Filme Rei dos Reis, super produção da M-G-M de 1961

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket
O filme Rei dos Reis foi dirigido por Nicholas Ray, um ator/roteirista/diretor perseguido pelo FBI, sob suspeita de afiliação ou simpatia com o partido comunista. Outro aspecto intrigante da produção foi a voz de Orson Welles narrando o filme, outro perseguido da comunidade de cineastas

Durante a semana da Páscoa os cinemas exibiam algum filme sobre a vida de Cristo. Rei dos Reis foi uma super produção de grande sucesso, e exibido nos cinemas Metro durante muitos anos.

 

A Páscoa sempre foi, desde que eu me entendo por gente, uma época que envolve a lembrança da paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, que deu a sua vida para salvar a humanidade. Cristo era o filho de Deus, que desceu à terra para ensinar, corrigir e fundar a igreja que direcionaria os homens a Deus. Mas, nunca foi reconhecido como o “Salvador” por parte da comunidade hebraica, e ficou assim até hoje.

Para os israelitas, a Páscoa é sinônimo da “passagem” (“Passach”), quando se celebra a libertação e saída do povo hebreu do Egito. Daí as datas desses dois eventos serem celebradas em dias diferentes.

Hollywood, embora em sua maioria fundada por judeus, primou em enfatizar a importância da morte e ressurreição de Cristo, com filmes sobre a sua vida. Durante anos aqui no bairro da Tijuca os cinemas fechavam as suas portas momentaneamente, e alguns projetavam um filme sobre “A Vida de Cristo”. Eu vi este filme várias vezes, e tratava-se de um filme mudo, e sonorizado com música. Anos depois, este filme foi exibido da mesma forma pelas emissoras de TV.

Mas, o tema “Vida de Cristo” teve, ao longo das décadas, principalmente debaixo do studio system, um número enorme de produções, de todos os tipos, desde as de baixo orçamento até as mega produções, com elencos de atores conhecidos.

Rei dos Reis (“King of Kings”, no original) foi uma dessas super produções, lançada pela M-G-M no início da década de 1960, e fez enorme sucesso nos cinemas. Olhando o histórico de Hollywood é bem mais fácil entender a razão da produção e lançamento de tantos filme religiosos: a massa de público cristão, sequiosa de conhecer a vida do seu fundador, é garantia de ótima bilheteria, e o fato dos magnatas serem, na sua maioria, filhos de famílias judaicas, que fugiram das perseguições na Europa, para tentar a sorte em solo norte-americano.

O tema sobre perseguição e libertação se tornou recorrente várias vezes e porque não justamente na vida de Cristo, pouco importa se perseguido e assassinado por interesse dos sacerdotes judeus? Afinal, Cristo também era judeu, a única diferença é que ele subverteu os credos herdados dos seus antepassados, e depois fundou a Igreja nestes princípios, com seu discípulo Pedro como o primeiro Chefe da Igreja.

O tema perseguição e discriminação não foi exclusividade de Hollywood. Pier Paolo Pasolini, cineasta italiano de vanguarda, lançou, também na década de 1960, a sua obra “O Evangelho Segundo São Mateus”, desta vez com um clima notoriamente político no roteiro. Pasolini mostra na tela um Cristo subversivo e violento, quando expulsa os vendilhões do templo.

Eu fui o responsável pelo cineclube da faculdade, e programei este filme. O campus e todas as atividades estudantis (os diretórios foram fechados) eram vigiados pela polícia que frequentava o campus disfarçada. Muitos filmes eram proibidos, mas este, falando sobre a vida de Cristo, jamais seria impedido de ser exibido, até porque as mensagens de Pasolini eram sutis demais para os não iniciados no assunto.

Rei dos Reis

Não sei se foi mera coincidência, Rei dos Reis foi dirigido por Nicholas Ray, um ator/roteirista/diretor perseguido pelo FBI, sob suspeita de afiliação ou simpatia com o partido comunista. Outro aspecto intrigante da produção foi a voz de Orson Welles narrando o filme, outro perseguido da comunidade de cineastas. Welles não recebeu crédito por isso. George Couloris, que foi do grupo Mercury Theater e que filmou Cidadão Kane, também participa do filme, embora em papel secundário.

Quem já assistiu e/ou analisou Cidadão Kane provavelmente irá reconhecer alguns dos enquadramentos de perfil usados em Rei dos Reis, como este mostrado abaixo:

image001 1

Rei dos Reis foi filmado no processo Super Technirama 70, que usava negativo em 35 mm, rodando horizontalmente na câmera, com tração de 8 perfurações para cada quadro. O processo iria usar lentes anamórficas, aumentando assim a área de captura e projeção. Depois, o fotograma comprimido iria reverter a compressão para a manufatura da película de 70 mm, retificada quando usada para projeção em tela de Cinerama.

image002

O formato também se prestava para cópias em CinemaScope, como foi, aliás, exibido no Brasil na época do seu lançamento nos cinemas Metro.

Jeffrey Hunter foi indicado por John Ford a Nicholas Ray para fazer o papel principal. A sua personificação é quase perfeita, porque Cristo pregava o amor e a fraternidade, mas também com alguns momentos de severidade frente a algumas confrontações, uma delas do apedrejamento de Maria Madalena, chamada de prostituta pelos hipócritas locais.

Jeffrey Hunter mostra com perfeição a candura e o amor que o papel exigia, na expressão do seu olhar, mostrado no filme em um super close-up. Na época, ele declarou que só se deu conta da importância do papel quando já estava atuando no filme. Mas, alguns críticos da época criticaram a sua participação no filme, chamando-o de “Cristo adolescente”, minimizando assim o esforço do ator.

Jeffrey Hunter ainda conseguiu fazer muita coisa no cinema e para a TV, mas morreu cedo, aos 42 anos, vítima de um acidente grave. Menos sorte teve a jovem atriz Brigid Bazlen, no papel de Salomé, que só conseguiu fazer 3 filmes, e morreu de câncer aos 44 anos.

Apesar da super produção e dos cuidados da realização, Rei dos Reis está repleto de gafes, a maioria delas listadas pelo IMBd. Basta dizer que Cristo fala em seguir o que está nos Evangelhos, mas os seus discípulos ou testemunhas da época, creditados pela autoria dos mesmos, só o colocaram em palavras muito tempo depois da morte de Cristo. Até então, era o Velho Testamento que estava na ordem do dia. Cristo, aliás, subverteu alguns ensinamentos desse Testamento, fundando assim as bases doutrinárias de uma nova religião. Uma dessas subversões foi a da mudança da imagem de Deus, que de vingativo passou a um ente com amor pela humanidade, e que vive dentro de cada um de nós.

Rei dos Reis apresentou uma belíssima e eloquente trilha sonora, composta pelo húngaro Miklós Rózsa, que fez também a trilha de Ben-Hur para a M-G-M. A trilha é realçada no filme pela apresentação do formato, com 6 trilhas de som estereofônico.

Quanto a Nicholas Ray, o diretor sempre foi visto na ala dos “rebeldes”, usando às vezes temas polêmicos. A sua última e memorável aparição em filmes foi no musical Hair, de Milos Forman, no papel do general que se dirige às tropas, cena debaixo do maior deboche.

A tradição Católica

A minha família era Católica, por isso a Semana Santa sempre foi uma época especial. Meu pai, quando morava em Santos, São Paulo, foi perseguido e preso durante a ditadura de Getúlio Vargas. Eu nunca soube por quê, mas eu sei que ele acabou achando abrigo nos Carmelitas, e quando a minha família veio para o Rio, o meu pai se tornou Irmão da Ordem do Carmo da Lapa, igreja esta não sei se foi tombada.

As famílias Católicas da minha época de menino frequentavam as missas dominicais, com confissão e comunhão. E a época da Páscoa se tornou muito importante, por causa do rito da missa, que evoca os momentos finais do Cristo, com a lembrança da chamada “Última Ceia”, onde Cristo repartiu o pão e o vinho.

O suplício do Calvário é citado literalmente no filme As Sandálias do Pescador, que inaugurou o Metro-Boavista e o seu soberbo sistema de projeção em Dimensão 150. No Calvário, Cristo foi humilhado, torturado, flagelado, coroado com espinhos, e depois obrigado a carregar uma pesada cruz, que acabou no fim se tornando o principal símbolo do Catolicismo.

Para os Católicos, a Páscoa é também uma época de alegria e de esperança, daí a tradição de presentear as crianças com os ovos de Páscoa. As famílias se reúnem no domingo para consumar esta celebração. Os meus conhecidos não Católicos se juntam a esta celebração, por motivos que desconheço, mas talvez por se tratar de uma maneira de reunir as famílias.

De resto, a Páscoa nos lembra daquilo que nós Católicos entendemos com a extensão da vida na busca do Paraíso. É uma pena que nós só vamos saber se ele existe e se somos merecedores de chegar a tal lugar, quando passarmos dessa para melhor. Até lá, a única solução é manter a fé! Outrolado_

 

. . .

Nada de Novo no Front

 

As mensagens do filme A Ponte Para Terabithia

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *