro caso esdrúxulo foi o do filme Calígula, produzido pelo ator e produtor Bob Guccione.

Segundo Malcolm McDowell, que participou do filme, Guccione era um pornógrafo. Mas, o filme conta com a presença de atores ingleses de renome, incluindo Sir John Gielgud, o que é estranho. O filme foi provavelmente “vendido” a estes atores como uma análise do comportamento romano, particularmente o de Calígula, um dos mais pervertidos da época. Os romanos tinham hábito de tomar vinho quente, aquecido em panelas com chumbo, sendo muito provável terem sido vítimas de uma doença chamada de saturnismo, que afeta o cérebro e todo o organismo, com vários distúrbios de comportamento.

Em Calígula, foi rodada uma cena de orgia, com dezenas de casais transando na frente das câmeras. Um colega de departamento, que era cinéfilo, viu o filme, disse que era uma comédia baseada naquela doença prevalente dos romanos, e me sugeriu assistir. Mas, eu só o fiz quando o DVD foi lançado e eu aluguei em uma locadora. E aí eu concordo com MacDowell, era pornografia mesmo, disfarçada de filme histórico!

O apelo visual da pornografia

Segundo os preceitos religiosos com os quais a maioria de nós foi educada, Deus fez a humanidade seguindo um molde Dele mesmo. Na Bíblia antiga, aparece em Gênesis a conhecida frase “Crescei e multiplicai-vos”, orientação divina para povoar a terra.

De fato, o ser humano foi feito para procriar, e nos cursos de bioquímica humana eventualmente se estuda a variação hormonal no plasma, que governa a procura das fases férteis da mulher, se tornando receptivas ao sexo, e a compulsão sexual masculina, ambos resultando na tentativa de procriação.

Mas, a sexualidade humana transcende a mera intenção de procriar, e pode inclusive trazer a um potencial paciente doenças com desdobramentos imprevisíveis. Vejam que não me refiro a doenças infectocontagiosas, mas sim as de desordem hormonal.

Eu tive uma experiência singular com este tipo de doença. Eu estava um dia isolado no laboratório fazendo uma análise, quando entra na sala uma moça bióloga estagiária aos prantos, e veio à mim para procurar refúgio e amparo. Segundo ela, um determinado colega do departamento soube que ela tinha excesso de estrogênio no plasma e deu em cima dela, o que provocou a sua fuga e choro.

Ela me conta que a doença a perseguia fazia tempo, e sofria com dores seguidamente, quando o nível de estrogênio subia, particularmente dor nos mamilos, que doíam de forma insuportável. Este tipo de dor pode também afligir qualquer mulher, durante o período menstrual, mas é um sintoma de menor duração.

No final, doença e dor, e o constrangimento de ser abordada por um profissional do departamento, o qual deveria ser compreensivo, ao invés de se aproveitar disso, fez com que a moça abandonasse o estágio.

A sexualidade humana é afetada pela pornografia. A visualização do sexo mexe com homens e mulheres, não há como evitar. Os produtores de pornografia apelam para esta característica do comportamento humano.

O estímulo visual é poderoso em qualquer tipo de apresentação, daí a expressão “uma imagem vale mais do que mil palavras”. Em uma palestra ou em uma sala de aula, o discurso é normalmente acompanhado de gráficos ou ilustrações diversas.

Os pornógrafos explicitam em filmes um comportamento exótico, que muitos casais não gostam ou não querem praticar, mas querem ver como é. Em contrapartida, o filme pornográfico é potencialmente deseducativo! E ele substitui a falta de educação de base nas escolas e/ou em casa. O pornógrafo nunca vai te mostrar como o sexo oral ou anal são formas de transmissão de doenças, às vezes lesivas ou incuráveis, como, por exemplo, o câncer de garganta.

Eu tive uma colega, que trabalhava no Instituto de Puericultura da universidade, que cansou de atender adolescentes com doenças sexuais transmissíveis, adquiridas nos bailes funk das favelas. As moças contavam a ela já iam para lá sem calcinha, e eram penetradas no salão. A maioria ficava surpresa de aparecer doente, e novamente isso é típico da falta de educação de base.

A indústria pornográfica teve um enorme baque com a Internet, que oferece vídeos de graça. Todo e qualquer modem ou roteador é obrigatoriamente equipado com mecanismos de restrição de acesso a qualquer site. O usuário insere uma senha e com isso evita o acesso dos filhos. Entretanto, os pais precisam se lembrar que a conversa é necessária e prudente. Ninguém pode reprimir adolescentes de fazer o que quiserem, mas cabe aos pais alertar para as consequências de possíveis erros cometidos, mesmo que a criança ou o adolescente insistam em errar! [Webinsider]

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Cinemas de rua: não há nada que se compare a eles!

 

Cinema Vitória, e a sua resistência ao ocaso

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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Uma resposta

  1. Olá Paulo
    Muitos proprietários desses cinemas de rua (que ainda resistiram ao fechamento, inclusive aqui na minha cidade) optaram pelo lucro fácil de filmes de película oriundos de títulos de DVD pornograficos, que não exigiam altos valores de locação, transformando essas salas em verdadeiros motéis com poltronas no lugar de camas. O resultado desse tipo de negócio acabou sendo rotulado como:
    O fim “deprimente” de uma sala de cinema !

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