O dilema da Vivo

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Uma notícia publicada no Yahoo News me chamou a atenção. O artigo retrata bem o dilema em que a Vivo se encontra. Desde a consolidação do GSM no Brasil e no mundo, tenho cá minhas dúvidas da capacidade de crescimento da Vivo no Brasil. Apesar de estarem sempre anunciando um aumento de sua base de usuários com massivas propagandas na mídia, seu market share vem caindo há um bom tempo.

Difícil tentar entender as razões pela qual a Vivo escolheu o CDMA no Brasil, quando suas duas empresas–mãe usam o GSM na Europa. Sim, tanto a Telefônica quanto a Portugal Telecom adotaram na Europa o padrão GSM. O que nos resta fazer para tentar entender é parar por um momento e nos remeter à época da escolha da tecnologia CDMA.

O CDMA é um padrão criado nos Estados Unidos. Em termos de tecnologia existe um histórico que mostra que a América Latina costuma adotar padrões americanos. Não é uma regra, mas no próprio mercado de telecom a tecnologia TDMA adotada por diversas operadoras de banda A e B no Brasil no começo da era digital era a mesma adotada nos Estados Unidos.

Esta pode ter sido a razão que levou a Vivo a optar pela tecnologia. Mas com o passar do tempo ficou cada vez mais nítido que a escolha não foi inteligente. Mas não é só. Além do CDMA, a Vivo entrega a cada um de seus usuários um celular que também tem uma banda analógica. Isso significa que ao usar a rede analógica em locais não cobertos pelo CDMA, os usuários estão sujeitos a todo tipo de problemas do passado, incluindo a tão preocupante clonagem. Que fique registrado aqui, não existe nenhum caso de clonagem de celulares GSM no mundo. Isso mesmo, no mundo!

De qualquer forma, independente das razões que levaram a adoção do CDMA, a Vivo hoje se mostra no que podemos chamar de sinuca de bico. Por ser especialista em telecom, tenho que assumir que o CDMA tem diversas vantagens técnicas em relação ao GSM e que as redes de dados do CDMA são, em geral, mas velozes que as do GSM. Mas o GSM é imbatível no principal quesito: o usuário final.

As vantagens comerciais do GSM sobre o CDMA são tamanhas que a competição chega a ser desleal. Fora a questão da clonagem, um outro fator extremamente importante a se considerar é o roaming nacional e internacional automático. Veja bem, o GSM é um dos principais colaboradores do efeito Aldeia Global.

Os preços das chamadas em roaming internacional têm caído muito, a ponto de usuários comuns como eu e você podermos fazer e receber algumas chamadas sem esperar uma conta impossível de se pagar. Calma, não vá se entusiasmar assim; eu disse algumas chamadas. Mas é um marco importante em termos de usuários de classe média.

Seu número GSM é internacional e você pode receber e fazer chamadas, receber e enviar torpedos e em diversos casos inclusive navegar na rede de dados em qualquer lugar do mundo em que exista um acordo de roaming de sua operadora com a operadora local. E esses acordos são cada vez maiores. Ou seja, a chance de conseguir conversar com seu celular em outro país é muito grande.

O CDMA pode até permitir o roaming internacional com o mesmo número, mas como fazer isso no mundo inteiro se as redes CDMA estão restritas em sua maioria aos Estados Unidos e alguns países da Ásia? Como fazer e receber chamadas com seu celular CDMA na Europa? Não existe CDMA na Europa, então não existe roaming automático por lá.

O que a Vivo faz é usar um celular GSM e encaminhar as chamadas do seu número CDMA para o celular GSM que você leva na viagem. Ou usar um celular especial que é CDMA e GSM ao mesmo tempo. Mas, da mesma forma, será preciso fazer e receber chamadas usando um número GSM. Entenderam a complexidade da coisa? Mas prefiro não comentar a praticidade e comodidade da solução encontrada pela Vivo, cada um que faça seu juízo de valor.

Outra vantagem singular do GSM é o SIM Card, que no Brasil costumamos chamar de chip. O SIM Card guarda seu número e sua identidade. Ou seja, na realidade o SIM Card pode ser considerado como sendo “o verdadeiro telefone celular” na tecnologia GSM. Ele representa sua identidade em qualquer aparelho em que esteja. Seu número e sua agenda estão sempre com você, mesmo quando mudar de aparelho.

Pense agora em termos de soluções corporativas. Basta colocar o SIM Card dentro de um modem ou GPS ou câmera de vigilância ou medidor de energia ou qualquer coisa que sua mente consiga imaginar. Faça o teste você mesmo. Pense numa coisa absurda e vá ao Google fazer uma busca e muito provavelmente encontrará um equipamento GSM que consiga resolver sua necessidade.

Outra dica é fazer uma visita ao site GSM World para entender a penetração do GSM no mundo e a facilidade que usuários dessa tecnologia terão em fazer roaming em qualquer lugar. O site exibe um contador que mostra o número de assinantes GSM no mundo. Atualmente são 1.960.196.150. Isso mesmo, quase dois bilhões. E no Brasil á proporção entre GSM e CDMA também é favorável o GSM.

Essa escala de usuários garante que os custos de utilização da rede GSM caiam cada vez mais em termos globais. Ou seja, no médio e longo prazos, a redução de custos no GSM acaba por contribuir para aparelhos mais baratos e, possivelmente, chamadas e serviços mais baratos. No caso do CDMA, além da reduzida quantidade de usuários, existe também a questão dos royalties. O CDMA é um padrão proprietário e isso implica no pagamento de direito de uso. Situação inversa acontece no caso do GSM, que é um padrão aberto e não envolve pagamento de direitos de uso da tecnologia. Tudo que se precisa fazer para adotar o GSM é seguir as especificações.

Resumindo, as alternativas da Vivo são poucas e muito complicadas. Migrar toda a estrutura para o GSM é completamente inviável. Fora a questão de custos, geraria um enorme transtorno para os usuários existentes. E, como ressalta bem o artigo que citamos no início, causaria um desgaste na imagem e oscilação negativa nas ações da empresa.

Manter tudo como está representa um problema também, já que os usuários estão cada vez mais entendendo as vantagens do GSM. A própria economia gerada em torno do GSM é algo absurdo. Hoje temos desde vendas de aparelhos usados como serviços de desbloqueio e toda sorte de serviços ligados a essa tecnologia.

No fim, fica a lição de um diálogo que presenciei entre duas senhoras e uma atendente numa loja da Vivo. Elas perguntaram para a atendente se ali elas poderiam comprar “aquele celular que vem com chip”. A atendente disse que não e quando ia começar a explicar as tais vantagens do CDMA as duas viraram as costas e foram embora. [Webinsider]

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Vladimir Campos é escritor. Veja mais sobre ele.

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4 respostas

  1. Pingback: Techbits
  2. Com relação ao sistema GSM anti-clonagem, tenho um caso de clonagem do gsm aqui. Tenho um colega que possui aparelho GSM Oi com a promoção 31 Anos de graça de Oi para Oi nos fim-de-semana, e a linha dele apresenta problemas para ligar, saia de área no raio da antena. Foi até a operadora e saiu de lá com a noticia que a linha dele estava sendo usada em outra localidade: FOI CLONADA. Já resolveram o caso do sistema para o chip dele, mas o caso está na justiça. É como Mitnick disse: um sistema seguro é um sistema desligado.

    Espero que os sistemas WCDMA e UMTS não demorem a aparecer aqui no Brasil.

  3. Bom, levando-se em conta que o texto foi escrito em maio/06 agora já sabemos que a Vivo investirá numa rede GSM/EDGE e futuramente migrará para WCDMA.

    Se você não pode com o inimigo, una-se a ele.

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