Blogs são pauta, mas não fazem notícia

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A nossa blogosfera ainda não desafiou a elite da mídia nacional pelo domínio da esfera pública. E talvez isso nunca aconteça. Antes de atacar o tema, vale a pena definir sobre o que estamos falando. A ferramenta blog pode ser usada como um arremedo da mídia tradicional para fazer broadcasting, a chamada comunicação de um para muitos.

É o caso do profissional da mídia que apura informação da maneira tradicional e transmite pela web. Ele continua sendo o gargalo, o que escreve, a parte ativa em relação aos muitos leitores que não têm o mesmo poder de alcance.

O outro tipo de blogueiro é o que usa da ferramenta como o neurônio: ele estabelece ligações com milhares de outros e seu diferencial não está nos contatos, mas em como ele reprocessa a informação servindo ao mesmo tempo como distribuidor e comentarista. Ele não é o profissional da mídia, mas o interessado em outro assunto com acesso à mídia.

Existem blogs que se tornaram famosos no Brasil. Alguns deles são de figuras conhecidas da mídia como Ricardo Noblat e Juca Kfouri. Para eles, o blog é uma alternativa aos veículos tradicionais, um canal de contato direto com o público, tanto para publicar textos, como para receber feedback e informações da audiência.

Outro tipo de blog é feito ainda por grupos específicos, pessoas ligadas à tecnologia e comunicação, com idade entre 20 e 40 anos. Estes, sim, funcionam integralmente como um novo veículo por estarem ricamente interconectados e “digerirem” informações.

Para considerar o blog enquanto mídia diferenciada, estou me referindo ao segundo caso (os interconectados) que pressupõe a comunicação de duas vias entre usuários participativos, que lêem e escrevem, e não o ambiente em que poucos escrevem e muitos lêem.

Amadurecimento

No Brasil, os blogs começaram a aparecer no finalzinho da década passada. Se por um lado tivemos a vantagem de receber a tecnologia pronta e conhecer sua aplicação por conta dos exemplos internacionais, por outro temos um público de internautas bem menor, sendo que uma fração maior dos nossos usuários apresentam dificuldades para compreender textos e se expressar por escrito.

Entre os usuários brasileiros capacitados para tirar proveito da ferramenta, apenas uma parte entende que essa nova mídia funciona de maneira diferenciada, que ela permite ao mesmo tempo a formação de comunidades (pela comunicação de duas vias como o telefone) e a interlocução com audiências (pela comunicação de um para muitos como a TV).

Aqueles têm mais opções para aplicar a mídia a suas profissões, hobbies, bandeiras políticas ou causas sociais, são aqueles que descobriram o canal. Mas as aplicações são restritas às demandas e estímulos do ambiente escolar e social.

O amadurecimento da blogosfera brasileira vai acontecer na medida em que esses dois públicos se encontrem e que os estudantes e jovens profissionais assumam mais espaço e responsabilidades na esfera pública e no mercado de trabalho.

No médio prazo, isso pode acontecer de maneira total ou apenas parcial. É possível que essa transição de fase se complete pela incorporação do blog como parte ativa da condução dos debates públicos, mas também é possível que o caldo não dê liga e a influência dos blogs fique limitada a segmentos específicos de usuários.

Por enquanto, a influência do blog na mídia brasileira existe prioritariamente enquanto tema de pauta na medida em que os veículos locais repercutem notícias européias e norte-americanas. [Webinsider]

Juliano Spyer (www.julianospyer.com.br) é mestre pelo programa de antropologia digital da University College London e atua como consultor, pesquisador e palestrante. É autor de Conectado (Zahar, 2007), primeiro livro brasileiro sobre mídia social.

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7 respostas

  1. Juliano, perfeito seu artigo! vivo esta disparidade, acompanho ela no meu dia-a-dia e achava que estava ficando louca (hehehehe…) ótimo poder ler isso… mas eu acredito numa vertente que começa em ONGs e pode começar a mudar este cenário desde que haja expansão por meio de política pública – e nop brasil política geralmente ~só fica no papel – mas falo isso pq venho elaborando algumas reportagens de laboratórios de informática e os alunos estão blogando seus trabalhos em redes fechadas pq o blog é um recurso de um site, que patrocina a idéia, mas a inciaitiva veio de fora , do professor estimulado pelo aluno. achei bárbaro quando entrevistei os alunos e O PROFESSOR porque tem a ala dos resistentes…mas voltando á imprensa, acho que a blogosfera inteligente, de boa qualidade, influente tem uma certa culpa nesse processo pq ainda é o repórter preguiçoso – é bom que se diga – que faz a pauta e ele é obrigado a dar uma bisbilhotada nas redes e, eis aí a oportunidade que se perde…não vejo os blogueiros cientes da importância de construir suas referências pelo coletivo e não só por si próprio. é preciso colaboração dentro da blogosfera de quem pode ser o elo entre blogs e não os blogs e a imprensa…mas isso só se faz a partir do coletivo…eis aí mais um desafio da colaboração…pode ter um caminho diferente que o tradicional? não sei, mas acho que há um diferencial: informação tá andando … quem sabe uma hora chega naS pessoaS certaS…PARABÉNS!

  2. A t?falada maturidade dos blogs n?vai chegar t?cedo. Digo isso devido em parte ?onetiza? dos blogs.

    A Web ?lobal, mas a ado? dos m?dos de publicidade online sem a devida adapta? ?ealidade nacional tem criado uma panela de bitolados onde a necessidade do lucro acaba por ditar a pauta.

    O efeito ?ercept?l pois os assuntos s?marolas de outros assuntos de repercuss? criados pela cadeia dos meios de comunica?, que prevalecer?por um bom tempo, gra? ??da adapta? (colunistas hoje s?blogueiros dentro e fora dos jornais. Os jornais continuam com seus pontos em notoriedade e autoridade sobre os assuntos. A menos que um blogueiro tenha passe-livre de imprensa pouco conseguir?m furos de reportagem). O que sobra al?disso s?temas replicados entre blogs comadres que n?ousam fugir muito da pauta oportunista dos adwords.

    Acredito que a tend?ia ? verticaliza? dos blogs (quem sabe passar?a se chamar blog$ no futuro…) ou a uni?de blogueiros que escrevem sobre assuntos diversos em canais, portais famosos ou coisa que o valha. At? esperada maturidade, viveremos a imitar os estrangeiros sem saber porque n?vingamos.

  3. Muito obrigado pelos comentários.

    Não concordo que no Brasil os blogs atinjam as pessoas que sabem ler. Ela atinge leitores, predominantemente jovens e com alguma experiência utilizando a rede. Sou historiador e muitos dos meus colegas inteligentes e críticos, entre 30 e 40 anos, não usam blogs como plataforma para debater idéias e notícias.

    O objetivo do artigo foi refletir sobre o motivo dos blogs aparecerem tanto nas capas de revistas e nos jornais no Brasil. Minha percepção é que a imprensa brasileira fala de blogs na onda da imprensa americana. E não por experiência própria porque ainda não sentem que a blogosfera a intimide / questione / contradiga / combata.

    No artigo, não disse que os blogs não são influentes, mas que eles ainda não saltaram de fase para atingir um público maior, se tornando um acessório universal entre usuários da Web como é o email.

    Quando falo em salto de fase, me refiro, por exemplo, à disseminação por blogs das declarações racistas do ex-lider do governo no congresso americano, trent lott. A imprensa estava cobrindo o evento, mas por conveniência política decidiu não divulgar. Os blogs reverteram a situação e lott teve que entregar o cargo de líder.

    Aqui no Brasil, não vejo os blogueiros furando a imprensa estabelecida por sua influência junto à opinião pública. Pouco se fala nos jornais e nas revistas da relação dos bancos com a chamada Lei Azeredo de monitoração da Internet. Na internet o assunto está pegando fogo, graças aos blogueiros. Mas a opinião pública ainda depende / acredita / se contenta com a informação dos veículos tradicionais.

    Ainda assim, concordo que os blogs tenham um poder de pressão, mesmo não vazando para a sociedade maior. As pessoas que usam esse veículo sabem se expressar e graças à internet expandiram suas redes de interlocutores. Além disso, a informação lançada na rede se torna pública, o que já cria é motivo para preocupação por parte de quem controla atualmente a esfera pública.

    Escrevi o artigo muito rapidamente, mas a base de sua reflexão ecoa as idéias publicadas neste livro: http://www.benkler.org/wealth_of_networks/index.php/Main_Page

  4. Blog são influentes sim. Eles fazem o que tem que fazer, e atingem as pessoas certas: brasileiros que sabem ler.

    Esse fato faz deles tão exclusivos quanto a TV fechada. Ou até mais.

    Quando um brasileiro que nao sabe ler tenta entrar nesse tipo de interação é facil de identificar. Os trolls e miguxos estão aí pra provar isso

  5. Eu confio mais em pequenos escritores de blog do que grandes redatores que algumas vezes são pagos para falar bem de algo, fazer propaganda de determinado produto ou tentar levar um certo público alvo a um pensamento que lhe seja mais conveniente.

  6. Considerações interessantes, entretanto, não me parece adequado atribuir à esfera pública um valor unicamente político.

    Cidadania e responsabilidade podem pautar blogs, mas não devem ser as únicas referências. Assim como nas mídias tradicionais há espaço para entretenimento, nos blogs também deve-se levar em consideração tal possibilidade.

    A deliberação pode ocorrer independente da temática das mensagens. Concordo quando você diz sobre usuários interconectados, e os blogs como mídia diferenciada.

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