O álbum de figurinhas da Copa do Mundo, em papel

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Antes de mais nada, não gostaria que este texto me transformasse em um herege.

Bem, sou um entusiasta do mundo digital, me surpreendo com as mudanças sociais e comportamentais (para o bem e para o mal) que a digitalização da vida trouxe às gerações que aí se encontram.

Inclusive palestro falando dos nativos digitais (odeio expressões-clichê) e da quebra de paradigmas (outro clichê) relacionado ao valor da propriedade intelectual, ou seja, do fato de que cada vez mais é inadmissível para eles terem que pagar por um conteúdo digitalizado (livro, música, filme), desconsiderando os aspectos jurídicos ligados a isto.

Em um mundo cada vez mais formado de bits e bytes, surpreendo-me quando vejo (no meio digital) a movimentação em torno do álbum de figurinhas da Copa do Mundo; “crianças” de 7 à 47 anos visitando diversas bancas de jornal em busca das tais figurinhas, a ostentação sobre a pose de algumas versões “prateadas”, jornaleiros limitando a compra à 5 pacotinhos e aquele escambo que não via há pelo menos 20 anos.

E logo, penso, como assim um álbum de figurinhas, físico, em papel, gera tanto engajamento (expressão-clichê novamente) das pessoas?

Claro que o pensamento “futebol”, “copa do mundo”, “Brasil”, “vamos sacanear os argentinos” é uma combinação bem sucedida por si só, contudo, a primeira pergunta de alguém totalmente imerso no mundo virtual poderia ser: “Não ficaria mais fácil fazer um álbum virtual?”, um hotsite, um aplicativo no iPhone, quem sabe no iPad (mais um clichê?)…

Justamente aí está a razão pela qual este álbum está concentrando a atenção de tantas pessoas, o princípio da incerteza; não, não a relacionada à física quântica, mas à emoção associada à incerteza de se saber que figurinha virá naquele desejado pacote de R$ 0,75, aliado à busca pelo objetivo de se completar o álbum todo, da África do Sul ao Uruguai para no final.. bem… nada! Para no final, acabar.

Uma rápida busca na internet sobre o assunto me trouxe um link no Mercado Livre, onde um renomado vendedor oferece todas, eu disse TODAS, as figurinhas da Copa do Mundo a um preço relativamente alto (R$ 1,00 por cada figurinha de jogador, R$ 2,00 pelos brasões e as prateadas com preço “sob consulta”).

Imaginemos uma situação onde todas as pessoas pudessem simplesmente comprar as figurinhas que desejam para completar seu álbum, neste cenário seria a coleção tão valorizada? Certamente não.

O sucesso do produto vem do fato de não se ter controle sobre a aquisição do conteúdo, sua manipulação ou distribuição; justamente por esse motivo um álbum digital teria poucas chances de alcançar a mesma exposição, dependendo da forma como as tais “figurinhas” seriam disponibilizadas.

Em pouco tempo, algum cidadão descobriria uma forma de “desbloquear todas as figurinhas online”, e, com isso, perde-se a falta de controle e expectativa sobre o conteúdo, inerente à atual distribuição física. O desafio em se completar a coleção, e não a coleção em si, é o principal fator de engajamento.

Seguindo esta linha de pensamento, o tal cidadão no Mercado Livre ficará sem lances? Não necessariamente. A venda das números específicos (aliás, um dos potenciais compradores perguntava o preço total para se comprar 253 figurinhas) é feita a pessoas que têm outra motivação na coleção: parte (pequena) inspirada em ter todas as informações de um grande mundial de futebol, e outra parte (maior) buscando o status em ter o álbum completo.

Avaliando o que se pode fazer no mundo digital, basta uma visita ao Mypanini para ver uma interessante integração do assunto em dois meios distintos. No website é possível fazer upload de uma foto e criar sua própria figurinha. Centenas de pais orgulhosos de seus recém-nascidos e times de futebol aquém de amadores aproveitam para imprimirem a festa da Copa do Mundo com suas faces sorridentes.

Claro que se você perguntar para alguém que neste momento está colando aquela figurinha prateada da equipe da Costa do Marfim, existirão outros 638 motivos. [Webinsider]

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Avatar de JC Rodrigues

JC Rodrigues (@jcrodrigues) é publicitário pela ESPM, pós-graduado pela UFRJ, MBA pela ESPM. Foi professor da ESPM, da Miami Ad School e diretor da Disney Interactive, na The Walt Disney Company.

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19 respostas

  1. Olá, JC ! A troca de figurinhas ficou muito mais fácil para os marmanjos agora com a ajuda das redes sociais . Locais de encontros como o museus , shopping centers e praças se transformaram em verdadeiras tardes de diversão para os “jovens” de todas as idades , jovens que não desgrudam os olhos dos craques e que esperam guardar a cioleção e mostrar pra toda família . Um abraço

  2. meu irmão comprou 4 reais de figurinhas e não comsegiu achar a figurinha chave. é miuto dificio achar a figurinha chave, tem vezes que acaba as figurinhas, e agente gasta aquele denheirão todo pra nada. é,a vida não é façio.

  3. JC, deixa de ser chato.rsrss. GOstei do seu texto e fiquei impressionado com um encontro que rola na praça de um supermercado aqui na minha cidade. TOdo sábado mais de 100 pessoas se reunem para trocar figurinhas da Copa. Cara, é muito legal isso. Em um tempo de virtualização e falsas comunidades on-line, o despertar do poder de um album de figurinhas é incrível. Por isso eu digo que um album virtual não funcionaria e seria muito sem graça. Porque as figurinhas de papel se tornam objetos de fetiche e desejo e tiram crianças e pais de casa, em um sábado, para fazer escambo de figurinhas. Em pleno ano 2010, as pessoas estão interagindo em torno de algo físico e não virtual, olhando cara a cara e tendo contato humano. Temos que considerar que o album é tosco, o time da seleção está errado, mas mesmo assim mostra o poder que o futebol tem. Fiquei realmente muito impressionado e feliz de saber que essas coleções estão voltando.
    Ahh, não consegui completar meu album da copa de 90 e 94, frustração total.

    Abraços

  4. Realmente é muito interessante essa febre entre adultos e crianças para comprar e trocar figurinhas. Hoje vindo pro escritório vi 2 bancas de jornal com cartazes do tipo “Troca de figurinhas no sábado das 10h ás 16h”. Um pouco me lembra minha infância e adolescência quando tínhamos sempre muitos álbuns de figurinhas (faz uns 30 anos) e também alguma movimentação de compra, troca e principalmnte “bater bafo”. Mas nada que se compare ao frenesi atual. Será que esse fenômeno não pode ser motivado pelo “esfriamento” q existe nas relações online? Amigos a atividades virtuais são bacanas, mas será q as pessoas sentem falta destes relacionamentos pessoais descompromissados e ao vivo?

  5. Espetacular o tema. O que é melhor? Ver o Jornal Nacional com as notícias escolhidas pela emissora ou acessar o site da própria, e ler o que quiser? Liberdade, o que fazer com ela ….

  6. Concordo com tudo o que foi dito no artigo. Entretanto, não podemos comparar a “expectativa de não saber o conteúdo do produto” com algo relacionado à internet.

    Na internet, cada vez mais as pessoas estão querendo e conquistando o direito de adquirirem exatamente o que querem. Se o título de um suposto artigo não tiver na a ver com o artigo em si, o leitor não vai estar feliz com “a surpresa do conteúdo”. Ele vai ficar muito chateado.

    Então, são duas formas diferentes de interesse das pessoas. O mundo físico das figurinhas de papel e o mundo digital, onde as pessoas não querem ser surpreendidas com conteúdo pelo qual não estavam procurando.

    No mundo físico pode funcionar, na internet não.

    Abraços.

  7. Completar o álbum este ano ficou muito mais fácil com a ajuda de tantas comunidades, porém um site se destaca pelo ótimo serviço.

    http://www.trocafigurinhas.com

    O site gerencias as figurinhas e seleciona as melhores trocas, permite ainda que os participantes qualifiquem as trocas e muito mais. As trocas vão pelo correio.

    Fica a dica para quem quer completar o álbum. O site é fácil de usar e bem divertido.

    Abraços.

  8. Bom, só alertando ao pessoal que querem “comprar” as figurinhas que faltam, basta fazer uma solicitação a panini com o numero das figurinhas que faltam. A quantidade mínima é de 40 figurinhas sendo cobrado uma taxa de 5 reais para envio.

    Existe uma página dentro do album explicando como
    comprar/solicitar.

  9. Realmente é muito interessante essa febre entre adultos e crianças para comprar e trocar figurinhas. Hoje vindo pro escritório vi 2 bancas de jornal com cartazes do tipo “Troca de figurinhas no sábado das 10h ás 16h”. Um pouco me lembra minha infância e adolescência quando tínhamos sempre muitos álbuns de figurinhas (faz uns 30 anos) e também alguma movimentação de compra, troca e principalmnte “bater bafo”. Mas nada que se compare ao frenesi atual. Será que esse fenômeno não pode ser motivado pelo “esfriamento” q existe nas relações online? Amigos a atividades virtuais são bacanas, mas será q as pessoas sentem falta destes relacionamentos pessoais descompromissados e ao vivo?

  10. Olá JC

    A panini sempre disponibilizou o serviço da aquisição de figurinhas para completar o seu álbum então creio que essa grande incerteza em se completar o álbum não o segredo de seu sucesso.

    O status e a afobação de um álbum completo é muito mas forte que a incerteza sobre as figurinhas em que se vai tirar especialmente se o colecionador já for adulto… já que ele sabe muito bem quantos cromos repetidos ele ira tirar dependendo de quanto o seu álbum está preenchido.

    Na minha visão existem dois fatores sociais muito importantes para esse sucesso que você não mencionou: 1 – hoje é permitido que adultos tenham brinquedos, isso é muito mais aceito socialmente do que a 15 anos atrás. 2 – Trocar as figurinhas é mais um ótimo motivo para encontros de amigos. Sejam amigos de infância, sejam amigos recém conhecidos de twitter (onde já se tem uma onda de trocas de figurinhas também)

    Ah, sem contar a força feminina, da mulher mais independente que hoje pode gostar de futebol também e provavelmente nunca pode colecionar um álbum destes quando pequena.

    E sim, eu estou colecionando e estou nessa febre de “vamos trocar figurinhas” rs; o que era bom quando pequeno e é muito melhor quando todo mundo está colecionando também!

  11. Meu pai coleciona o de papel e eu sou adepta do album virtual.
    O flash e toda a dinâmica é irada e viciante também.
    Marcelo Augusto, com o album virtual, caso consiga completar até a copa, vc concorre a 100 albuns completos com capa dura. Quem não gostaria de ganhar?

  12. Olá, gostaria de ressaltar a parte ‘dependendo da forma como as tais “figurinhas” seriam disponibilizadas’.

    O texto foi escrito antes da Panini/Fifa lançar a versão virtual do álbum que, nesta forma, sim, tem boas chances de alcançar uma exposição considerável, porém ainda pouco relavante SE COMPARADA à do album físico.

    abraços e obrigado pelos comentários!

  13. Boa tarde. A Panini até tentou fazer uma dinâmica semelhante à da troca presencial no álbum virtual: você ganha “pacotinhos” diários nos quais vem 5 figurinhas aleatórias. Você as divide em pilhas – uma de figurinhas a colar e outras para trocar. As da troca você pode relacionar numa lista para troca – ofereco x e quero y, e assim por diante. A dinâmica é semelhante, mas o que ganho por completar o álbum todo? Um print screen da tela com os “parabéns, você completou seu álbum”? Ou será que vou poder salvar um pdf?

  14. Tinha pensado em colecionar o álbum de papel, li na internet que estava difícil e ai veio o álbum da Fifa/Coca. Com receio comecei… tem um flashinho pra vc “rasgar” o pacotinho. SENSACIONAL, pura febre… entra lá e leia os comentários!!

  15. Olá, JC. Certamente outros leitores vão observar algo similar, mas sobre o trecho de seu texto “um álbum digital teria poucas chances de alcançar a mesma exposição”, vale observar que a Panini e a Fifa também disponibilizam uma versão digital: http://pt.stickeralbum.fifa.com. Com figurinhas aleatórias e possibilidade de trocas, além de códigos promocionais espalhados pelo site que revelam cromos inéditos. Repare que não é exatamente uma transposição do álbum papel, mas uma forma de aproveitar, ainda que timidamente, outro tipo de relacionamento usando esse mesmo formato. Aliás, este link pode ser um belo pretexto para uma atualização – ou mesmo um novo artigo sobre o tema, não? Abraços!

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